29 de junho | 2008

Desigualdade social e desvalorização do ser humano podem levar ao crime

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 A desigualdade social e a desvalorização do ser humano em muitos casos, atualmente sem condições de empregos rebaixando o nível de vida, podem levar pessoas a prática de crimes. Isto, na avaliação do advogado Oswaldo Antonio Serrano Júnior (foto), mesmo com o assistencialismo que comumente se vê em todos os níveis de governo, muitas vezes dando comida e até moradia ao cidadão, mas, por outro lado, esquecendo que a dignidade é também importante para o bem estar das pessoas.

"São pessoas – segundo ele – que têm um nível mais baixo e vivem, praticamente, de esmolas de prefeituras ou de auxílios como cestas básicas ou mesmo bolsas famílias. Você dando o que comer a elas (pessoas), mas não tendo seus empregos não se valorizam. Isso contribui para que passem à pratica de delitos na forma como vem crescendo e chegará a uma situação insustentável".

O aumento da criminalidade é uma situação tão complexa que envolve tanto a parte social, quanto a educacional e mesmo religiosa. Serrano observa que além dos roubos, outros tipos de delitos também têm aumentado bastante. "Isso realmente é preocupante", assevera.

E assim como acontece nas discussões de vários temas que envolvem atitudes dos serem humanos como um todo, também neste caso, até devido à complexidade, a falta de estrutura familiar também é apontada como primordial. A solução, entende Serrano, passa por ações que envolvem desde a educação que parte do berço familiar até à formação religiosa, independente de qual religião seja a praticada.

Emprego

A oportunidade de emprego como forma de valorizar o cidadão para que passe a dar valor ao salário que recebe, seja qual for o valor, é um dos pontos que aponta como solução, "para que se sinta útil e não se sinta uma pessoa desprezada".

Até mesmo a impunidade, não só da classe política, mas de pessoas com mais poder financeiro, Serrano aponta como uma causa a ser combatida. A exposição de fatos ligados a pessoas que não são punidas, faz com que outras, até mesmo em função da fome ou mesmo por outra situação, passem à pratica do crime, "acreditando também que não será punido".

Aos menos favorecidos, no entanto, a punição acaba sendo fator agravante para a vida futura. Serrano, que tem experiência de lidar com pessoas flagradas em delitos graves, explica que o Brasil não tem um sistema prisional que reeduque a pessoa para que volte a viver adequadamente em sociedade.

"Quando dentro do sistema ou a pessoa entra para uma facção ou será escravizada. Na hora que chega na cadeia vai ser um aluno do crime e entrar para uma facção criminosa e em pouco tempo se tornará um dependente do esquema e quando sair estará obrigado a cometer novos crimes para arrecadar dinheiro a essa facção", comenta.

Entretanto, comenta que a punição recai sempre nos mais pobres. "Quem tem mais dinheiro e está mais preparado consegue, através de advogados, manobras para não ir para a cadeia", explica.

Bola de neve

Uma "bola de neve", compara, lamentando que as instituições, Justiça ou o Ministério Público, "não percebeu ainda. Uma pessoa fica cinco anos presa e sai formada para o crime, porque o contato com criminosos perigosos e inteligentes faz com que ele seja mais um membro de uma facção".

O sistema educacional, por seu lado, para Serrano, depois que virou encargo dos municípios, se transformou em refém da política. "A pessoa recebe alimentação, porém, um estudo de baixa qualidade e sai (da escola) sem saber ler e escrever. É mais um que é jogado na sociedade que dependendo da sorte na vida. Ou se torna uma pessoa de sucesso ou mais próxima do crime, que é o que a gente vê bastante hoje". Serrano avalia que o crime é o principal problema a ser enfrentado no Brasil. Mas, por mais presídios que construam os espaços para criminosos tendem a serem sempre escassos.

A ausência da própria sociedade na discussão dos problemas sociais é um fator complicador. Comenta o advogado que enquanto uma situação não envolve a própria família, é comum que vire as costas, ao invés de colaborar demonstrando os valores da vida. "Será muito difícil contornar essa situação se não tiver empenho real de toda a sociedade e do governo", avisa.

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