04 de agosto | 2018

#curupiralivre. Ou que se faça um plebiscito para decidir se vai ficar preso ou não, após 18 anos atrás das grades

Compartilhe:

“Para acreditar, crer, é preciso antes sentir, entender que existe. Depois, busca-se fazer com que outros aceitem, enxergando ou não, que tem fundamento o conceito a ser passado. Assim nascem os mitos. Geralmente meras construções imaginárias que se propagam de cabeça a cabeça com passar dos tempos. Narrativas construídas sem base, ou com apenas resquícios de realidade”.
Mestre Baba Zen Aranes.

PASSOU O CARNAVAL …

… veio a copa do mundo e agora começam as eleições. Os olimpienses, no entanto, ainda vivem o pequeno hiato que há mais de 50 anos figura como sua festa maior, uma festa cultural que ninguém entendeu até hoje.

SIMPLES ASSIM: …

… uma terra de iletrados que sempre quis espetáculos, festa do peão, teve que engolir um dos maiores encontros culturais do país, mas não sem corrompê-la com desfiles apoteóticos, com belas coxas e belas bun­das e, claro, com a construção de um “Quer­me­ssão”, com muita cachaça e o tradicional churrasco de carne, a linguiça cuia­bana, o frango assado ganho na rifa, a leitoa assada, às vezes pururuca (Isso virou tradição? Virou folclore?).

“NOSSOTROS”, …

… com certeza, temos a oportunidade de olhar para dentro, de tentar reconhecer o passado para ajudar na busca da identidade, para entender o porquê de tantos tipos de preconceitos, tanto ódio, tanta in­com­preensão. Temos a chance de ter contato com nossa cultura. Quem sabe, sabendo de onde viemos, tenhamos condições de entender quem somos e pra onde vamos?

MAS A BASE …

… de nossa cultura popular, de nossas raízes, é calcada na religião que também tem seus mitos cons­truídos e calcificados pela maior obra literária e de guerra já escrita (ou juntada com fins não muito lógicos) em todos os tempos.

SEMPRE É BOM, …

… relembrar que para o mestre Sant’anna a festa do Zé da Festa, não pode ter fins lucrativos, não pode desejar ter recorde de público, nem para ele ser feita. Tem apenas que ser o palco das manifestações autênticas, dos folguedos, dos precursores da propagação às vezes centenária da própria cultura, da nossa raiz.

É APENAS UM …

… palco para o congraçamento dos negrões vestidos de capim (sem paetês e luxo); dos índios caiapós correndo atrás da bugri­nha; dos bacamar­teiros, que com suas espingardas estrondosas, marcam uma passagem importante de nossa história. Enfim, centenas de pessoas que são história viva, se congra­çan­do num local específico, trocando ideias, entrelaçando culturas. Ah, se algum estudioso quiser vir ter o contato direto com a manifestação, sempre será bem vindo. Se alguém tiver interesse de ver quão popular é o seu passado, também. Tra­dição não se estiliza, senão é mera interpretação folk.

AOS TRANCOS …

… e barrancos e sem que ninguém entendesse o real sentido, o mestre levou adiante seu sonho por décadas. Passou sua vida ouvindo estórias que gravava em seu gravador (hoje peça de museu) e que degravava pe­lado em sua cama nas madrugadas, após comer alface refogada na frigideira.

SEU SALÁRIO …

… sempre ajudou grupos não só de Olímpia a reformar fantasias, comprar material para fazer os instrumentos, enfim, para manter a alma viva de nossa cultura popular. Morreu à míngua, mas, à sua moda, feliz, dentro das tristezas que amargava pelas incom­pre­ensões de muitos que fingiam ter bons sentimentos para com ele.

FEZ CENTENAS …

… de pesquisas sobre temas diversos. Suas revistas são uma verdadeira enciclopédia do nosso folclore. Mas sempre destacava que o marco dos festivais que tinha conseguido, inclusive através de norma (decreto): durante os 9 dias de fes­tival, o prefeito entregava a chave da cidade para um dos mitos mais importantes, o protetor das matas, o Curupira.

SANT’ANNA …

… enchia o peito ao explicar que o Curupira, um mi­to do nosso folclore era o patrono nos Festivais e que fazia questão de que ele recebesse a chave da cidade, pois embora apreciassem apenas as atividades paralelas, a cidade vivia, respirava o festival. Tudo parava ou só começava após a festa do Zé da Festa.

O MESTRE …

… se foi em 1998 e não durou dois anos, com a assunção ao poder do médico Carneiro, este cedeu as exigências de representantes de evangélicos e deixou que uma tradição de várias décadas deixasse de existir.

UM VERDADEIRO …

… sinal de fraqueza e um prenúncio de que faria um governo politiqueiro que conseguiu ser pior do que todos os seus antecessores. Sumiu da história.

O OUTRO …

… que o sucedeu oito anos depois, o grande Genial Genioso, também mostrou ser subserviente a uma imposição do que chamava de Conselho de Pastores. Também fez um governo medíocre e que resultou num saldo de 12 processos por improbidade administrativa e nada além de maquiagens e troca de lâmpadas. Muito marketing e muitos erros até em projetos e licitações que fizeram que não conseguisse implantar as três únicas obras de impacto que poderiam ter marcado sua administração. Entrou para a história como pior ainda que seu antecessor.

JÁ O ATUAL, …

… de formação cartesiana, engenheiro que é, caiu na mesma armadilha politiqueira. E o pa­tro­no continuou aprisionado, ao contrário do que possivelmente tenham alegado os representantes dos evangélicos, levando a cidade a um buraco que, talvez, não tivesse entrado se tivesse sido administrada pelo Curupira, não apenas na semana do folclore, mas nos últimos quase 18 anos em que está aprisionado.

CHEGA! …

… ninguém merece ficar preso por tanto tempo. Já se vão 18 anos de desrespeito ao mestre.

ALIÁS, …

… a parceira deste colunista no programa Cidade em Destaque da rádio Cidade, em 98,7 Mhz, por acaso sua filha, Bruna Silva Arantes, deu a ideia de se fazer uma campanha durante esta semana que já tem até camiseta com a hashtag #curupiralivre e a imagem do mito atrás das grades.

VAMOS …

… aguardar e esperar que as coisas melhorem. Pois sem o Curupira, a cidade só foi pra trás, muito mais dos que os pezinhos do mito protetor das nossas florestas.

 

José Salamargo – elaborando uma petição para o Tribunal Penal Internacional, pois acredita que a prisão do Curupira foi ditatorial e sem o contraditório, portanto, inconstitucional. A população teria que ser consultada antes que a mudança fosse feita e não apenas pelo princípio da politicagem barata de se atender os correligionários. #plebiscitocurupiralivrejá.

 

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas