15 de maio | 2022

Folha tenta mostrar como vivem os moradores de rua em Olímpia

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OUTRO LADO DA VIDA!
Aproximadamente 10 pessoas ocupam o antigo galpão da Fepasa e os prédios do Bazar. “Com lágrimas nos olhos (um morador de rua), ressaltou que a vida prega muitas peças. Um dia estava por cima, ganhando razoavelmente bem, tinha até mordomias. E hoje luta por um prato de comida e tem dias que não consegue nada para comer”.


Após entrevista de mais de uma hora no programa Cidade em Destaque, pela rádio Cidade e redes sociais, em que o capitão Alessandro Roberto Riguetti, comandante da 2ª Cia da PM de São Paulo mostrou preocupação com o número crescente de moradores de Rua de Olímpia, o repórter Silvio Facetto foi escalado para tentar mostrar como seria a vida destas pessoas em dois pontos existentes apontados pelo Policial Militar.

A realidade chega a ser chocante. Hoje são aproximadamente 10 pessoas vivendo em dois pontos teoricamente abandonados em situação de miserabilidade: um antigo prédio da Fepasa que já foi depósito da antiga Janca e pátio de uma empresa de guincho e a edificação onde funcionou por décadas o antigo Bazar das Noivas.

Outras pessoas nesta situação podem estar residindo em outros lugares.

SEM APARECER POR MEDO
DE PERDEREM O LOCAL ATUAL

Em primeiro lugar, se faz necessário destacar que os moradores destes prédios abandonados não quiseram se manifestar abertamente, com medo de perderem o local onde vivem atualmente, como aconteceu com um prédio próximo ao trevo da Apae, que também estava abandonado e acabou sendo demolido.

O repórter Silvio Facetto conversou informalmente com alguns destes moradores e tentou mostrar a triste realidade que constatou com estes seres humanos esta semana.

No antigo galpão da FEPASA, na quarta-feira, dia 11, falei com um homem aparentando ter entre 40 e 50 anos, de estatura alta, magro, que disse que estava morando neste prédio há poucos dias e que anteriormente se abrigava no prédio onde funcionou o Open Mall, na Aurora Forti Neves, esquina com a Constitucionalista. No entanto, disse que foi informado por policiais militares de que precisaria sair de lá, pois em poucos dias o prédio seria demolido.

JOÃO BRIGOU COM FAMILIARES
E ABANDONOU O LAR

Teve que sair de lá para ocupar o antigo prédio da Fepasa, onde atualmente está morando com mais 2 pessoas, outro rapaz, e uma moça de aproximadamente trinta anos.

João (nome fictício), já que não quis se identificar, comentou que é natural da cidade de Campinas, e que há alguns anos veio morar em Olímpia, mas por desentendimento com familiares abandonou seu lar e foi morar nas ruas.

Ele comentou que se alimenta do que consegue de restos e sobras dos restaurantes, de populares e o que acha no lixo de um supermercado que fica próximo do local. Disse que ficou difícil se locomover e fazer “bicos” (trabalho esporádico) por causa de uma fratura no pé, causada por uma queda de uma parede, onde tentava retirar uma madeira do telhado do prédio onde mora para fazer uma fogueira para se aquecer do frio das noites.

FUGIU DO HOSPITAL ANTES DE
SER TRATADO POR FRATURAS NO PÉ

No dia que sofreu a queda, foi socorrido e levado ao atendimento médico, mas disse que ficou por dois dias esperando a cirurgia no pé, constatado que havia sofrido fraturas em três locais do pé esquerdo. Alega que ficou nervoso com a demora, e fugiu do hospital sem ter tratado das fraturas. Comentou que a noite passa muito frio, não tem energia elétrica e água para beber e nem tomar banho.

João disse ainda que conseguia alimento no albergue da cidade, mas que ultimamente não estavam dando mais porque estavam dando prioridade aos olimpienses.

