04 de julho | 2021

No país da corrupção, para alguns, a vida pode valer apenas um dólar

Compartilhe:

“Não há como aceitar tal absurdo como se normal fora,
pois não há como negociar sobre a morte e a dor das famílias”.

Do Conselho Editorial
Se confirmada a denúncia de corrupção no governo federal na compra de vacinas Cova­xin contra a Covid, este será o maior e mais escandaloso e cri­minoso caso de corrupção de todos os tempos na América Latina.

Alguns se perguntarão por que na América Latina e a resposta que nem deveria ser dada, por se tratar de fato por demais conhecido, é que a América Latina tem em seu histórico um número incon­tá­vel de corruptos, canalhas, mas nenhum que se saiba até agora tenha explorado uma tragédia de tal envergadura para se beneficiar economicamente.

Mais de 500 mil mortos e o presidente se esforçando na contramão da história para ampliar o quadro de mortes e de dor, negando a ciência, máscaras e vacinas.

Uma denúncia de uma transação de compra de vacinas sem aprovação da Anvisa que renderia 1.6 bilhão de reais envolvidos aos envolvidos na maracutaia deixa a impressão que as dificuldades que o man­datário colocava para a compra de vacinas era para obter facilidades em ações ilegais e cruéis demais.

O caso: Luis Ricardo que é chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde relatou ao Ministério Público Federal (MPF) e à imprensa ter recebido pressões para acelerar o processo de compra da Cova­xin, da empresa indiana Bharat Biotech.

A negociação está sob suspeita em razão do valor unitário das vacinas a US$ 15 cada, e da participação de uma­ em­presa intermediária, a Precisa Medicamentos.

O deputado Luis Miranda, irmão de Luis Ricardo, após ouvir relato da possível falcatrua, disse ter alertado diretamente o presidente Jair Bol­sonaro sobre as suspeitas que, ao que tudo indica, nada fez para investigar o caso.

O presidente Jair Bolsonaro citou nominalmente como responsável pelo acerto suspeito o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, ao ouvir denúncias de irregularidades na compra da vacina Covaxin.

Na CPI, o funcionário que denunciou o fato, mostrou mensagens que comprovam o ato suspeito. Segundo ele, foram recebidas ligações com questionamentos sobre o contrato.

O servidor afirmou que Bol­sonaro prometeu apresentar as denúncias à PF para investigação.

A PF nega que tenha recebido o pedido de investigação.

Em se confirmando a denúncia de corrupção e superfatu­ramento na compra da vacina Covaxin, estará o país diante de uma história fúnebre de muito mau gosto principalmente se levado em consideração a forma cínica e despu­dorada como o mandatário lidou com a questão das mortes e da pandemia ao longo do tempo.

Nunca se ouviu tantos absurdos da boca de alguém no comando de uma nação como se ouviu nos últimos tempos e nem se viu um comportamento tão contrário às recomendações científicas no trato com a doença como os expressados pelo presidente.

A Procuradoria-Geral da República pediu ao Supremo Tribunal Federal a instauração de um inquérito para apurar se o presidente Jair Bolsonaro prevaricou no processo de compra da vacina Covaxin.

Em resumo: as suspeitas a respeito da Covaxin envolvem uma suposta pressão para sua aquisição, relatada por um servidor do Ministério.

O imunizante é alvo de suspeitas de sobrepreço.

O caso é investigado pela CPI da Covid, no Senado, pelo Ministério Público Federal no Distrito Federal, e pela Polícia Federal.

A vacina é a mais cara entre as contratadas pelo governo federal.

E a Covaxin, ainda é questionada e não tem chancela da Organização Mundial da Saúde.

Por estas e outras é necessário investigação aprofundada para que se chegue aos responsáveis pela possibilidade deste criminoso, mortal e irresponsável ato ter sido cometido.

Não há como aceitar tal absurdo como se normal fo­ra, pois não há como negociar sobre a morte e a dor das famílias.

Mesmo no país da corrupção, a vida que deveria ser super­valorizada, de forma a não ter dinheiro que a pague. Não pode ser banalizada ao ponto de valer apenas um dólar.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas