03 de março | 2018

A história de Robert John Reid e sua participação na fundação de Olímpia

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Samuel Cândido de Oliveira Castro
Nasceu em 22.12.1868, na localidade de Inchberry, Condado deAberdeen ,conselho de Aberdeenshire, na Escócia, sen­do filho de James Reid, B-26.1.1831, Upper Balfour, Aberdeenshire, F 16.7.1882, Inchberry, Condado de Aberdeen, Conselho de Aberdeenshire, e de Isabella / Isobel Thomson Walker, B-2.1.1836 – C-19.11.1863 – F-7.4.1916, Falconcliff, invernessshire, Escócia.

A irmandade do Dr. Robert John Reid, se constituía na seguinte sequência =

Anna Bella Reid, B-17.12.1864, Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, F-10.9.1942, Inverness, Invernessshire, Escócia.

Elizabeth Helen (Leila) Reid, B-19.7.1866, Inchberry, Aber­deenshire, Escócia, F-13.12.1898.

Robert John Reid, B-22.12.1868, Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, F-26.11.1937, Campos do Jordão, SP, Brasil.

James Alexander Reid, B-18.6.1871, Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, F-17.5.1901.

William Walker Reid, B-30.4.1873, Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, F-25.2.1946, Aberdeen, Aberde­enshire, Escócia.

Maria Margaret (Marie) Reid, B-18.9.1876, Inchberry, Aber­deenshire, Escócia.

Formou-se em engenharia na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Depois de ter passado cerca de 7 anos na Argentina, veio para o Brasil em 1896, onde trabalhou na locação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, adquirindo terras em Barretos, SP, onde constituiu fazenda de café. Durante aproximadamente 6 anos, esteve no oeste e norte do Estado de São Paulo, fazendo importantíssimas divisões de patrimônios, entre eles o de Pirajuí, SP e Olímpia, SP.

O Processo de Ação de Medição e Divisão da Fazenda Olhos D’Água foi iniciado em 1.11.1897 e terminou em 7.11.1904, pelo Cartório do 2º Ofício de Barretos, SP. Em 1.5.1899, foi realizada a 1ª Audiência para nomear e aprovar peritos. Os promoventes da Ação o Coronel Antônio Marcolino Osório de Souza, Joaquim Alves Franco, e Freitas, Oliveira e Cia, nomearam o agrimensor prático Jesuíno da Silva Mello, que desistiu em 16.9.1899 do cargo nomeado. Em 25.9.1899, foi realizada a 2ª Audiência, onde foi nomeado o Dr. Robert John Reid, que assinou o compromisso na mesma data.

Em 21.6.1900, na fazenda Passa Tempo, em casa do Sr. João Domingues da Silva, 8 léguas, ou 48 quilômetros de Barretos, foi realizada a 1ª Audiência de instalação dos trabalhos do Dr. Reid, de divisão da Fazenda Olhos D’água e verificação do ponto de partida. Demais informações constaram em meu artigo “Certidão de Nascimento de Olímpia”, que há anos publiquei aqui na Folha da Região.

Pela Escritura de Doação de 2.3.1903, de 100 alqueires de terras, compareceram como outorgantes doadores para formação do Patrimônio de São João Batista, possuidores de parte de terras na Fazenda Olhos D’água, as seguintes pessoas = João Francisco dos Reis e sua mulher, 5 alqueires; Miguel Antônio dos Reis e sua mulher, 5 alqueires; Mariana Francisca do Carmo, 10 alqueires; Mariana Inácia de Jesus, 5 alqueires; Francisco Miguel dos Santos, 5 alqueires; Antônio Miguel dos Santos, 5 alqueires; João Antônio de Campos, 5 alqueires; João Ignácio de Sousa e sua mulher, 5 alqueires; João Bonifácio da Freiria, 5 alqueires; Jerônimo Bonifácio dos Santos, 2 alqueires; David Osório dos Santos, 5 alqueires; Gabriel Garcia dos Santos, 5 alqueires; Jerônimo Antônio dos Santos, 5 alqueires; Miguel Veríssimo dos Santos, 5 alqueires; Marcolina Flauzina da Freiria, 2 alqueires; Antônio Felisberto dos Santos, 6 alqueires; Joaquim Miguel dos Santos e sua mulher, 5 alqueires; Inês Rita de Jesus, 5 alqueires; e Maria Generosa de Jesus, 10 alqueires, tudo no valor de 1:000$000 (um conto de réis). Pelos doadores foi dito, que os 100 alqueires “serão tirados no lugar denominado “Taperão”, em ambas as margens do córrego chamado “Olhos D’Água”, no lugar onde existe um cemitério antigo, onde estão sepultados seus avós, pais, mães e irmãos”.

