10 de janeiro | 2016

2016

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Ivo de Souza

Pelos primeiros dias do ano-novo, já é possível refletir sobre o que nos contempla 2016. Os analistas (economia, política, educação) prognosticam um ano difícil para aqueles que ganham seu dinheiro ralando de segunda a segunda, sem ser apadrinhados por políticos (corruptos), terão que se virar, sempre de forma honesta e responsável. Como sobreviverão os que recebem o vergonhoso salário mínimo? Como cuidarão da saúde, como pagarão as compras nos supermercados (os alimentos tiveram (e continuam tendo) uma alta acentuada nos últimos meses. Como viverão dignamente? E o aluguel, que corrói alta porcentagem do que recebem ao mês. E os remédios? Cada vez mais caros.

Em nível de governo federal, temos o abacaxi (impeachment) para d. Dilma descascar. Na Câmara, o afastamento (ou não) do sr. Cunha. E a Lava-Jato, a Zelotes e outras operações. À boca pequena, comenta-se que as verbas para a apuração da ladroagem no país serão cortadas. Seu Eduardo Cardoso (Justiça) afirmou, reiteradamente, que não faltará dinheiro para as investigações.

O povo (parece) se conscientiza cada vez mais de seus direitos. Os alunos da rede pública deram um belo exemplo de democracia e cidadania quando se manifestaram contrários à reorganização do ensino (cada escola com um ciclo). O pedido de demissão do secretário de Estado da Educação foi por discordar do sr. Geraldo Alckmin, quando o governador, pressionado pelos alunos, teve de adiar o seu projeto – que foi imposto de cima para baixo, sem que fossem ouvidos pais, alunos e professores, os mais interessados no processo ensino – aprendizagem, pois  governantes (está mais do que sacramentado) não priorizam mesmo a educação – a não ser nas campanhas políticas, nos palanques demagógicos, quando buscam (imploram, às vezes) votos dos  incautos, dos que se deixam levar por falsas promessas e mentiras deslavadas.

A classe política (em geral há exceções) começa o ano mais desacreditada do que nunca. A oposição apresenta os mesmos vícios e as mesmas barbeiragens dos que estão no governo. Em quem votar? É outra questão que se apresenta.

Quanto às relações humanas, andam mais frias do que nunca. Prevalecem o egoísmo, a intolerância, a falta de solidariedade. Não há tempo para nada. Tudo se resume ao Face, Ao Whatsapp, ao mundo virtual, muitas vezes usados por covardes que se escondem no anonimato para atacar a honra e a moral das pessoas, ou para difundir a intolerância, o preconceito – e até a violência.

As pessoas (em geral) não conversam mais, não debatem ideias, não discutem assuntos importantes relativos à vida em  sociedade. É a era do descartável, do supérfluo, do fútil e do vazio. Importa muito mais o ter do que o ser. Ter uma bela casa, um belo carrão do ano (melhor se for importado), um belo celular todo cheio de si, do que a amizade, a generosidade, o respeito e o amor. Vivemos dias pesados, tempos bicudos, cinzentos . Onde estão a luz, a centelha, divina, a chama (que aquecem) os nossos corações? Onde brilha a Estrela-Guia, e a consciência de que somos todos iguais, que não pode haver discriminação por conta de cor de pele, de credo religioso e de ideias em geral.

Quando voltará o homem “a andar com fé” (“que não costuma faiá”), quando terá um tempinho para a oração, para promover a paz e o entendimento entre todos? Sonhar é preciso, é possível sonhar o sonho impossível. E realizar o bem que está ao nosso alcance, pois “se não nos amarmos, estamos, definitivamente, perdidos”.

P.S.: Ofereço esse texto de Ano-Novo aos que cultuam a paz, plantam a flor e promovem o entendimento entre os homens, sejam eles brancos, negros, amarelos, vermelhos…

Quem vai restituir a vida dos que sobreviveram à lama da Samarco, que ainda corre rumo ao mar. E, hoje,  Bento Rodrigues “é lugar nenhum”. E a lama que cobre alguns governantes do país, invadindo e cobrindo até pescoço alguns deputados e senadores da República? Até quando o povo brasileiro terá de aturar (e suportar) tanta desfaçatez, tanta desonra, tanto cinismo dos colarinho brancos que saqueiam os  bens do país e sugam o sangue (feito vampiros) dos mais pobres, dos miseráveis, dos analfabetos desse país?

P.S.2: E vem aí a Olímpiada Rio-2016. O que esperar de um evento extraordinário, de tamanha magnitude num país corroído pela corrupção? Esperemos, como Emilio Fernandez Peña, diretor do Centro de Estudos Olímpicos e do Esporte na Universidade Autônoma de Barcelona (ele acredita que os jogos de 2016 serão um marco  para colocar o Rio no “mapa  das grandes cidades modernas do mundo”).

Ivo de Souza é professor universitário, poeta, co­lu­nista, pintor e membro da Real Academia de Letras de Porto Alegre.

 

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