10 de junho | 2012

Olímpia não está preparada para atender deficientes visuais

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Na avaliação da professora Ma­­riân­gela de Brito Pimenta, que atua na rede municipal de ensino, em uma creche, até em razão de ser uma cidade que se considera turística O­lím­pia não está preparada para atender as necessidades de pessoas portadoras de deficiência visual.

Segundo ela, as associações de cegos lutam por melhorias, mas as dificuldades são grandes e as coisas acabam demorando demais. Foi ai que ela citou o exemplo da reforma das duas praças centrais, Rui Barbosa e da Matriz de São João Batista.

“Reformou-se a praça, ficou lin­da e maravilhosa, mas por que já colocaram o piso guia? Por que já não implantaram semáforos com sinais sonoros. Ah, não vai usar. Não sabe. Tem que ter a visão de mundo. É difícil, mas tem as leis para isso”.

Mariângela também cita o fato de Olímpia ser uma cidade turística e não ser adaptada ao deficiente visual. Um exemplo citado por ela é o caso de um cardápio em braile que não existe em lugar nenhum. Não tem calçamento com piso guia. “Eu luto por uma sociedade justa e acho que isso tem que acontecer, mas está demorando demais”, assevera.

A professora relata que estudou a deficiência visual a fundo, porque quando a filha perdeu a visão não havia recurso nenhum no interior de São Paulo: “Consultei o MEC (Ministério da Educação) e eles enviaram-me o material. Estudei e alfabetizei minha filha e mais 63 cegos”.

“A minha luta é para que minha filha viva normalmente como outras pessoas. Não quero nenhum cuidado ou zelo a mais, tem que ter uma vida normal. Eu a preparo para que tenha uma vida normal”, acrescenta.

BLOQUEIOS PESSOAIS

O problema da acessibilidade é complicado, mas tem deficiente visual que se recusa usar uma bengala, por exemplo, o que lhe facilitaria a vida. “Como é o caso da mi­nha filha. Ela poderia ser mais independente, mas ela bloqueia, ela não aceita”, reforça.

A professora fala que os recursos para os deficientes visuais são muito caros. Uma máquina de escrever em braile não custa menos de R$ 2,5 mil. O estado fornece u­ma para a escola onde os alunos podem estudar. Mariana tem a pró­pria em sua casa para complementar os estudos. Um notebook, que é caro, para servir a um cego exige gasto de três a quatro mil reais.

O TRABALHO DA ESCOLA

Mas vê que Mariana adquiriu muita maturidade, principalmente com o trabalho desenvolvido na Escola Wilquem Manoel Neves e quando teve que ir para a região sul do País, encontrou muita dificuldade. “Meu marido foi transferido para o sul e lá ela sofreu nas escolas. Ela não tinha como frequentar”.

No sul, de acordo com ela, as pessoas são muito preconceituosas o que força a pessoa deficiente, no caso de Mariana, visual, a conviver apenas no meio das associações próprias. Fora delas há muitas dificuldades.

“Então, tenho muito a agradecer à Wilquem, porque eu falto que é uma escola que não tem quase nada de recursos. Porque se muito se fala em número, em inclusão, mas na verdade a inclusão só é feita quando diretor, professores e pais abraçam a causa e foi o que aconteceu na Wil­quem. Apesar de não ter recursos, alguns professores abraçaram a causa, junto com a diretora e coordenadora. Por isso que virou”.

Os professores se adaptaram ao método para poderem alfabetizar Mariana, que consegue acompanhar bem as aulas. As dificuldades que tem, segundo a mãe, partem dela mesma. Mas a mãe reclama que o sentimento de pena ou dó que muitas pessoas têm ao ver um deficiente, sempre acaba atrapalhando.

Ainda em relação à escola disse: “O mérito é todo para a escola Wilquem porque a diretoria de Barretos não dá suporte. Manda a máquina de escreve em braile e olhe lá. As folhas que os alunos usam a gente é que tem de comprar. Não capacitam os professores. Não tem ninguém á na escola preparada para auxiliar essas crianças. Então, não é mérito da diretoria ou do Governo do Estado de São Paulo, é mérito e luta diária da escola. Lembro quando vim para O­lím­pia e nenhuma escola aceitava a matricula de Mariana. Não é que não aceitava, eu chegava com ela e diziam: a gente não sabe como vai trabalhar. Cheguei à dona Heloisa e falei onde vou matricular minha filha e ela falou: aqui. Então, ela a­bra­çou a causa”.

Mariana espera mais convite para desfilar
Depois da primeira passarela que encarou em um desfile de moda em São Paulo no ano passado, a garota Mariana de Brito Pimenta (foto), de 15 anos de idade, a­guarda convite para participar de outro desfile. Sobre o convite que recebeu da estudante de moda Mariáh Arantes, ela disse: “Ela me chamou para participar do desfile em 2011 e eu gostei”.

