02 de junho | 2022

A Religião Distrai os Pobres?

Compartilhe:

O Projeto

Até onde vai o amor entre irmãs? O que uma seria capaz de fazer para salvar a vida da outra? Para Bea Denham, não há limites quando a segurança da irmã mais nova, Lo, está em risco. É este laço de fraternidade retratado no lançamento “O Projeto”, escrito pela best-seller Courtney Summers, autora da premiada obra “Sadie”. Publicado no Brasil pela Plataforma21, o novo livro da escritora canadense conta a história de Bea: a personagem perde os pais em um grave acidente de carro e se depara com Lo em coma. Finalista do prêmio International Thriller Writers 2022, na categoria Best Young Adult Novel (Melhor Romance para Jovens Adultos), a obra é inspirada no caso Jonestown, um culto religioso estadunidense que, sob a liderança de Jim Jones, levou mais de 40 seguidores à morte. No enredo, a conexão com a história real se dá quando Bea busca em Lev Warren, o carismático líder espiritual do Projeto Unidade, um milagre para curar a irmã caçula. Lev promete salvar a garota hospitalizada, mas, em troca, Bea precisa segui-lo fielmente e abandonar sua vida atual. Quando Lo se recupera e acorda no hospital, seus pais estão mortos, e a única família que lhe restou a deixou para integrar a seita religiosa. Quanto mais a personagem investiga o caso, mais fica convencida de que a tão respeitada organização espiritual e filantrópica frequentada pela irmã esconde segredos perversos. Por meio de uma narrativa tensa, com passagens entre presente e passado, sob dois pontos de vista, Courtney Summers faz os leitores refletirem sobre os perigos de acreditar em falsos líderes religiosos, principalmente os que apresentam grupos de autoajuda e prometem salvação em troca de fidelidade.

 

Da Fossa à Bossa

Imagina só ter a oportunidade de viajar para o ano de 1959? Em “Da Fossa à Bossa”, lançamento de Gisele Fortes, Maria Júlia não se encaixa no seu próprio tempo e detesta tudo que tenha a ver com o mundo moderno. Sem interesses amorosos e nada que a prenda, a jovem tem a oportunidade de voltar aos “Anos Dourados” e se redescobrir. Repleta de referências musicais – incluindo canções marcantes da Bossa Nova e nomes aclamados como Nat King Cole e Frank Sinatra –, a obra traz reflexões importantes ao colocar a protagonista para encarar escolhas difíceis: se render às descobertas do amor verdadeiro ou se tornar uma mulher independente que pode, de fato, fazer a diferença? De forma leve, com cenas divertidas e de aquecer o coração, Gisele Fortes consegue, ainda, trazer um aspecto mais complexo à narrativa. Ao voltar no tempo, Maria Júlia se vê imersa em uma sociedade bem conservadora, com concepções muito diferentes das que está acostumada, principalmente, sobre o papel da mulher – e este será um fator essencial para entender seu verdadeiro lugar no mundo. Visitar o passado, além refletir sobre conquistas e privilégios, é uma forma de ressignificar o presente. Com uma mensagem poderosa de força feminina, “Da Fossa à Bossa” é uma leitura reconfortante para todas as idades, mas principalmente revigorante ao público jovem-adulto que precisa de um empurrãozinho para entender o tamanho de sua influência. O livro tem 178 páginas.

 

Subterrâneo

Sociedades problemáticas e conflituosas, destruição do meio ambiente, relações humanas conturbadas: é desta maneira que a distopia, gênero literário cada vez mais popular entre os adolescentes, prevê o futuro do planeta. Este estilo, que nasceu no pós-guerra e num período de descrédito em relação à humanidade, volta com toda força, desta vez impulsionado pelo cinema e por obras, como “Jogos Vorazes” e “Divergente”. Nesta onda de livros distópicos surgem narrativas nacionais que também incluem no universo literário juvenil questões políticas e sociais sensíveis, como a série distópica “Subterrâneo”, da escritora e médica paulista Anne C. Beker. A trilogia chega ao segundo volume, “Revelação”, e continua a história da protagonista Carolina com críticas à política, imposição de deveres, opressão da liberdade e manipulação do poder. No primeiro livro, “Ascensão”, a civilização foi forçada a viver no subsolo, pois o ar tóxico causado pela poluição tornou a superfície inabitável. A adolescente contesta as injustiças sociais em uma trama cheia de intrigas, traições e jogos de poder. Nesta continuação, Carol retorna e descobre que a Terra voltou a ser um lugar habitável e que as pessoas que ali chegaram criaram uma comunidade mais acolhedora e tolerante. Porém o desfecho da história só se dará no terceiro livro, “Revolução”, previsto para 2023, que seguirá com a crítica à sociedade atual e mostrará os rumos que a humanidade está inclinada a tomar caso nada seja feito para melhorar questões relacionadas ao controle pelo poder, justiça social e, sobretudo, a destruição do meio ambiente. O livro tem 256 páginas.

 

A Religião Distrai os Pobres?

Além das propostas e dos planos de governo, os aspectos socioculturais dos candidatos também impactam diretamente o resultado das eleições. O voto por afinidade religiosa, por exemplo, ganhou força nas últimas décadas. Para analisar e discutir a relação entre religião e política, especialmente entre os grupos evangélicos, o cientista político Victor Araújo lança o livro “A Religião Distrai os Pobres?” pelo selo Edições 70, da editora Almedina Brasil. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Folha em 2020 mostra o crescimento da população evangélica no Brasil. De acordo com o levantamento, 31% dos brasileiros são adeptos da religião, percentual que representa mais de 65 milhões de pessoas – em 2000, por exemplo, este público era de 15,6%. Segundo o autor, esta parcela da população tende a eleger candidatos conservadores que defendem a “moral e bons costumes” e se opõem à redistribuição de renda. O livro é fruto da tese de doutorado de Araújo, que recebeu o prêmio Capes de melhor trabalho nas áreas de Ciência Política e Relações Internacionais, do Ministério da Educação. Na obra, o autor explora de forma aprofundada a mentalidade e os comportamentos dos eleitores evangélicos no Brasil e mostra como este grupo contribuiu para a propagação do conservadorismo. Para compreender o impacto do voto evangélico no Brasil de hoje, Araújo retorna aos anos 1970, quando uma onda de redemocratização atingiu a América Latina. Naquele período, a redução da desigualdade e a redistribuição de renda estiveram em pauta entre os eleitores. Estes tópicos mais à esquerda diferem da atual onda conservadora – uma tendência mundial, inclusive. Com uma linguagem fácil e exemplos práticos, o cientista político mostra como o pensamento do eleitor brasileiro foi do “política e religião não se misturam” para o discurso “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. O livro tem 112 páginas.

 

 

 

 

 

 

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas