29 de agosto | 2011

Maioria dos migrantes prefere voltar à terra natal

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Ao contrário de muitos que fixaram residência no município de Olímpia, e atualmente até mantém negócios próprios, a maioria dos migrantes do norte e nordeste que vêm para trabalhar na região demonstra preferência em voltar à terra natal.

Mas essa decisão, pelo que se depreende dos migrantes entrevistados pelo jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto, não ocorrerá antes de juntarem suas economias e garantirem uma vida melhor em suas cidades de origem.


“É uma migração com objetivo puramente econômico, porque em geral o nordestino tem dificuldade em se adaptar à cultura paulista. A maioria volta à terra natal após alguns anos”, explica a socióloga Juliana Magalhães, que estuda a migração Nordeste-interior paulista.


O pedreiro Alessandro Alves Vieira, 28 anos, por exemplo, mantém seu pensamento a 2,5 mil quilômetros de distância ou três dias de viagem de ônibus para rever a família.


Vieira deixou em Santa Helena, interior do Maranhão, a mulher e um casal de filhos, de 3 e 5 anos, pai, mãe e o irmão. Ele veio para a região em busca de trabalho para proporcionar uma vida melhor para os familiares e realizar sonhos.


Apesar da pouca idade, Vieira se diz um homem cansado da estafante rotina. Nos últimos oito anos ele viajou pelo interior do Estado de São Paulo e passou a maior parte do tempo dentro de construções.


Diferente de um funcionário comum, ele trabalha seis meses seguidos e depois tira férias de 60 dias. Formou a família num desses períodos de descanso. Retorna para a região quando o dinheiro acaba. “É péssimo viver longe das pessoas que você ama, mas é necessário. Na minha cidade, não existe trabalho. Se ficar lá é pior. A pobreza é grande”, justifica.


Para aplacar a saudade, liga religiosamente para a família todo final de tarde. Por telefone, resolve pendências, chama a atenção quando é necessário e exerce o papel de pai e marido. Após saber as notícias, descansa para o dia seguinte. Trabalha das 5h30 às 17h. Ganha R$ 1,5 mil por mês – R$ 800 vai para o Maranhão. Comprou casa própria, mas sonha em mudar para uma melhor. Só não traz a família para a região porque considera o custo de vida alto.


DO MARANHÃO
PARA OLÍMPIA

Em janeiro, Raimundo Nonato Marques dos Santos, 43 anos, deixou a família em Codó, Maranhão, para trabalhar nos canaviais de Olímpia. Chegando aqui, teve dificuldade em conseguir emprego no setor. “A máquina tomou conta de tudo”, resume.


Por isso, mudou-se para Rio Preto, onde fez “bicos” de pintor, até ser contratado como ajudante-geral da Constroeste, há um mês, com salário de R$ 1 mil. Agora, é um dos cerca de 500 que trabalham na duplicação da rodovia Euclides da Cunha (SP-320).


“Eu já disse para a minha mulher: meu sonho de melhorar de vida está aqui em São Paulo”, diz, confiante. Há duas semanas comprou uma moto e, se ficar no emprego, ano que vem traz a mulher e a filha, mas só por um período de quatro anos. Até lá, tem esperança de arrumar serviço “decente” em Codó e retornar à terra natal. “Quem sabe abro uma lojinha”, sonha.


O pedreiro Gleison Dias Meireles, 21 anos, trabalha em Olímpia há um mês. É de Santa Helena, Maranhão. Passa seis meses fora de casa. “Só ando com roupa e a colher de pedreiro. Não tenho televisão”, conta.


Ele recebeu proposta para atuar na construção de um prédio de 16 andares, em Rondônia. Os ganhos chegariam a R$ 4 mil por mês, ou seja, o dobro do que recebe hoje. Não sabe se vai topar o desafio. “O prédio é alto e a cidade longe. Posso chegar e ter medo”, explica.

Meireles viaja há dois anos. Sempre manda dinheiro para a mãe – não revela o valor. Pretende
juntar R$ 5 mil para comprar um carro e fazer bonito da próxima vez que voltar para a cidade natal.



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