07 de julho | 2013

Paciente morre 10 dias após aguardar UTI por quase 20 horas

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Vítima de um traumatismo craniano, o agricultor Nevile Ayres Zambon, de 70 anos de idade, morreu na manhã de sexta-feira, dia 5, 10 dias após ter de aguardar por aproximadamente 20 horas por uma vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Foram vários desencontros depois que ele sofreu um acidente doméstico no final da tarde do último dia 25 de junho.

A falta de médicos de determinadas especialidades é um tema que já foi debatido amplamente no passado, mas continua sendo atual e voltou à tona nos últimos dias. E novamente a questão está relacionada ao fato de que em Olímpia não tem um neurocirurgião para atender casos de traumatismos cranianos na UTI da Santa Casa local.

Desta feita a questão voltou à tona na quarta-feira (26), em razão de um problema sofrido pelo agricultor olimpiense Nevile Ayres Zambon, que é sogro do locutor da rádio Menina AM, Márcio Matheus Gonçalez (foto).

Na oportunidade, demonstrando bastante indignação, Gonçalez relatou durante o programa Cidade Aberta, que seu sogro tinha sofrido um acidente doméstico, ou seja, uma queda da escada em sua casa e batido a cabeça sofrendo um traumatismo craniano, que teve como consequência um edema (inchaço) e coágulo.

A indignação, segundo o jornalista, é que o acidente aconteceu no final da tarde da terça-feira, por volta das 17 horas, mas somente recebeu um tratamento adequado a partir do início da tarde do dia seguinte, por volta das 13h30.
Inicialmente Nevile foi socorrido pelo resgate até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Olímpia, mas como tem plano de saúde Unimed foi transferido para a Santa Casa por volta das 18 horas, onde permaneceu no Pronto Atendimento do convênio, mas sem tratamento até por volta das 22h30.

Justamente pela ausência de um médico da especialidade, ele não podia permanecer na UTI local e necessitava de ser transferido para São José do Rio Preto. Inicialmente não tinha vaga, mas depois surgiu uma na UTI da Santa Casa daquela cidade.

No entanto, surgiu um novo problema: faltava uma ambulância para realizar o transporte e, segundo Márcio Matheus, a Unimed não tinha uma disponível.

Por isso, somente por volta das 22h30 é que conseguiram o transporte, através da Secretaria Municipal de Saúde que liberou a ambulância do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

Entretanto, quando Nevile chegou ao hospital em Rio Preto o médico já não estava aguardando e o atendimento deste foi somente por volta das 7 horas.

Porém, nesse momento já não estava mais disponível a vaga na UTI conseguida na noite anterior e uma nova surgiu somente por volta das 13h30, quando foi iniciado o tratamento propriamente dito.

“Uma vergonha a Santa Casa daqui não ter uma UTI com neurologista para acompanhar casos assim. Precisa ser transferido. Se você sofre um traumatismo craniano você tem que ir ou para Rio Preto ou para Barretos porque a UTI daqui não tem neurologista para atender”, desabafou o jornalista.

Provedor diz que não tem nem neurocirurgião
nem equipamento próprio para o atendimento

Através de ofício que encaminhou para a editoria desta Folha, o provedor da Santa Casa de Olímpia, advogado Mário Francisco Montini (foto), justificou a ausência de um neurocirurgião para atender na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas confessou que o hospital não está nem mesmo dotado de um equipamento apropriado para atender casos como o que aconteceu com o agricultor Nevile Ayres Zambom.

“Assim, a Santa Casa de Olímpia não presta serviços de neurologia, não somente por não ter um médico especialista na área que se disponha a atender no hospital, mas, principalmente por não ter equipamentos próprios para tanto e não ter o serviço contratualizado com o SUS), afirma Montini em trecho do ofício.

Inicialmente, ele citou que o hospital recebe R$ 14,5 mil mensais para a manutenção da UTI pelo SUS e que só de médicos tem custo de aproximadamente R$ 40 mil. “Os prejuízos na prestação de serviços da UTI somam cerca de R$ 60 mil mensais”, diz.

O provedor também reclama que só o município de Olímpia tem contratualização para UTI, mas que atende todos os municípios da região. Além disso, reclama que esses municípios não contribuem financeiramente.

Segundo ele, há atendimentos que não estão vinculados ao contrato com o SUS. “Ou seja, a UTI não atende alta complexidades, como cardiologia e neurologia”. Mesmo assim, dependendo do grau de complexidade do caso, presta o atendimento imediato até a remoção para hospitais credenciados. “Ou ainda mantém o atendimento mais específico em cardiologia, quando nossos equipamentos permitem a recuperação do paciente”, avisa.

No entanto, em caso de traumatismo craniano, dependendo da complexidade, presta o atendimento imediato para a estabilização do paciente até a chegada da ambulância específica para fazer a transferência.

Porém, reclama também que para o uso de uma ambulância UTI muitas vezes o hospital tem de bancar o transporte que, segundo ele, custa em torno de R$ 2,5 mil: “Pois esperar liberação dos municípios permite uma demora injustificável para a remoção e depois precisamos ficar implorando o pagamento do Poder Público”.

MORTE NA SANTA CASA
Por outro lado, sobre a informação de que um paciente havia falecido na Santa Casa, outra informação veiculada na mesma edição, Montini afirma: “a morte é inerente ao ser humano e também é fato cotidiano dos hospitais, situação que nos deixa, a cada ocasião, consternados”.

Montini diz também que o “inconformismo dos familiares” (sic) merece o respeito e que quando tem oportunidades procura prestar o devido conforto. Diz também que, embora considere o ato médico a mais sublime formação humana, muitas vezes o profissional “não tem o que fazer para restabelecer a saúde da pessoa”.

Entretanto, crítica o dever de informação que a impressa professa, como se a mesma tivesse obrigação de esconder todos os fatos: “pensamos que esse momento de dor, quando se externa os inconformismos de morte, haveria de ser evitado a exposição pública, ainda que advenha da falta de um atendimento que se esperava melhor por parte dos lidadores dos sistemas de saúde, pois não podemos avaliar uma situação em comoção”.

Cita também que a chamada para a matéria “não expressa o respeito à dignidade alheia e promove um ataque gratuito e sem razão à instituição hospitalar que representa momentaneamente”.

Também segundo ele, não contribui para a melhoria dos serviços públicos de saúde “ou ajuda no restabelecimento da confiabilidade da população no único hospital de nossa região”.

Depois, acrescentou que está na busca de caminhos para a manutenção do hospital. “Mesmo ‘momentâneos’ (sic) na direção, estamos dentro da capacidade moral, intelectual, profissional e social de nossa equipe, buscando o melhor caminho a trilhar”.

Montini ainda ressalta que não acredita em erros: “se temos razão ou não nas nossas atitudes, o que está tendo feito é aquilo que antevemos de melhor, dentro dos limites que nos são impostos”.

Para o jornalista, filósofo e editor desta Folha, José Antônio Arantes, mais uma vez o provedor da Santa Casa mostra seu distanciamento da democracia e da forma republicana de governo, ao destacar que informações sobre morte teriam que ser suprimidas pela imprensa. Pelo jeito o sr. Mário mesmo com todo o momento que o país atravessa continua sendo “cultuador” da Lei da Mordaça, digna dos mais perversos ditadores que viveram neste país.

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