A moça que habita no mesmo local, que também não quis se identificar e gravar entrevista comentou que estava com muita dor na barriga, com fome, sede, e que gostaria de tomar um banho e colocar uma roupa limpa. Disse que não tem esperança nenhuma na vida, que aquilo não era vida de gente levar.

BRENDA ABANDONOU
A TIA PARA MORAR NA RUA

Brenda (nome fictício) afirmou que era de outra cidade do Estado de São Paulo e teria vindo morar em Olímpia a convite de uma tia, mas com o passar dos tempos a tia começou a colocar regras na sua vida, o que teria gerado um conflito. Então, preferiu morar na rua para não aceitar os desaforos a que era submetida.

Já por volta do meio dia, da quarta-feira, Facetto esteve no prédio onde funcionou a empresa Bazar das Noivas, que também está sendo ocupado por famílias sem teto e não encontrou ninguém.

O repórter voltou ao prédio do antigo Bazar na manhã de sexta-feira, 13, para ver se conseguia falar com alguém.

Bati palma, para chamar atenção de quem estivesse dentro do prédio. Em determinado momento uma voz masculina perguntou quem era e o motivo de estar lá. Identifiquei-me e disse que gostaria de falar com os moradores do local para gravar uma entrevista.

DUAS FAMÍLIAS ESTAVAM
NO ANTIGO BAZAR DAS NOIVAS

A mesma voz disse que não queria gravar entrevista porque temia que isso pudesse prejudicar a estadia deles no prédio, alegando que quanto mais pessoas soubessem que eles estão ocupando o prédio, pior seria, pois com isso os obrigariam a sair de lá.

Perguntei em quantas pessoas estavam morando lá. Disse que em dois casais, ele e a esposa, mais o irmão e a esposa e que no local tem água encanada em funcionamento.

Retornei ao prédio da antiga FEPASA também na sexta-feira, para ver se conseguia uma entrevista, mais uma vez consegui contato com João, mas este se negou a falar abertamente.

PASSA MUITO FRIO DURANTE A NOITE

No entanto, alegou que precisa andar de 3 a 4 quilômetros todas as noites para conseguir sobras de comida em um restaurante que é o único que ainda aceita dar algo para eles comerem e divide tudo que consegue com outros três moradores.

Disse que tem grande dificuldade em caminhar esse longo caminho com o pé quebrado, a dor é insuportável. O seu pé está vermelho e inchado.

Está dormindo em um tapete e se cobre a noite com um cobertor fino. Alega que passa muito frio a noite.

João contou mais um pouco da sua história. Disse que no passado ficou preso por cerca de 28 anos, que já pagou pelos seus erros. Morando em Campinas SP, viu seu irmão sendo morto por traficantes com vários tiros da cabeça e resolveu fugir para Olímpia onde constituiu uma família e que só saiu de casa por não concordar com a gravidez da filha de 17 anos.

JÁ FOI ROUPEIRO DO TIME
DE BASQUETE DA HORTÊNCIA

Afirmou que tem hora que prefere morrer do que viver daquela forma. Comentou que é bem tratado pelos policiais militares que o encontram nas ruas.

Contou também que foi roupeiro do time feminino de basquete em que jogou Hortência e Paula. Complementou que trabalhou anteriormente na equipe de futebol da Ponte Preta, mas que posteriormente foi trabalhar com os times de basquete feminino da cidade, onde jogaram grandes jogadoras.

Com lágrimas nos olhos, ressaltou que a vida prega muitas peças. Um dia estava por cima, ganhando razoavelmente bem, tinha até mordomias. E hoje luta por um prato de comida e tem dias que não consegue nada para comer.

PRÉDIO COM MUITA SUJEIRA,
MAU CHEIRO E SEM ÁGUA E ENERGIA

O prédio onde está se abrigando é um galpão que tem aparência arquitônica antiga, muito alto, feito de tijolos de barro, com janelas e vitrôs grandes, típico prédio da primeira metade do século passado, que parte da parede já caiu. Numa sala menor, onde parece que era uma lavanderia, estão morando três pessoas. Muita sujeira, mau cheiro, não tem água e energia elétrica.

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