01 de janeiro | 2021

Ano Novo para lamber velhas feridas?

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“A todos que, humanamente conseguem compreender
que o mundo é uma passagem e ajudar na
preservação da vida do semelhante um
dever de todos, um Feliz Ano Novo,
mesmo que se tenha de
lamber velhas feridas”.

 

Do Conselho Editorial

O Editorial de Ano Novo escolhe Antonio Delomo­dar­me, o Niquinha, vitima do Corona vírus, da Covid 19, da pan­de­mia, como símbolo de homenagem a todos os que fo­ram sa­crificados pelo martírio que esta doença trouxe para o u­niverso.

Niquinha, como a maioria sabe, foi vereador, presidente da Câmara Municipal de O­límpia, presidente da Associação dos Funcionários Públicos Municipais, presidente do O­lím­pia Futebol Clube e, sobretudo, figura polêmica e presente na vida da comunidade desde sempre.

Homem que lutou contra as adversidades da vida, que nem sempre se mostrou fácil para ele; homem simples que batalhou pela vida, exercendo várias profissões, inclusive a de roupeiro do Olímpia Futebol Clube.

Perseguido e algumas vezes injustiçado pelas suas posições, chegou a ser despejado do Estádio Tereza Breda, on­de morava com a família, muito mais por perseguição que por questões de ordem legal, superou a todos os embates que a sociedade colocou contra si e se superou.

Destemido e forte, chegou à presidência do clube onde foi roupeiro um dia e se inseriu socialmente pela garra e disposição para a luta.

Foi abatido pela doença quan­do se preparava para mais uma disputa eleitoral on­de pleiteava sua reeleição a vereador.

A escolha recai sobre Niqui­nha como símbolo de representação da dor que acomete tantos lares onde familiares choram entes queridos que perderam de uma forma a­bru­pta e muito dolorida.

Com frequência se nota nas redes sociais a lembrança destes familiares e dos familiares do Niqui­nha, relem­brando a tragédia que foram obrigados a viver e que não esquecerão jamais.

A Folha, através de Antonio Delomodarme, presta solidariedade a todas as famílias que prantearam entes queridos nesta desgraça que se a­bateu sobre o planeta e ora pa­ra que a paz volte a se instalar no coração de cada ser que foi atingido pela tragédia.

Que cada lágrima se transforme em suspiro de saudade pelos momentos vividos junto ao ente querido.

Este foi um ano atípico e não se sabe o que será o ano que vem e, por mais que se consiga conter o fluxo da doença, é certo que 2021 será um ano de lamber feridas pa­ra todos os que têm consciência da tristeza infinita que foi a crueldade de ter vivido este período.

Mesmo os que não perderam seus entes queridos e se isolaram para não serem atingidos pela doença trazem um travo na boca, uma sensação de tempo perdido que nunca será recuperado, uma ideia de ter se abandonado um período pelo medo de arriscar a deixar de ser.

Foi e está sendo algo terrível e possivelmente, se superada esta fase, estando a maioria vacinada, diminuído os riscos de contágio, muitos repensarão o que foi sua existência neste período.

Lamber feridas para quem teve um cãozinho de estimação, ou observou o comportamento de um, sabe que é comum cachorros lamberem as próprias feridas.

Eles fazem isso de uma forma instintiva, obviamente, mas, segundo a ciência, existe um motivo bem inteligente por trás disso.

Os especialistas dizem que quando eles lambem as feridas, estão, na verdade, colaborando para a cicatrização dos ferimentos.

 O hábito também ajuda na vascularização do tecido ferido e a acabar com a bactéria no machucado, acelerando assim o processo de recuperação da pele.

A resposta para que o cão possa fazer tudo isto com u­ma lambida é muito simples. O segredo está na saliva desses animais.

 Estudos mostraram que a grande responsável por esse efeito curativo é uma substância chamada histatina 5 e que está presente na baba dos cães.

Está ai talvez a explicação para a sabedoria popular que recomenda lamber as feridas da alma, do espírito, como forma de catarse, de expurgação das dores impostas pelos conflitos e pelas tragédias humanas.

Neste caso, será necessária muita histatina 5 e muita ba­ba pois o que rolou e o que está rolando é surreal e espantoso e, como não há exatidão em previsão alguma, só resta orar e pedir aos céus que a solução oco­r­ra o mais breve possível.

No tocante a vida que segue, como o ano não guardou grandes surpresas, há pouco a se comentar que não se refira ao Corona vírus e a Covid 19.

A economia no município refluiu, o turismo interrompeu atividades.

As previsões mais otimistas dão conta de que haverá queda na arrecadação municipal.

O comércio, indústria e o setor de turismo sentirão os efeitos da paralisação obrigatória provocada pela pande­mia.

A Câmara Municipal foi palco de escândalos e baixarias.

Fernando Cunha foi ree­lei­to.

Houve grande renovação no quadro legislativo local.

Foram eleitas três ve­re­a­doras no município, sendo que uma delas, se não trair o eleitorado e não for para nenhuma secretaria, poderá vir a ser a primeira representante da comunidade negra eleita em Olímpia.

Embora se alardeie o crescimento da crise, em Olímpia o setor imobiliário e turístico dão mostras de aquecimento e recuperação.

Os preços de combustíveis, gás, energia e gêneros de primeira necessidade estão nas alturas.

O jornal Folha da Região continua circulando aos sábados contrariando o esforço desenvolvido para destruí-lo.

E o ano de 2021 bate a porta para mais uma aventura, para mais uma batalha, iniciando com a continuidade ao combate a pandemia que se espera seja debelada para que as pessoas não tenham que cantar como Raul Seixas.

Eu já estou cansado de voltar. Prá dentro de mim.

E de cada vez me encontrar. Sempre mais vazio.

De remexer nas velhas coisas. Em tudo o que eu já não sou mais.

De tocar velhas feridas. Que não saram mais…

Que não saram mais…

Os que sofreram e entenderam que a dor pode fortalecer.

Que os momentos felizes vividos com alguém que se a­mou e se perdeu valem, pelo riso e pela alegria e tentam superar o que se considera perda interpretando a despedida como missão maravilhosamente cumprida e curtida.

Aos que entenderam a dor do semelhante e colaboram pra que ela não se amplie;

A todos que, humanamente conseguem compreender que o mundo é uma passagem e ajudar na preservação da vi­da do semelhante um dever de todos;

 Um Feliz Ano Novo, mesmo que se tenha de lamber velhas feridas.

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