Do Conselho Editorial

Rei Momo já começa a preparar éditos, decretos, leis, normas para que o império da falta delas marque presença nos salões e avenidas do país.

Com certeza a mais severa de todas as imposições será que reine a paz e a alegria durante quatro dias e quatro noites da tão esperada folia.

Até hoje, os foliões, os passistas, os batuqueiros se aqueciam e aqueciam tambores, cuícas, pandeiros, reco-reco e tamborins, enquanto compositores compunham samba enredos, costureiras alinhavam fantasias e monstruosas equipes preparavam em barracões carros alegóricos.

Hoje, porém, depois de muito ensaio, de afinações e desafinadas tentativas de entrar no ritmo, como a cobra grande do folclore brasileiro, os cordões, ao som de melodias envolventes, de norte a sul do país se arrastarão em sincronia perfeita de sons e cores pela alegre alma deste povo brasileiro.

E se festejará o louvor ao paganismo, e se deixará esquecida pelas ruas a melancolia e a tristeza de tempos de dura e cruel realidade, cada um será aquilo que desejar pelo tempo que foi preciso.

Saltará da vontade e do sonho do anônimo um pierot, uma arlequim, e sorrisos florirão do nascer ao findar dos dias como se nada houvera que não fosse a tal felicidade.

Não haverá ressaca moral ou desânimo que poste ao chão os bem intencionados foliões que se entregarão ao festejar como se fora boca sedenta de doce buscando alcançar o manjar.

Isto tudo e mais um pouco pela nação inteira, que de pátria das chuteiras passa a país do futebol.

Por aqui como não poderia deixar de ser acontecerá dentro dos limites das possibilidades e do histórico local de carnavais a comemoração dedicada aos quatro dias de folia e descontração.

Aquecido os instrumentos, preparadas as emoções, completa a fantasia, ensaiados os sambas enredos, todo mundo na folia, e os que não fazem parte das escolas de samba terão para suas satisfações o espaço público ou os clubes que os receberão para sambar, suar, cantar, recarregar a bateria, buscar energia para a espera de mais um ano até que volte o carnaval e com ele se instale o reino de momo, onde é proibido proibir, onde tudo pode desde que este tudo esteja inserido no pacote da alegria, da esperança e do bem viver.

E que todo mundo se ame e se encante como outrora dizia a canção..Com pandeiro na mão. E um broto do lado. Com dinheiro no bolso. Que eu possa gastar. Vou sair no domingo. Vou cair na folia. E só na quarta. É que eu vou trabalhar.