25 de junho | 2016

Justiça proíbe queima da cana e 10 mil podem perder empregos

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Da redação com TVTem

Uma situação que já há muito tempo vem sendo desenhada e que deixava claro que culminaria em uma crise social intensa, agora já está próxima de ser confirmada: as previsões que os mais realistas tinham em relação de como seria o destino de tanta gente que deixou seus estados para vir a São Paulo cortar cana-de-açúcar para abastecer as dezenas de usinas espalhadas pelo território paulista.

Isso porque o fato da Justiça Federal ter proibido a queima da palha da cana a partir do início deste mês, segundo a previsão do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Olímpia e Região, Sérgio Luiz Sanches, pode deixar cerca de 10 mil trabalhadores do setor sem seus empregos.

“Uma mão-de-obra que ainda não está qualificada e não está preparada para exercer outro tipo de atividade de imediato. Uma corrente (de trabalhadores) porque tem o trabalhador que opera a máquina carregadeira, tem o transporte dessa cana inteira, é considerada cana inteira porque é cortada queimada e não mecanizada. São vários trabalhadores que serão atingidos, não só os cortadores”, explica Sanches.

E esse foi o principal tema de uma reportagem elaborada pela jornalista Graciela Andrade, da TV TEM de São José do Rio Preto, com imagens do repórter cinematográfico Osmir Gomes, que foi exibida na segunda-feira desta semana, dia 20.

A proibição levou aproximadamente 600 cortadores de cana a se reuniram para fazer uma manifestação contra uma decisão da Justiça Federal de proibir a queima, em uma ação proposta pelo Ministério Público Federal (MPF).

A gravidade da situação os levou, a maioria vinda do norte e nordeste, a se reunirem às margens da rodovia Assis Chateaubriand, SP-425, na manhã da segunda-feira, com 13 ônibus estacionados no local.

Segundo os trabalhadores, a queima da cana estava permitida até 2017. Mas a decisão da Justiça Federal começou a valer no início deste mês de junho, sendo que a safra ainda nem chegou à metade. A ação contesta as licenças emitidas pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).

A justiça quer que o órgão realize estudos mais detalhados da prática em relação ao meio ambiente e questões da saúde da população antes de autorizar a queima.

O problema é que sem a queima da cana o trabalho dos cortadores fica mais difícil. Além disso, eles reclamam que não vieram para cortar cana crua.

Mas a situação já está difícil para a categoria. Agora eles já estão vivendo de bicos e já enfrentam dificuldades para enviar dinheiro para suas famílias.

“Não tem condições de nós cortarmos a cana crua porque ela é muito perigosa. Tem cobra. Não tem comissão e o preço fica lá embaixo” explica o cortador Manoel Gonçalves da Silva.

Pior ainda que ele não vê nem mesmo uma solução para retornar a sua terra natal. “ Não tem condições de mantermos nossas famílias e pagar aluguel, feira, água e não tem nem como irmos embora”, acrescentou.

Queima da palha da cana provoca câncer

Um estudo concluído ainda no ano de 2003, pelo médico José Eduardo Delfini Cançado, da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), que foi divulgado por esta Folha da Região em agosto de 2010, comprova que a queima da palha da cana-de-açúcar é responsável por um aumento assustador de doenças respiratórias em crianças e idosos e que tem o poder de provocar câncer.

Com a queima de toda a biomassa por longo período, são enviadas à atmosfera inúmeras partículas e gases poluentes, que influem direta e indiretamente na saúde de praticamente todos os habitantes do interior do Estado de São Paulo.

Diversos estudos realizados por pneumologistas, biólogos e físicos, confirmam que as partículas suspensas na atmosfera, especialmente as finas e ultrafinas, penetram no sistema respiratório provocando reações alérgicas e inflamatórias. Além disso, não raro, os poluentes vão até a corrente sanguínea, causando complicações em diversos órgãos do organismo.

Há ainda dados divulgados por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP que mostraram que a queima da cana-de-açúcar na região de Araraquara, cidade localizada a cerca de 180 quilômetros de Olímpia, provoca um aumento no número de internações diárias por asma e hipertensão arterial em hospitais daquela cidade.

Segundo o estudo divulgado, a concentração do popular carvãozinho da cana em suspensão durante o período da queima (safra) da cana é quase o dobro em relação ao período da não queima (entre safra).

O estudo demonstra que é maior o número de internações hospitalares durante o período de queima da cana-de-açúcar. No caso da hipertensão, esse número é de 2,82 internações por dia, contra 1,92 na não queima.

PROBLEMAS ASMÁTICOS

Já para os casos de asma, embora as internações diárias sejam em menor quantidade, a incidência é ainda maior, fazendo com que as ocorrências passem da média de 0,95 por dia para 1,43.

O problema é que a queima da cana, que acontece entre os meses de abril e novembro, provoca a emissão de uma espécie de fuligem, composta por 90% a 95 % de partículas finas ou ultrafinas, que não são visíveis a olho nu.

Quando inaladas pelo ser humano essas partículas atingem os alvéolos pulmonares e a corrente sanguínea provocando uma resposta inflamatória com repercussão sobre o sistema respiratório e cardiovascular.

Para cada aumento de 10 microgramas de material particulado, há também um aumento de 5,67% nas internações por hipertensão e 5,05% por asma.

O estudo indica, ainda, que tanto a população urbana como a rural ficam igualmente afetadas pela exposição a uma alta concentração do poluente.

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