05 de agosto | 2007

Enquete mostra que poucos entenderam objetivos do Fefol

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Colocar os principais temas da cidade em discussão com seus leitores ou mesmo pessoas comuns sempre foi o objetivo desta Folha. E, não poderia ser diferente com a chegada do 43.º Festival do Folclore (Fefol), a 9.ª edição depois do falecimento de seu idealizador, o folcloristas, professor José Sant’anna.

Entretanto, o resultado deste trabalho mostra os que entenderam que o principal objetivo foi o da preservação dos grupos folclóricos em sua essência, mesmo que sempre respeitando a modernidade que sempre se avizinha de qualquer ser vivo.

A reportagem procurou, em grande parte, entrevistar pessoas que tiveram relacionamento próximo do idealizador do Fefol, mas ouviu também professores e pessoas que talvez não tiveram oportunidade para entender profundamente a proposta que o professor José Sant’anna sempre defendeu.

À primeira pergunta elaborada todos afirmaram expectativas de um grande evento neste ano, alguns chegando a cobrar algo mais, no sentido de aproximar o festival de seu objetivo principal e inicial. Porém, foi elaborada uma outra, questionando se estas pessoas acreditam que o Fefol está correspondendo ao que foi proposto há 43 anos atrás.

O advogado e jornalista Silvio Roberto Bibi Mathias Netto, de 63 anos, que esteve bastante próximo de Sant’anna – por cerca de 30 anos – chegando inclusive a fazer parte de comissão executiva do evento, aponta vários motivos que o levam a crer que o evento atende o principal objetivo.

Um deles é que o professor Sant’anna deixou uma herança fabulosa e muito rica em pesquisas que fez. "O festival está pronto e acabado! É só as pessoas não estragarem e cumprirem à risca o que ele deixou. São textos muito ricos, são pesquisas científicas que atraem para cá folcloristas, antropólogos de todos o país. O mais importante é que no curto período de uma semana Olímpia consegue, através da cultura popular, desenhar o mapa do Brasil e nisso está a verdadeira importância do festival do folclore. Há que se destacar que o professor Sant´anna sempre priorizou o folclore autêntico, sem destacar a projeção folclórica. Acho que atualmente a comissão organizadora tem conseguido dosar, mantendo e preservando o folclore na sua autenticidade, mas fazendo também uma linda projeção daqueles grupos que estudam o folclore e depois projetam os costumes e tradições", disse.

O professor José Luiz dos Santos, de 53 anos, no entanto, que espera um pouco mais do Fefol, disse acreditar que o professor Sant’anna não teria aceitado grande parte do que é apresentado hoje: "Porque o professor, como nós conhecemos, sempre foi a favor do folclore tradicional, de acordo com as origens de cada povo. Ele fazia questão de que os grupos se apresentassem com as roupas simples que usavam em suas origens".

A professora Carolina Tamellini, de 27 anos, respondeu: "Acho que hoje não. Acho que ninguém vai para assistir dança, acho que poucas pessoas vão com vontade, que vão com aquele prazer que tinha, porque virou tudo muito social, e a cultura mesmo e a tradição foi esquecida".

Para a artesã Nilza Maria Gil Breda, o Fefol atende os objetivos: "Sim, está, mas só que esse ano vai ter um outro palco, fiquei sabendo e achei isso muito interessante, porque fica muito longe do público o festival em si, agora tendo lá em cima, acho que o pessoal vai aproveitar mais, e mesmo os grupos folclóricos que vêm de longe vão se sentir mais valorizados. Acho que tem que ter um contato mais próximo".

Pequena distância

O radialista Orlando Rodrigues da Costa, 50 anos, embora afirme que não entende como uma descaracterização completa, entende que tenha ao menos se distanciado um pouco do principal objetivo: "Acho até que dentro dessa dinâmica exigida para eventos para esses últimos tempos, a necessidade de se adequar a determinados parâmetros, houve mudanças consideráveis. No aspecto folclórico, as mudanças foram poucas. Houve um certo desvio, pequeno ainda, e espero que não aumente naquilo que havia sido traçado pelo folclorista José Sant’anna. Mas acredito que ainda responde aquilo que se propõe que é mostrar e preservar as nossas tradições culturais e populares".

Já o fotógrafo Paulo de Tarso Pereira comentou: "O Fefol ficou praticamente dividido em duas fases: Sant´anna e após Sant´anna. Acredito que o professor era uma das autoridades de nível nacional. Muito poucas pessoas tinham o conhecimento de folclore que ele tinha. Acredito que depois de seu falecimento o festival caiu e muito".

Para o produtor cultural Paulo Eduardo Vianna, de 41 anos, está havendo uma tentativa de transformar o festival em um produto, coisa que não concorda: "Temos que fazer o mercado entender a cultura popular e não podemos de maneira nenhuma transformá-la para atender aos mercados. Isso é um jogo que não podemos entrar. Os patrocinadores, a televisão, o rádio, os jornais têm que entender o que acontece e assim vamos preservar a cultura brasileira. Acredito que o professor José Sant´anna, infelizmente, não está entre nós, não deve estar contente lá no céu com o que ele está vendo".

Para o médico José Roberto Bijotti, acredita que não tem mais a idéia de divulgar simplesmente a cultura. Mas afirma que o evento mudou seu perfil e que isso vai de as mudanças que a sociedade vem encontrando. Foram formas encontradas tanto na organização, quanto na divulgação e em outros atrativos, uma maneira de você atualizar mantendo-se a tradição, mantendo-se as apresentações daqueles grupos mais antigos e tradicionais. As mudanças são saudáveis porque vão de encontro às que a sociedade vem encontrando".

O artista popular Edward Marques da Silva, "Wadão Marques", que além de músico é escritor e professor, afirma que o evento tem característica diferente do que era no início: "A gente tem também que levar em consideração que vários anos se passaram, vários fatos aconteceram e o folclore é uma cultura viva, dinâmica".

Para ele "é inocência acreditar que o folclore seja uma coisa morta, do passado, que está lá, que vai ficar lá repousando em berço esplêndido. O folclore acontece todos os dias, está sempre em movimento e de lá para cá realmente muita coisa aconteceu, hoje o festival é imenso, é enorme, o festival ganhou uma proporção até assustadora".

 

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