Em 1.5.1903, o Dr. Reid apresentou o “Memorial Descritivo” da medição da fazenda Olhos D’Água, que apresentou uma área de 71.691,1085 hectares, ou 29.624,425 alqueires de terras, que inicialmente tinha 236 condôminos, mas no final se apresentaram 279 sócios, que constaram na Partilha de 22.2.1904, nas páginas 154 a 158-v, do Processo da Ação.

Em 14.2.1904, na residência da condômina Maria Theodora de Jesus, foi realizada a Audiência de Exame, Classificação e Avaliação das terras que constituíam a Fazenda Olhos D’Água.

Na referida Ação, a destinação dos100 alqueires de terras, para a formação do Patrimônio de São João Batista, foi adjudicado no “Pagamento” nº 100, com a avaliação de 2:000$000 (dois contos de réis).

O nome de Olímpia, depois da divisão do Patrimônio, em 1904, foi sugerido pelo Dr. Robert John Reid, para homenagear sua afilhada Maria Olímpia, N-2.2.1897, SP, SP, F-14.11.1969, SP, SP, filha de seu amigo e político Dr. Antônio Olímpio Rodrigues Vieira, Promotor Público da Comarca de Barretos, SP, e de Isoleta Carneiro Arantes.

Na Lei nº 1.289, de 16.6.1977, que “dispõe sobre os símbolos do município de Olímpia e dá providências corre­latas”, em seu Artigo VI, constou “A bordadura é indicativo heráldico de favor proteção e o quinquefólio de filha querida, recordando que o topônimo “Olímpia”, sugerido pelo engenheiro Dr. Roberto John Reid, foi adotado em homenagem à Maria Olímpia, filha de Antônio Olímpio Rodrigues Vieira, líder político da região”.

Em Olímpia, SP, o nome da rua, que passa em frente ao Fórum local, foi colocado em sua homenagem.

Em Campos do Jordão, em 1.12.1896, deu-se entrada em uma Ação Judicial de Divisão e Demarcação de, aproximadamente, 800 alqueires das terras da Vila Natal, na Serra da Mantiqueira, até então com terreno “pró-indiviso”, era constituída pela grande maioria das terras que formavam o Município dos Campos do Jordão, tendo sido a Inicial da Ação, dada entrada pelo Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe, e sido publicada em 8.12.1896, à página 3173, do DOU, que transcorria no Foro da Comarca de São Bento do Sapucaí, SP, pertencentes a diversos condôminos.

O primeiro agrimensor nomeado foi morto, em 28.12.1899, por um dos condôminos, o segundo, por doença, desistiu da empreitada, e o terceiro não demonstrou interesse. Diante disto, a Ação encontrava-se paralisada. Um dos proprietários condôminos era a “Casa Natham e Companhia”, de São Paulo, SP, que em 17.1.1907, decidiu dar prosseguimento a Ação. Em 2.5.1907, a “SocietéFinanciere Franco-Brasillienne”, de Paris, França, informou em juízo que, em 26.2.1907, adquiriu as terras da firma Casa Natham e Companhia, e que passaria a ser a promovente da presente Ação, e que a grande maioria dos condôminos havia assinado o Contrato 1.5.1907, nomeando o Dr. Robert John Reid para os serviços de medição e divisão das terras.

Concluídos os serviços, em 14.11.1907, o Dr. Reid apresentava ao Juízo de São Bento de Sapucaí, o “Memorial Descritivo de Medição do perímetro da Fazenda Natal”. Em 31.8.1908, foi lavrado o Termo de Encerramento da audiência e conclusão da divisão da referida Fazenda, que foi retalhada em 107 quinhões, e a cada um de seus proprietários, atribuiu-se o respectivo título de domínio, em terra demarcada e certa. Em 28.10.1908, o Juiz de Direito de São Bento de Sapucaí proferia a sentença, encerrando a querela, em primeiro grau.

No Processo, contendo 12 volumes, houve diversos recursos de condôminos, fazendo com que a Sentença final da Divisão Judicial só fosse confirmada pela Suprema Corte do país, em 12.6.1913.

