16 de novembro | 2020

A luta contra o racismo na tela da Globo

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1- Babu Santana interpreta Muhammad Ali, o maior pugilista da História, eleito "O Desportista do Século" / Victor Pollak-RG

 

2- O ex-escravizado, Mahommah G. Baquaqua que viveu entre 1820 e 1857 é interpretado por Reinaldo Junior / Victor Pollak-RG

 

3- Em “Falas Negras”, a vereadora, socióloga, ativista de direitos humanos, assassinada em 2018, será representada pela atriz Taís Araujo / Victor Pollak-RG

 

4- Ativista americano de direito civis, Malcolm X, no especial interpretado por Samuel Melo, por conta de sua inteligência, oratória e personalidade forte, arrebatou multidões. Mas, acabou sendo assassinado / Victor Pollak-RG

 

5- A escolhida para dar vida a Virgínia Leone Bicudo, socióloga e primeira mulher psicanalista brasileira foi a atriz Aline Deluna / Victor Pollak-RG

 

Em todo o Brasil, o Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro e para lembrar a data, a Globo produziu e exibirá o especial “Falas Negras”, escrita por Manuela Dias, a mesma autora de “Amor de Mãe”, e direção de Lázaro Dias.

A atração mostrará 22 depoimentos reais de pessoas que lutaram contra o racismo e pela liberdade, a favor da justiça, em registros biográficos ou em vídeos que a História nos ofereceu. Essas falas históricas são interpretadas por atores, todas em primeira pessoa. Desde os relatos coloniais de Nzinga Mbandi, que datam de 1626, aos ensinamentos pacifistas de Martin Luther King Jr., passando pela veemência de Malcolm X e Angela Davis, até a força de Marielle Franco, ou as dores de Mirtes Souza, mãe do menino Miguel, e Neilton Matos Pinto, pai de jovem João Pedro, “Falas Negras” mostra que o espírito de luta e de resistência dos povos afrodiaspóricos ultrapassa a barreira do tempo, os limites territoriais, e permanece vivo até os dias de hoje.

“O projeto nasceu durante a pandemia, durante três semanas de episódios tão simbólicos. Teve o assassinato do João Pedro; na semana seguinte o assassinato do George Floyd; e depois teve a morte do Miguel, um assassinato indireto que evidencia de forma quase caricatural a nossa chaga histórica. Isso tudo me mobilizou e propus para a TV Globo que a gente fizesse o especial. Sugeri abrir espaço para essas aspas para mostrar a inconformidade com o que a gente vem vivendo há mais de 500 anos”, explica Manuela.

A autora organizou os textos selecionados após uma extensa pesquisa de Thaís Fragozo sobre depoimentos históricos: “Eu vejo o ‘Falas Negras’ como telefilme e como uma obra de arte. Assim como o ‘Human’ (documentário do cineasta Yann Arthus-Bertrand), como ‘Jogo de Cena’ (documentário de Eduardo Coutinho), como muitos filmes que trabalham com depoimentos reais ficcionalizados. Além de ter ‘Caravaggio’ como inspiração para a fotografia”.

Lázaro Ramos, junto da assistente de direção Mayara Pacífico, conduziu por dez dias ensaios feitos de forma remota, nos quais o  elenco contou com a preparação da atriz Tatiana Tibúrcio e teve aulas sobre a trajetória dos personagens dadas pela antropóloga Aline Maia, que também é consultora do especial. “Procuramos atores que fossem bons contadores de história, porque o projeto, na verdade, é isso. Ele não tem grandes movimentos de câmera e mudanças de cenários, aposta na capacidade de os atores contarem bem essa história, que é o que vai fazer com que o espectador se envolva com ela”, explica Lázaro.

A cenografia, assinada por Mauro Vicente Ferreira, levantou um baobá, de proporções reais – sendo cinco metros de altura e a copa de seis metros de diâmetro – dentro do cenário para abrir o especial. Ao longo do programa, os demais cenários contam com projeto cenográfico de texturas, que funcionam como pano de fundo das histórias. “Não queríamos grandes interferências da cenografia, por se tratar de uma temática tão delicada. Pensamos em iniciar o projeto pela África e o que poderia ter essa referência, o baobá, que é a árvore-mãe, um elemento tão presente no continente e com todo simbolismo que ele representa. E o resultado ficou incrível”, comenta Mauro, que também trabalhou com um piso com uma textura semelhante a do barro para compor esse cenário.

Para o figurino do especial, assinado por Tereza Nabuco, a opção foi executá-lo da maneira mais próxima das imagens disponíveis nos canais de pesquisa. “Estamos falando de várias personalidades, algumas desconhecidas da grande maioria. A intenção é aproximar o público dessas imagens e, mais ainda, dessas pessoas. A ideia é abrir a porta para a primeira apresentação. Não é um documentário, portanto, com base na realidade, podemos ficar livres também para reforçarmos o que achamos de relevante em cada um, seja com adereços, cabelo, roupas e, principalmente, as atitudes. O grande destaque nesse projeto são as palavras que saem da boca desses heróis. Se hoje estamos aqui contando essa história para um canal aberto, é porque eles deram muitos passos nessa direção, abriram caminhos”, defende a figurinista.

E todas as falas são muito fortes. Lázaro Ramos confessa que, desde o seu primeiro contato com os textos, ficou mexido. “Quando li o material todo, fiquei parado por um tempo pensando em como que eu ia lidar com aquilo. Mas, ao mesmo tempo, sei que tudo aconteceu de verdade, não tem ficção aqui. É o que a nossa História produziu. Então, senti como um convite para refletir sobre como a gente vê a História. O meu desejo é que as pessoas se sintam motivadas a agir. É a nossa História, foi o que nós produzimos. E aí? O que faremos com isso?”, pergunta Ramos?

No ar, na noite do dia 20, o especial promete emocionar e fazer pensar. Vale a pena conferir!

 

Perfis dos personagens

 

Nzinga Mbandi (Heloisa Jorge) – A rainha do Reino do Dongo e Matamba nasceu na Angola e viveu entre 1583 a 1663, e simboliza a resistência africana à colonização e a comercialização de escravos. Foi uma rainha combatente, destemida, chefiou pessoalmente o exército até os 73 anos de idade.

 

Olaudah Equiano (Fabrício Boliveira) – O escritor nigeriano, que viveu entre 1745 e 1797, foi sequestrado e escravizado quando tinha 11 anos e negociado por comerciantes locais. Ele foi enviado através do Atlântico para Barbados e depois para a Virgínia. Por lá foi vendido a um oficial da Marinha Real, com quem viajou pelos oceanos por cerca de oito anos, período em que aprendeu a ler e escrever. Conseguiu comprar a própria liberdade, e, em Londres, ele se envolveu no movimento para abolir a escravidão. Em 1789, ele publicou sua autobiografia, que é um dos primeiros livros publicados por um escritor negro africano.

 

Toussaint Louverture (Izak Dahora) – O líder da Revolução do Haiti viveu entre 1743 e 1803, foi escravizado até os 30 anos e ainda assim aprendeu a ler e escrever. Ao ganhar a alforria, em São Domingos (atual Haiti), Toussaint liderou o levante que conduziu os africanos escravizados a uma vitória sobre os colonizadores franceses, aboliu a escravidão no local. Capturado e preso em 1802, ele deixou o Haiti sob o comando de Jean-Jacques Dessalines, que venceu a revolução e, em 1804, proclamou a independência de São Domingos.

 

Harriet Tubman (Olivia Araujo) – Ex-escravizada, tem data de nascimento imprecisa, tida c

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