Até em razão disso, Mariana, que cursa o 1.º ano do ensino mé­dio na Escola Estadual Dr. Wil­quem Manoel Neves, comentou que gostaria de voltar a par­ticip­ar.

Mariana perdeu a visão totalmente com sete anos de idade, quando foi detectado um tumor no cérebro. Passou por uma cirurgia para a retirada do cisto e teve perda total da visão.

Embora lamente a reação pre­conceituosa de grande parte das pessoas, ela comemora a inclusão social: “Acho normal. Tenho amigos. No estudo também é normal. Não vejo dificuldades não. Tem gente que ainda tem preconceitos, mas tenho muitos amigos e me a­dapto bem a escola. Saio nor­mal­mente”, acrescentou.

Mariana que lê o braile e escreve em máquina apropriada, também utiliza um note­book dotado com um programa de voz específico para deficientes visuais. Mas não pratica nenhuma modalidade esportiva.

Mas ela sofreu quando teve de se transferir para o sul do País e não se adaptou. “Não consegui e a gente voltou para cá. As pessoas eram muito preconcei­tu­osas e na escola não tinha amizade com as pessoas, elas não queriam ficar comigo”, relata.

Mas ela reclama das dificuldades de locomoção: “Quando estou com minha mãe ou meus amigos nem tanto, mas se fosse sair sozinha eu teria dificuldades”.

Segundo ela, “o que falta mesmo é as pessoas aceitarem mais porque ainda tem pessoas pre­con­ceituosas. Acho que as pessoas deviam aceitar porque é normal e não tem que ter preconceitos”.

Mariana participa do grupo de jovens da comunidade Santa Rita, ligado ao grupo dos Vi­cen­tinos, o que a ajudou muito em seu desenvolvimento, também estuda inglês.

Concurso de moda inclusiva levou Mariana à passarela
Foi um concurso de moda inclusiva que teve desfecho em setembro de 2011, no Museu da Casa Brasil, em São Paulo, que levou a garota Mariana de Brito Pimenta, de 15 anos de idade, portadora de deficiência visual, a conhecer uma passarela e participar de um desfile de modas.

A informação é da estudante universitária Mariáh Arantes (foto), de 18 anos, que está cursando o 2.ª série, terceiro ciclo, da Faculdade de Modas na Universidade Federal Tecnológica do Paraná, em Apucarana. “Eu conheci um concurso de moda inclusiva em 2011 e fiz a inscrição. Mandei três trabalhos e um deles foi selecionado. Este foi o vestido que fiz para a Mariana desfilar”, contou.

Mariáh conta que precisava de uma modelo e conseguiu com a DOA (Deficientes Olim­pienses Associados), que indicou o nome de Ma­riana. “Convidei ela para desfilar para mim. Ela aceitou e foi muito bacana. A partir daí a gente iniciou as fases de confecção e provas do vestido”.

Entretanto, ela ainda não sabe se dará continuidade a esse projeto inclusivo: “Achei muito interessante. É um trabalho muito gratificante. A gente tenta encontrar a maior necessidade deles. Mas é um trabalho difícil que requer muita pesquisa para poder ser uma coisa bem feita e bem colocada no corpo da pessoa que precisa. Mas não sei ainda se vou continuar com esse trabalho e o que vou fazer a partir de agora”.

Mas nesse ano ela pretende novamente participar do mesmo concurso para desenvolver alguma coisa. O concurso tem duas etapas. Na primeira foram mais de 400 trabalhos inscritos, dos quais restaram 20 para a segunda fase que foi realizada no dia 20 de setembro de 2011, no Museu da Casa Brasil, em São Paulo.

Como detalhe o vestido teve uma inscrição em braile para que Mariana pudesse identificar o que estava vestindo. Mas o importante também é que a roupa seja fácil de vestir, sem muitos botões, ou seja, uma roupa mais prática, diferente da roupa destinada a uma pessoa que não tem deficiência.

Mariáh conta que o trabalho foi interessante porque a ajudou a conhecer o outro lado da moda, aquele que atende ao consumidor comum, seja uma pessoa mais gorda, ou mesmo o portador de deficiência, seja física ou visual. “Parece que a moda é muito consumista e não é. Com esse trabalho vi que não. A gente pensa o que pode ajudar a pessoa que está dentro da moda e vestindo o adequado ao que necessita”.

Para ela a moda inclusiva é um mercado que precisa crescimento principalmente para ajudar aos portadores de deficiências, que não podem apenas depender das produções em série, mas necessitam de uma condição quase que individualizada.

Por outro lado, em julho, no dia 14, vai realizar um evento beneficente com renda destinada à DOA, para mostrar pelo menos parte do que foi o concurso do qual participou em 2011 e convidar para que participem do que será realizado neste ano.

Nesse evento, que será na Quadra da 3.ª Idade, ao lado do Recinto de Exposições e Praça de Atividades Folclóricas Professor José Sant’anna, serão mostrados também trabalhos realizados por integrantes da DOA.

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