Por proposta dos proprietários da firma Societé Financiere Franco-Brasi­llienne, que estava por extinguir, o Dr. Reid recebeu em pagamento, por procuração em “causa própria, de 8.3.1913, grande parte das terras, excetuando as da Vila de Jaguaribe, compreendendo todo o Vale de Campos do Jordão até a divisa com Minas Gerais, numa extensão média de 6 a 18 quilômetros de largura. Ali, em 1915, ele, juntamente com João Rodrigues da Silva (o conhecido João Maquinista) e Joaquim Ferreira da Rocha ,fundaram a Vila Nova, que em 12.11.1919, por sua sugestão e consentimento geral, foi mudada para Vila de Abernéssia, cujo nome ele extraiu das localidades de sua terra natal Aberdeen, e de seu paiInverness e Escócia, ficando ABER+NÉSS-IA.

Tendo vendido a sua fazenda em Barretos e, com suas economias, aplicou em imóveis em Campos do Jordão, tendo comprado a Casa de Saúde Santa Isabel, que se situava em uma colina e montou uma Olaria. Por sua iniciativa e doação de terreno com 3.500 m2, construiu-se a Casa Paroquial e a Igreja de Santa Isabel, em homenagem à mãe dele (atual Praça da Bandeira), Estação Ferroviária  Abernéssia, que foi iniciada em 22.10.1918 e concluída em 18.9.1919, tendo sido inaugurada em 12.11.1919, Mercado (atual Fórum), Posto Policial, e o Cinema (que teve o nome de Jandyra, em homenagem à filha de sua esposa). Doou terras para o cemitério, para a construção dos Sanatórios Ebenézer,para o Retiro dos Médicos, para o Poder Público local, área para construção de Escola, como também, para particulares desprovidos de recursos.

Residiu inicialmente em Vila Nova, na entrada de Campos do Jordão, posteriormente, em sua Chácara, na atual Vila Britânia, no sobrado denominado de Vila Abernéssia, que lhe serviu de residência por muitos anos. Anos mais tarde esse sobrado foi vendido pela família do Dr. Reid, no ano de 1944, para o Conde Eduardo Matarazzo e Dona Bianca. Posteriormente, ali se instalou o “Conventinho dos Padres Franciscanos”, demolido por volta de 1970.

Foi responsável pelo fornecimento de água para a localidade, de sua construção e manutenção. Loteou a Vila de Abernéssia de sua fundação, abriu ruas e construiu estradas e rodovias. Pelos seus esforços, auxiliado pelo Dr. Emílio Ribas, Dr. Altino Arantes, Victor Go­dinho e Sebastião de Oliveira Damas, conseguiram a construção da Estrada de Ferro para Campos de Jordão, ferrovia que alavancou a cidade, tanto como estação de cura de tuberculose, quanto como estância de turismo. Por muitos anos ele foi ali o 1º Juiz de Paz, quando Campos de Jordão ainda era Distrito de São Bento de Sapucaí, como também Presidente do Partido Republicano Paulista local. Em 1921, Dr. Reid mandou vir da Inglaterra as lindas flores digitalis, conhecidas por Fox-Glover (luvas de raposa).

Ele e Alfredo Jordão Junior construíram uma usina hidrelétrica, ficando as obras a cargo de Floriano Rodrigues Pinheiro, cuja iluminação pública de Vila Nova, foi inaugurada em 15.8.1919, sendo a hidrelétrica denominada de “Evangelina Faria Jordão”, em homenagem à esposa de seu sócio. Em 1921, o Dr. Reid criou e foi proprietário da Empresa Elétrica de Campos do Jordão que, a partir de 1928, passou a ser denominada “Companhia de Eletricidade de Campos do Jordão”. Foi também responsável pela construção, da Usina do Fojo, por volta de 1930, nas proximidades da Lagoinha, que abasteceram a energia elétrica para a cidade por muitos anos. Posteriormente, a distribuição passou para a Companhia Sul Mineira de Eletricidade, Centrais Elétricas de Minas Gerais – CEMIG e Companhia Energética de São Paulo – CESP.

