12 de setembro | 2021

O golpe se virou contra o golpista?

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(…) o golpe golpeou os golpistas antidemocráticos e aquele policial
que pretendia perseguir petistas e jornalistas, se a intervenção
militar fosse instalada, vai ter que esperar um pouco mais”.

 

Do Conselho Editorial

O editorial deste jornal, edição de 04 de setembro, alertava para a possibilidade de uma tentativa de golpe de estado orquestrado, pasmem, pelo presidente em exercício.

Teoricamente a possibilidade de que isto pudesse vir acontecer, sem subestimar ou superestimar os que estão no poder, parecia ser crível.

Algo inédito no mundo. Maioria dos governantes do planeta se vê em palpos de aranha para conseguir se livrar de golpes planejados pela oposição e o governante brasileiro articula um golpe para ampliação de seus poderes.

Evidente que já dá as cartas no executivo e que através da vergonhosa distribuição de emendas parlamentares conseguiu maioria na Câmara e no Senado. Em suma, domina o Executivo e o Legislativo.

Conclui-se que a função do golpe seria amordaçar o Judiciário através de sua instância maior.

Ocorre que nem sempre as situações ocorrem enquanto imaginadas em gabinetes, nas reuniões palacianas ou nos grupos de WhatsApp.

A figura pública envolvida em um evento imagina, em razão da repercussão, dos gastos, grupos envolvidos, que o mesmo poderá ser um sucesso ou um fracasso.

Bolsonaro e seu conjunto de artistas, comediantes, entre outros, avaliaram pelo movimento das redes sociais e pelo capital envolvido que dois milhões de pessoas estariam na Avenida Paulista no dia 7 de setembro.

A manifestação a favor do presidente Jair Bolsonaro realizada no dia 7 na Avenida Paulista, em São Paulo, reuniu cerca de 125 mil pessoas, segundo a Polícia Militar.

O número corresponde a pouco mais de 6% do esperado pelos organizadores do evento, que previam dois milhões de apoiadores.

Portanto, pela ótica do sucesso e do insucesso a tentativa de golpe foi muito mal sucedida.

O que obrigou o presidente a recuar de seu discurso bélico e na tentativa de refazer pontes colocou os pés pelas mãos e culminou com uma ação que desagradou sua base mais radical.

Bolsonaro, possivelmente amedrontado com a falta de apoio a tentativa de golpe, apelou a Michel Temer, que conseguiu um contato com Alexandre de Morais, para retomar a relação.

Na sequência, Temer escreveu uma carta que Bolsonaro assinou e fez publicar propondo uma trégua na sua revolta contra as instituições.

Porém, com já expresso antes, nem tudo acontece como os poderosos preveem, sua base fanática e radical ficou inconformada com sua demonstração de fraqueza e rendição.

Hoje, sexta-feira, 10, as redes sociais estão povoadas de descontentamentos dos seus apoiadores que se sentem traídos e de várias gravações de muitos dos envolvidos na tentativa fracassada de golpe se sentindo traídos pelo seu líder maior.

O mito que não cansa de suas infantilidades e palhaçadas tenta recuperar sua imagem bélica retomando ataques a justiça eleitoral e ao Ministro Barroso, em prova mais que inconteste de que o Brasil terá que conviver com estas patetices por um bom tempo ainda.

No final, houve um desgaste enorme na imagem do ilustre falastrão que já estava em queda livre nas pesquisas e com tendência a ser ampliada em razão do descontentamento que tomou conta dos radicais que o apoiam, ou apoiavam.

O País segue seu rumo sem direção, vendo desemprego e a inflação em alta e uma discussão agressiva e violenta sobre temas que não permitem visualizar que a volta do crescimento econômico possa estar perto de ser retomada.

As únicas vantagens que se pode observar deste fracasso das hostes bolsonaristas é que o golpe golpeou os golpistas antidemocráticos e que aquele policial que pretendia perseguir petistas e jornalistas, se a intervenção militar fosse instalada, vai ter que esperar um pouco mais.

Os jornalistas agradecem.

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