23 de março | 2021

Quem fez e quem mandou queimar a Folha da Região de Olímpia? Queremos resposta!

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UMA SEMANA DEPOIS!
Editor da Folha escreve manifesto após sete dias sem elucidação do incêndio no jornal. Em “Carta Aberta de um jornalista angustiado e ameaçado”, o editor desta Folha mostra as agruras que vem passando nos últimos dias e sua incredulidade pelo fato de a polícia ainda não ter pistas concretas sobre quem foi o incendiário e seu possível mandante.



Sete dias após um incendiário ter despejado gasolina nas portas sua residência e do prédio onde funciona o jornal e a rádio em que é responsável pela comunicação, o jornalista José Antônio Arantes escreveu e compartilhou nas redes sociais, um manifesto onde narra como têm sido os seus dias e, principalmente, detalha o sofrimento de sua netinha de 09 anos.

Arantes, que também enviou o manifesto para diversos jornalistas de todo o Brasil, também mostra sua incredulidade quando ao fato de mesmo tendo já transcorrido uma semana desde os fatos, a polícia ainda não ter nenhum pista concreta para elucidar o caso e a situação de prostração e impotência diante do cenário que se apresenta.

Veja a seguir a íntegra do manifesto que chama de “Carta Aberta de um jornalista angustiado e ameaçado”:

Passados já vários dias desde que um incendiário, com certeza, a mando ou contratado por alguém, ou por algum grupo de pessoas para quem a morte do outro é coisa natural, a angústia, a incerteza e a sensação de que nada mudou desde o fatídico instante de quase morte de si e dos seus, continua, sem que nada, nenhum fato, nenhuma situação tenha sido elucidada.

Tudo na estaca zero.

E pior que, pelo que se depreende, em razão de o jornalista, nos veículos e programa que edita, defender a ciência, o controle do inimigo que deveria ser comum, o novo coronavírus, parece ter defensores e soldados humanos lutando ao seu lado nesta verdadeira guerra que provoca o caos.

Não se sabe quem foi nem quem mandou e a sensação que se tem é a de que aqueles que têm a incumbência de elucidar os fatos são despreparados, ou não querem agir, ou também estão perdidos diante da situação.

Tudo isso em meio a um momento de crise institucional e política, com pelo menos parte da população brasileira, inclusive a local, apoiando uma pessoa desequilibrada e que estaria justamente promovendo o caos como maneira de se perpetuar no poder.

Diante disso, não se sabe e pelo que se informa, nem se tem pistas de quem atentou contra a vida de um jornalista, sua esposa e uma criança de apenas nove anos que tem pesadelos todas as noites, pois sentiu de perto, em tão tenra idade, quanto a vida é finita e pode ser tirada, encerrada, extirpada, até pela atitude bestial de outros seres.

Percebeu o que é não ter como respirar por estar em meio à fumaça de um fogo provocado e, o que é pior, diante de sua expertise infantil, ver a todo instante as discussões sobre o que poderia ter ocorrido se sua avó, com um “baldinho” de apenas dois litros despejados incessantemente, não tivesse arriscado sua própria vida para apagar o fogo rapidamente e evitado sua morte e a dos seus.

O atual momento, em meio a incerteza e a impotência de se tomar medidas de proteção, em razão da crise econômica, que exauriu os recursos que normalmente eram gerados, tudo isso, agravado por campanhas de “negacionistas” para que se destrua os veículos editados pelo jornalista pelo estrangulamento financeiro, através do cancelamento e da não contratação de publicidade, além das ameaças que continuam pelas redes sociais, levadas a efeito por pessoas que poderiam ser tidas como suspeitas, pois fazem isso desde antes do incidente, sem que nenhuma autoridade as repreenda, ou as interrogue, mesmo já tendo recebido os “prints” caluniosos, difamatórios e ameaçadores.

Além de tudo isso, incerteza e angústia maior também é presença constante, em razão de ser possível que este atentado tenha ligação com grupos radicais que estão promovendo o terror e a intimidação para garantir a permanência no poder do atual presidente da república.

Ora, se não se elucida o crime, como a família deste jornalista ficará mais tranquila sabendo que quem cometeu este ato cruel não vá voltar a praticá-lo? Como poder explicar para a netinha de 9 anos que ela não passará por isso novamente e agora, de maneira mais severa, pois o incendiário, com certeza, já sabe onde falhou?

As informações que se tem até o momento dão conta de que não existe nenhuma pista concreta por parte da polícia civil e que vários de seus profissionais nem acreditam que irão elucidar o caso.

Já existem até teorias da conspiração circulando entre os moradores desta cidade de pouco mais de 50 mil habitantes, dando conta de que a polícia pode saber quem é, mas, pela importância de um possível mandante, não aprofundará as investigações para esconder o caso.

Ninguém acredita, nem mesmo os “negacionistas” ameaçadores, que com câmeras de segurança espalhadas por toda a cidade oficialmente e em centenas de residências particulares, cujas imagens de várias delas sequer foram requisitadas pela polícia e que já foram apagadas, pois a maioria dos sistemas regrava, sobrepõe as imagens após passados em média cinco dias, tudo isso não tenha sido elucidado.

O pior de tudo é sentir as mãos atadas. É a sensação de impotência de não poder fazer nada. De ver o choro contido e às vezes expresso em cantos da própria casa, da esposa e da filha. Mas acima de tudo, o medo, a sensação de quase morte estampada nos olhos de uma criança que não consegue processar tanta informação e enxergar como um adulto e se espanta, se assombra, fica trêmula, toda vez que a campainha da casa toca e pergunta: “será que não é o bandido que veio por fogo na nossa casa de novo, vovô?

Me perdoem aqueles que leram este texto até aqui. Mas é o desabafo de um jornalista, advogado, professor de filosofia e sociologia, que mesmo com todo o conhecimento adquirido ao longo de seus 62 anos, se prostra inerte, se sente incompetente, impotente, descrente, sem condições mínimas de garantir os mais precários conceitos de dignidade para sua própria família, que vive ameaçada, assombrada e tendo vilipendiada a todo instante a sua própria condição de ser humano, sem ter apoio de um Estado que não se sabe pra onde caminha e nem onde chegará.

José Antônio Arantes, Olímpia, 23 de março de 2021.

 

 

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