16 de maio | 2021

A poesia de Ana Martins Marques atesta que as palavras são capazes de tudo: de absorver o que está ao redor

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Italiana

Tataraneta de italianos, a escritora Raphaela Barreto desenhou a história da jovem Antonieta, a Nita, e a saga da família de emigrantes baseada nas memórias trazidas pela avó. “Italiana” remonta ao Século XIX, período em que muitos italianos partiram para o Brasil em busca de oportunidades, atraídos pelos convites estampados em cartazes e panfletos. Com as condições de vida precárias na Itália – e um quarto filho a caminho –, a família decide então embarcar rumo ao Brasil para trabalhar nas plantações de café. Partindo do porto de Gênova, o destino era Ribeirão Preto. Uma viagem de 29 dias que, para a primogênita Nita, representaria um marco não apenas por deixar sua terra natal. Com o passar dos dias, Nita se aproximava cada vez mais de Luca, um dos amigos que fez a bordo do navio. Prestes a completar 16 anos, a jovem estava encantada pelo belo rapaz, um cavalheiro nato que se tornou a melhor companhia para conversas e passeios, sem medir esforços para conquistar o coração da italiana. O romance promissor cede lugar às incertezas sobre o que aconteceria após o desembarque no Brasil: se permaneceriam ou não juntos. O enredo potencializa as angústias dos protagonistas quando um terceiro componente entra em cena: um casamento arranjado pelo pai de Nita. Ela irá honrar o desejo de sua família ou seguir seu coração? Inspirado em fatos reais, “Italiana” diferencia-se como um dos raros romances de época ambientados em solo nacional. Cenário perfeito para uma história de amor que atravessa continentes para encontrar seu desfecho em meio às fazendas cafeeiras e ao processo de industrialização do país, protagonizado pelos colonizadores europeus. O livro tem 292 páginas.

 

Risque Esta Palavra

A poesia de Ana Martins Marques atesta que as palavras são capazes de tudo: de absorver o que está ao redor – na tentativa de compreender o mundo –, mas, sobretudo, de criar novos mundos. Em seus versos, que nascem da observação e da curiosidade, a linguagem às vezes serve para pensar. Outras vezes, as palavras são deixadas de lado e dão lugar a um “buraco cheio de silêncio”. E então a poeta conclui: “um poema não é mais do que uma pedra que grita”. Em “Risque Esta Palavra”, uma das vozes mais celebradas da literatura hoje cria uma espécie de inventário de experiências afetivas. Com clareza, inquietação e extrema habilidade, Ana Martins Marques mapeia os encontros e desencontros, a paixão e o luto, e prova que “quase só de palavras se faz o amor”. Com 120 páginas, o livro é da Editora Companhia das Letras.

 

 

 

 

 

Guignard: Anjo Mutilado

A obra de Alberto da Veiga Guignard – em especial suas paisagens de Minas, as reais e as imaginárias – é um dos pontos altos do modernismo no Brasil. A sólida formação europeia, conquistada ao longo dos anos entre Alemanha, França e Suíça, e o lirismo de suas pinturas destacavam o artista de seus pares. Sua vida, porém, foi marcada pela instabilidade e a solidão. Portador de uma deformidade no rosto que afetou suas relações sociais desde a mais tenra idade, o “anjo mutilado” – como o chamou o poeta Manuel Bandeira – recebeu essa alcunha por sofrer de caso severo de lábio leporino, deficiência que afetava, sobretudo sua fala. Era, então, com sua arte que Guignard comunicava o que seria incapaz de elaborar num discurso. Nesta extensa e detalhada pesquisa para a reconstrução da biografia do pintor, com narrativa tão envolvente quanto à ficção, Marcelo Bortoloti faz um retrato histórico da Europa entre guerras, do Brasil Modernista e de um artista cuja obra comprova as dores e as alegrias de ser diverso. Com 488 páginas o livro é da Editora Companhia das Letras.

 

Aqueles Olhos Verdes

O ano é 1938. Vicente Meggiore pede ao irmão, José Reis, que o encontre no Estádio das Laranjeiras. O motivo, logo se descobre, não era assistir ao Fluminense dando uma volta olímpica pela conquista do bicampeonato. Vicente precisa que o caçula escolte um fugitivo do governo de Getúlio Vargas a um local seguro, até que a situação política se acalme. Zé Reis não gosta do envolvimento do irmão com os “camisas-verdes”, mas, como lhe devia favores, resolve ajudá-lo. O leitor é levado, então, para uma fazenda no interior do Rio de Janeiro – palco central da vida de Zé Reis, onde ele receberá figuras como Plínio Salgado, Zizinho, Dori Kürschner e Chiquinho do Acordeon. Encantado com as pessoas e a natureza da região, Zé Reis mergulha na cultura local e exalta suas tradições. Em uma via de mão dupla, ele também cativa os moradores da cidade. Conhecido pelos imensos olhos verdes e por sua paixão pelo futebol, ele arrebata seus ouvintes com suas aventuras fora do cenário interiorano. Zé Reis é uma homenagem de José Trajano ao avô, que, assim como o personagem, gostava de cavalos e frutas e era um proseador de primeira – só não ligava para futebol. Com 240 páginas, o livro é da Editora Alfaguara.

 

 

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