Dr. Reid faleceu em 26.11.1937, com 69 anos de idade, de “peritonite aguda”, quando caiu e quebrou o pescoço, em Campos de Jordão, SP. Seu falecimento foi anunciado no “Correio Paulistano”, em 28.11.1937 (domingo) e em 5.12.1937 (domingo), onde constou ter deixado a esposa Emília da Silva Reid e os seguintes filhos: Jandyra (filha de D. Emília com seu ex-esposo Guilherme Stoffei Mayer) casada com Curt Hering; FloraMaria Reid, B-1908, casada em 1ª núpcias com Egydio NeryBaweli, tendo o filho Robert John Reid Neri; em 2ª núpcias com Alfredo Donald Howell, tendo a filha Mary Jane ReidHowell, casada com Richard Desmond, com os filhos Sean Desmond e Joanna Desmond, em 3ª núpcias com Esteve Felton, sem sucessão; Charles Edward Reid, B-1909; George Reid, N-1.6.1911, Campos do Jordão, SP, engenheiro, casado em 1ª núpcias com Dalila Gomes e, em 2ª núpcias com Maria Helena Duprat, N-23.1.1917, SP, SP, com Edital publicado no DOSP, em 23.5.1968; Srta. Isabela Majorie Reid; Shona Frances Reid, casada com João Gomes Pinheiro[tiveram os filhos a) Lilibeth Cynthia Reid Pinheiro, casada com Moysés Benarros Israel, que residiram em Manaus, AM;b) João Eduardo Reid Pinheiro, N-1.9.1942, SP, SP, casado com Nancy Gisela Viete, N-21.1.1942, SP, SP, com edital publicado no DO de 27.3.1967, SP, SP, c) Lillimay Maisie Pinheiro]; e Douglas James Myles Reid, N-24.4.1917, Campos do Jordão, SP, em 1965, foi Diretor Presidente da RCA Eletrônica Brasileira S. A, casado, em 2ª núpcias,conforme Edital publicado em 17.3.1978, página 67, do DOSP, com Ana Maria da Silva, N-18.2.1951, Artemis, SP, ela já estando viúva em 24.9.2012.

Com seu falecimento, Campos do Jordão perdeu um “grande benfeitor”. O povo, consternado, acompanhou o seu enterro, e o comércio, prestando sua homenagem, cerrou as suas portas. O Prefeito Municipal Dr. Antônio Gavião Gonzaga, decretou feriado municipal, ordenando que o enterro fosse feito as expensas da Prefeitura, e doando à família do extinto, com uma sepultura perpétua no cemitério local. Na cidade, ele foi homenageado com seu nome em uma rua.

Em 26.11.2017, fez 80 anos do falecimento dele. Em 2.3.2018, está se fazendo 115 anos da criação do Pa­trimônio de São João Batista dos Olhos D’Água, de Olímpia, SP. Em 22.12.2018, se fará 150 anos do nascimento dele. Fica aqui a homenagem ao Dr. Robert John Reid, que não foi fundador, mas teve uma atuação primordial na criação de nossa cidade, cuja profissão de agrimensor, também foi exercida por meu pai Genésio Cândido de Castro, a quem tive a honra e o prazer de auxiliá-lo como ajudante na medição e divisão de diversas fazendas no município e na Comarca de Olímpia, a quem, também, presto minhas homenagens.

Samuel Cândido de Oliveira Castro, bancário aposentado, escritor.

Fontes =
Dados genealógicos citados = http://www.genealogy.com/ftm/s/h/o/Andrew-D-Shore/WEBSITE-0001/UHP-0488.html

Artigos publicados pelo Dr. Pedro Paulo Filho (N-4.9.1937, Pindamonhangaba, SP, F-15.11.2017, de uma parada cardíaca, em Campos do Jordão, SP), advogado, jurista, poeta, contista, cronista, historiador, memorialista, conferencista, orador e residente em Campos do Jordão, com acesso nos seguintes links: http://www.pedropaulofilho.com.br/cj_abernessia.php, http://www.pedropaulofilho.com.br/cronica_92_jordanense.php, http://www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronica=96, como também vasto material de sua autoria, que enviou-me em correspondência de 22.4.2013.

Artigo publicado no Correio Paulistano, de 5.12.1937, aqui em https://ohistoriadordamantiqueira.blogspot.com.br/p/cosmovisao-rista.html?m=1e http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage HotpageBN.aspx?bib=090972_08&pagfis=19330&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader# , fazendo a busca pelo nome dele.

Artigo do Sr. Edmundo Ferreira da Rocha, aqui em http://www.camposdojordaocultura.com.br/fotografiassemanais2.asp?Semana=223

Artigo do Sr. Victor Emanuel Vilela Barbuy, aqui em http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=330#.WpSX1_nwbIV

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Comentários

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Todos os Comentários (1)
Douglas Reid há 2 anos atrás
Olá! O senhor Robert é meu bisavô, sou neto de Douglas James Myles Reid. Muito obrigado por transmitir informações tão importantes! Assim pude conhecer mais da história de minha família.
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