26 de julho | 2009

Diminuição de vagas atinge até o mercado imobiliário

Compartilhe:

 

Os problemas sociais que surgem a partir da diminuição de postos de trabalho no setor da cana-de-açúcar atingem diretamente os trabalhadores, fazendo chegar até mesmo ao mercado imobiliário da cidade. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Olímpia, Sérgio Luiz Sanches, muitos deixam as casas que por ventura moravam de aluguel e vão dividir moradia com outras famílias, situação normal principalmente para quem vem da região nordeste. Uma grande parcela não consegue pagar nem mesmo as contas de consumo de água.

Os migrantes, segundo Sanches, chegaram a modificar seus sistemas. Se no início de tudo, quando o período de safra era menor, eles vinham e voltavam a seus estados de origem, com a expansão do período muitos fincaram residência em Olímpia.

Nesse caso o problema atinge também as condições de vida da cidade como um todo, porque esses que migram definitivamente para a cidade de Olímpia, por exemplo, trazem suas famílias que passam a utilizar todos os sistemas públicos, principalmente, na Educação e Saúde.

Mas com a chegada da mecanização, enquanto há os que se determinam a continuar no Estado de São Paulo, há também os que voltam a seus estados de origem. O presidente do sindicato explica que as dispensas têm sido rotineiras, mas, mesmo assim, há alguns que ainda vêm para a região em busca de trabalho.

Teve um grupo, por exemplo, que atuava em Guaraci, que já desistiu e voltou para o estado de origem. "Esse pessoal foi dispensado, que me procurou, e estava em Guaraci. São trabalhadores que faz cinco anos que viajam para Guaraci, fazem a safra e voltam para sua região. Os próprios trabalhadores chegaram aqui no sindicato e disseram que em Guaraci acabou. Até então nós vínhamos e tínhamos um cargo e nesse ano perdemos em dois meses de serviço", explica.

Reforça o presidente que se trata de trabalhadores que vieram e não conseguiram ganhar o suficiente, como acontecia em outros anos, e voltaram praticamente de mãos abanando. Esses trabalhadores já não têm mais perspectivas de voltar no próximo ano.

Mas a adequação tem acontecido ao novo sistema de safra, principalmente a partir da mecanização da colheita. Há casos de proprietários de ônibus que atuavam tanto no corte quanto no plantio da cana. Muitos já estão trabalhando apenas no plantio.

Qualificação

Por outro lado, de acordo com Sanches, qualificar profissionalmente esses trabalhadores não é uma tarefa fácil. As propostas, quase que sempre, não atingem a maioria desses trabalhadores. Muitos deles não se permitem participar desses cursos. "A própria rejeição do trabalhador, porque muitos não têm cultura e às vezes não sabendo ler e escrever, se sentem envergonhados e não têm interesse de fazer", justifica.

Mas o presidente alerta que é importante para eles, até mesmo no momento em que vão cuidar, por exemplo, da emissão de uma carteira profissional. Porém, não enxerga a questão como uma solução definitiva.

"Imagine que uma máquina corta para 80 trabalhadores num terreno ruim. Num terreno menos acidentado vai cortar para mais de 150. Se você imaginar que vai qualificar três mãos-de-obra para fazer turnos de uma máquina e ela vai cortar para 100 trabalhadores, ainda ficarão com 97 desempregados", alerta.

Esse pessoal está tendo uma adequação entre eles mesmos, se agrupando numa só casa e mesmo assim enfrentando dificuldades. "Mas você sabe que estão vivendo numa situação muito limitada mesmo, trabalhando hoje para comer amanhã, infelizmente. Quem não procurar se qualificar vai enfrentar muitas dificuldades", avisa.

A situação é tão preocupante que o presidente alerta que hoje a cana já contrata menos que a citricultura. "Se colher toda a fruta que tem a tendência de contratação hoje, se pegar dois mil de cana a laranja vai ter 2,5 mil trabalhadores", afirma. Há cinco anos era cerca de 2,2 trabalhadores com aproximadamente 1,4 mil na cana-de-açúcar. Atualmente, somente a citricultura vem mantendo seus postos de trabalho.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas