16 de junho | 2019

A mentira NÃO tem mais perna curta

Compartilhe:

Alexandre Pellaes

Você também notou que o tom das postagens nas redes sociais mudou muito nos últimos tempos?

De textos mais autoexpressivos que soavam sinceros, com opiniões, análises, críticas e compartilhamento de ideias próprias, o formato foi migrando para estruturas replicáveis, que englobam:

– storytelling (menção de uma historinha antes da opinião ou da mensagem);

– casos incríveis, conquistas maravilhosas, oportunidades únicas, insights geniais, vendas diretas;

– elogios trocados em “posts” múltiplos.

Na verdade, aconteceu um redirecionamento do papel das postagens. O que antes era visto, primordialmente, como forma de expressão tornou-se ferramenta de construção e gestão de imagem. Cada pessoa se transformou em um “produto” e os textos agora são canais de marketing e vendas.

Seja você o CEO de uma empresa ou um profissional procurando uma oportunidade de emprego, a moda, agora, é fazer a gestão da sua “marca pessoal”. Se você se denominar como empreendedor/a, fundador/a de qualquer iniciativa, aí a parada deixa de ser moda e é tratada como obrigação.

Mas tem algum problema em enxergar cada pessoa como uma “marca”?

Claro que não! Desde que você seja legítimo, honesto, sincero e autêntico – e, principalmente, desde que você mesmo/a escreva seus textos!

(Sim… prepare-se para esta dura realidade… tem um monte de “posts” correndo pela sua “timeline” – e artigos sendo publicados – que não são escritos por quem posta…)

A importância da qualidade do texto e da consistência da estrutura vai fortalecendo o relacionamento com seguidores e potenciais consumidores (das suas ideias e dos produtos que você representa). Por essa razão, o que antes era um “papo” agora virou uma “campanha” – com estratégia!

De forma simplificada, podemos chamar de Copywriting o ato de escrever textos para fins publicitários ou outras formas de marketing. O resultado, chamado Copy, é um conteúdo escrito que visa aumentar o reconhecimento da marca e, finalmente, persuadir uma pessoa ou grupo a realizar uma determinada ação. (Definição é a do Wikipédia – eu achei bastante acurada e fácil de compreender)

Atualmente, existem diversos cursos para desenvolver “Copy” e profissionais especializados em criar a estrutura textual que tenha mais sentido para o perfil do “autor” e sua “intenção” com as postagens.

O tema é complexo, pois mistura a visão real do autor, com a imagem lapidada que ele quer passar e, além disso, porque quem está lendo não tem acesso à informação de que o texto foi escrito por outra pessoa. É como se um cantor afinadinho, cantasse em um show com playback de outro e só algumas pessoas percebessem – alguns se lembrarão do episódio da dupla Milli Vanilli que chegou a ganhar um Grammy por um disco no que eles não eram os cantores de verdade!). A maioria segue se divertindo e comprando CD (tá bom… tô revelando minha idade aqui. Rsrs). O mesmo acontece com livros inteirinhos escritos com “ghost writers” (escritores fantasmas que fazem papel semelhante ao dos produtores de Copy).

Mas… e se uma pessoa tem ideias muito legais e pode realmente contribuir com a sociedade, porém não sabe escrever bem, vamos privar o mundo de todo esse brilhantismo? Não. Nesses casos, a meu ver, é necessário separar a forma de expor a ideia e seu criador. Se você já tem uma marca ou um produto, o texto pode ser publicado em nome da marca e não do representante. Se você é uma pessoa física de grande exposição, talvez queira escolher uma maneira diferenciada de mostrar suas ideias, como vídeos ou transcrições. Se você é palestrante ou pesquisador, mas alguém escreveu seu livro, você não deveria se vender como escritor, mas como parceiro idealizador. Publicar um texto que você não escreveu não me parece uma saída muito ética. (Além de deixar na escuridão algum/a profissional que fez um ótimo trabalho por você!)

Esses são dilemas novos que se cruzam com conflitos éticos antigos por conta das novas formas de relacionamento e alcance online. Estamos expostos aos mais diversos tipos de influência, sem conhecer a intenção real dos influenciadores…

Tem gente que mente sobre o cv tem gente que mente sobre a dieta, tem gente que mente sobre seu desempenho (nos negócios e até entre 4 paredes).

Mas há outro ponto aqui. O pior cego… sabe… aquele que não quer ver? Qual o pedaço de responsabilidade dos efeitos da enganação entre quem mente e quem faz de conta que não percebe a mentira? Quem contrata, faz parceria e dá espaço para os mentirosos? (A gente sabe que tem muita mentira que gera resultado… negócios… exposição positiva)

Mas mentiroso bom, não mente… ele se confunde… ele se expressa mal… ele só carrega um pouquinho no storytelling, mas é tudo verdade! (cof!)

Lembra-se daquele ditado “A mentira tem perna curta.”? Ele se refere ao fato de que, cedo ou tarde, a mentira será descoberta (mais cedo do que tarde, por isso a referência à perna curta).

Agora danou-se tudo…

A mentira não tem mais perna curta.

Estamos vivendo um “Deus nos acuda!”.

No caso de dúvida sobre a autenticidade do conteúdo que você acompanha, apele para o “Pernas pra que te quero!” e FUJA!

Alexandre Pellaes é transformador do mundo do Trabalho e Gestão. Palestrante, fundador da Exboss.com.br. Bacharel em Ciências Contábeis (FEA-USP), coach pelo ICI, possui MBA com foco em gestão estratégica de negócios (ITA e ESPM) e Mestrado em Psicologia Social e do Trabalho no IP USP.

 

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas