10 de dezembro | 2017

Cinema fechado, decoração natalina, enchentes e especialistas em tudo

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Do Conselho Editorial

A semana foi bastante movimentada nas redes sociais, se discutiu de tudo um pouco com muito ou pouco conhecimento sobre o assunto.

De se notar o nível de agressividade retórica de alguns mais exaltados quando se diverge de seu ponto de vista. A impressão que passa é que seu ponto de vista é divino e certeiro de tal maneira que contrariá-lo pode significar estar contra todas as correntes do bem que circulam pelo universo das ideias.

Há coisas e situações que por razões de ordem científica, legalista ou econômica, por mais que haja esforço para se explicar o improvável, apelação para o plano espiritual e outras “mumunhas”, não há especialista capaz de contestar o conteúdo cien­tifico que domina o acontecimento.

Há outros que pela própria natureza do evento, a discussão, desde que dentro dos parâmetros impostos pela normalidade po­de e deve caminhar um pouco mais além do que admite discussões de ordem técnica, que exige profissionalis­mo e conhecimento amplo do que se está falando.

Na internet parece não ser bem assim. Prosperou naquele espaço a noção de que a maioria frequenta­do­ra das discussões é detentora de alto saber científico sobre todas as coisas que povoam o universo e das que porventura venham do espaço para aqui se instalar, além das divinas, espirituais, satânicas, objetivas e subjetivas que possam existir neste e noutros planos.

E não há como explicar para os grandes sábios em enchentes que a questão não comporta grandes esforços de compreensão nem estudos complexos para se entender a razão porque acontecem enchentes na baixada do São Benedito.

Questão de nível, um de nível de entendimento de coisas simples e outro de nível das águas do rio que se equiparam ao nível do terreno não permitindo que elas escoem. Tanto que estando as águas do rio na sua normalidade o “fenômeno” não ocorre.

Wilquem Neves sem muito esforço e com boa vontade deve ter percebido que as enchentes, em parte, poderiam ser provo­cadas pelo encontro das águas do Ribeirão Olhos Dágua e o Cachoerinha que subindo ficaria no mesmo do Ribeirão na altura da cidade, impossibilitando o escoamento do excesso de água recebida pelo rio nas chuvas.

E apontou como solução o desvio do rio em uma região e a construção da barragem do Recco, que funcionária como um pis­cinão e evitaria as enchentes e reservaria água para períodos menos chuvosos.

O projeto, como se sabe, foi aparentemente aban­donado e o problema voltou a rondar a cidade.

 Possivelmente, se for apontada uma solução, será nesta direção, embora os especialistas de facebook finjam desconhecer que dois corpos não ocupam o mesmo espaço.

Outra questão controvertida que ganhou centenas de comentários: o fechamento do cinema em Olímpia, mais engraçado ainda é atribuírem a culpa do fechamento ao primeiro mandatário.

Ai, para o texto, para se perguntar onde estavam estas pessoas quando o cinema era do município, na Casa de Cultura, foi fechado, sendo lucrativo, segundo o coordenador da época, e ninguém se manifestou em relação ao seu fechamento.

Ai sim, responsabilidade do prefeito irresponsável do período.

O que abre ao atual prefeito ou a Secretaria da Cultura a possibilidade de reabertura do cinema por parte do município. Fica aqui a sugestão.

No tocante ao fechamento do cinema que pertencia a iniciativa privada, sem sombra de dúvidas não é bom que tenha ocorrido seu fechamento, respira-se menos cultura e evidencia-se a situação caótica da economia.

Grande parte dos que gostariam, não frequentam cinemas em razão dos valores dos ingressos, acaba sendo, infelizmente, como o teatro, uma diversão cara para os padrões atuais da nossa economia.

Não tendo frequenta­dores, não há como pagar despesas, aluguel, contabilidade, folha de pagamento, luz, água, telefone, divulgação etc.

