24 de dezembro | 2021

Humanidade perdida entre mortos, amor e ódio, comemora o Natal

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“Um bom Natal aos que amam”.

 

Do Conselho Editorial

Se for avaliar ao pé da letra, de forma racional composta com todas as exigências que se deve preencher para ser feliz, segundo grande parte dos pensadores que ousaram definir o que é felicidade, caminha-se para um dos Natais mais tristes de toda a história moderna.

Os indiferentes, e não são poucos, nem se darão conta da imensa tragédia que os cerca e muito menos se atentarão para o ano catastrófico que se anuncia para muitos.

Estes, que destilaram ódio e desconhecimento nas redes sociais e pela vida, pouco ou nada se importam com o próximo. Na realidade são distantes do próximo e só se aproximam premidos pela necessidade e pelo egoísmo.

Os que detêm sentimentos, alma, espírito e coração sintonizados na poesia do viver pulsando em cada ser presente que respira no universo, nas festividades deste Natal se entristecerão mais que em todos os anteriores.

E há dentro deles motivos mais que especiais para que se sintam entristecidos e desamparados na festa natalina vindoura.

Para muitos, quando criança, ou na fase adulta, nas reuniões familiares em mansões ou casebres, sempre havia uma reunião festiva e religiosa que unia, pais, mães, avós, primos, primas, tios, tias e criançada toda em torno de uma árvore de natal, um pernil de peru, ou uma asinha de frango.

Aquela farofa com passas, a piadinha sem graça do “tiozão” de churrascaria e a distribuição de brinquedos simples ou sofisticados e troca de carinhos e delicadezas em geral.

Era uma festa de todos em todos os rincões e lares do país. Houvesse fartura ou “faltura” sorriam de felicidade bocas cheias de dentes de ouro e banguelas, pois o ideal de fraternidade e a alegria estavam presentes no ar neste dia.

Depois, crescidas as pessoas, amadurecidas para os desencantos do viver, sobrava e sobra a recordação:

Um banco vazio que o avô ocupava; o sofá desocupado que o primo morto em acidente não ocupa mais para dormir; a cadeira que o irmão morto por AVC não ocupará mais; a parente internada por “drogadição”; o irmão que se foi repentinamente; o tio que se suicidou; a avozinha que definha em um leito de hospital; o sobrinho preso; e o parente que desapareceu e nunca mais deu noticias.

E há, em muitos casos, um momento em que as recordações buscam os olhares e de alguém que não está; as palavras confortáveis e amigas de alguém que já se foi; o deboche e a ironia de outros ausentes; o colo de uma pessoa amada; o cafuné; o sabor do macarrão com frango; a missa do galo em plena solidão.

E as lágrimas, depois de viajar pelos labirintos interiores, de ler cada palavra escrita no livro da vida e dos dias vividos de cada um, se esparrama pelos assoalhos de madeira, pelos cimentados cobertos de vermelhão, pelas terras batidas dos barracos, e resta o abraço ao mundo enquanto dor que já foi alegria.

É natural que seja assim. As perdas naturalmente vão alimentando no homem; a noção de finitude vem e quanto mais se vive menos se tem para viver; como em um álbum de figurinhas a que falta completar o circuito, a mais difícil a se encontrar com o infinito pode ser você, ou não.

Esta tristeza que invadia muitos, e agora volta-se ao que era escrito antes, neste Natal será ampliada.

A pilha de cadáveres que a Covid-19 deixou estará aos pés das árvores e dos presépios como um presente macabro a lembrar os familiares a perda dos entes queridos.

E, se em anos anteriores a sensação era de angústia e de infelicidade para os que olhavam a alegria que transbordava nas festividades natalinas; e que fora se entristecendo na medida que se despede de um membro da família, somar-se-á agora a dor infinita que cerca humanidade.

Não há muito que se comemorar e há pouco, muito pouco, para se acreditar que as portas do futuro serão escancaradas para um tempo de oportunidades, bem aventuranças ou esperanças.

Que este Editorial esteja errado e que estas previsões ocorram de forma contrária.

Para o momento o ideal seria orar para que tenha paz os que se foram e moram dentro de cada um que ficou e que consiga a paz os que ficaram e escavam dores com as unhas como se pudessem arrancá-las de dentro si, sem ter noção da profundidade dos abismos interiores.

Um bom Natal aos que amam.

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