Chocante o número de pessoas que se manifestaram contra o fechamento do cinema e que nunca frequentaram ou assistiram um único filme que seja, ou até nem sabiam onde ele estava instalado. Vá ser hipócrita assim na Coréia do Norte, e, não bastasse, politizando a discussão e atribuindo culpa a quem não tem.

Se há culpado ou culpados no fechamento do cinema são todos que não frequentavam e não permitiram que obtivesse lucro para fazer frente as despesas que tinha. Nada no capitalismo sobrevive se não der lucro, só isso, o resto é necessidade de opinar sobre tudo até sobre o desconhecido.

Outra questão foram os enfeites natalinos.

A mesma discussão foi levada a efeito no governo passado de Geninho e depois se alegou que em razão da pressão o ex-prefeito fortaleceu a decoração, mesma coisa está sendo dita agora.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar aos experts de plantão que arte e decoração moram léguas e léguas de distância uma da outra.

Decoração é algo efême­ro, passageiro, feito para alegrar o ambiente e depois jogar no lixo ou guardar para outra ocasião.

Arte tem relação com a história da humanidade, é o homem refletindo sob sua passagem pela terra através do sentimento, expressando pela sensibili­zação a sua compreensão sob a sua história.

Permite e propõe discussão exatamente por isto, exemplificando, o quadro Guernica de Picasso que retrata a guerra civil espanhola e o ataque levado a efeito pela tropa franquis­ta a cidade que dá nome ao quadro, de um lado leva a reflexão aos horrores da guerra dos que combatiam o general e sua ditadura e do outro fomentava a crítica dos que defendiam os absurdos ocorridos no período.

A decoração natalina, por mais que Jesus Cristo tenha sido, de acordo com alguns, a pedra no sapato dos romanos, é para outros, a proximidade do Natal, nada mais que subterfúgio para se estimular as vendas no período natalino.

E a decoração cumpre exatamente este papel e nem se inspira nas ideias proclamadas pelo aniversariante e sim na imagem do bom velhinho.

Talvez tenha havido falhas na decoração e o principal pode ter sido colocado, como governo passado, nas mãos de quem desconhece do assunto a responsabilidade de sua colocação.

Enquanto insistirem em colocarem os elementos menores de decoração, enfrentarão as mesmas críticas que todo decorador enfrenta, e muitos profissionais diante de serviços grandes, as pessoas em sua eterna ansiedade sempre vão se perguntar se só vai ter isto, se já acabou, que está muito pobre.

Por esta razão elementos de decoração sempre se aconselha, se recomenda, que comecem a ser colocados pelos elementos de mais peso que quando se colocar aqueles cuja intenção é alegrar o que está a altura dos olhos, portanto menores, não terá discussão em torno do que pode estar faltante. 

Fica ai a dica para o ano que vem, porque este ano por melhor que seja a decoração, ela já foi comprometida pelas manifestações dos especialistas em tudo da internet, sem contar que agora tudo que se colocar será na cabeça deles, como foi no período Geninho, por conta da irritação por eles manifestada na internet, mesmo que não seja.

O artista plástico Romeu Tamelini, citado nas discussões, embora tenha contribuído na confecção de um ou outro material que compõe o conjunto nada tem a ver com a decoração na sua totalidade.

Culpabilizá-lo pelo resultado soa risível, até porque grande parte destas decorações estão à venda no mercado e sua participação, mesmo que queiram os especialistas, nada tem a ver com o foco de sua produção artística, que diga-se de passagem é de alto nível técnico e de merecido reconhecimento no mundo das artes.

Fora isto, lembrando, que toda discussão, desde que respeitada a civilidade e o espírito da democracia, mesmo nestes tempos em que até o uso adequado de palavras são questionados pelos especialistas, em tudo, sempre será benvinda, sinal que há participação das pessoas na vida da sua cidade.

A coerência, com vagar e carinho, um dia chegará.

 

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