13 de março | 2016

Gratidão, Amizade e Amor (a história de seu João e Dindim)

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Ivo de Souza

Um dia, ele chegou. Coberto de óleo, que alguma empresa irresponsável deixou vazar nas águas do mar.

Seu João recebeu-o: deu lhe banhos subsequentes (até ele ficar limpinho). Serviu-lhe um belo banquete de belas sardinhas . Dindim (esse o nome com o qual seu João batizou o pinguim) devorou a apetitosa iguaria, o fino banquete. E aí começou uma amizade verdadeira, inusitada. Para sempre, atemporal como o afeto, o carinho e o amor de João.

Dindim passou a viver na casa de seu João e no mar à frente da humilde casinha de praia, onde toma gostosos banhos de mar todos os dias, banhos compartilhados com o seu João: o homem e o “bicho” em plena harmonia nas águas do mar: a comunhão entre os dois é mágica, é bela, é tocante.

O pinguim vive a maior parte do ano na companhia de seu João; oito meses vivem dividindo os belos momentos da vida. Depois desse período, o bicho viaja. Fica quatro meses fora de casa (ninguém sabe para onde ele vai ). Volta da viagem e vai direto pra casa, onde seu João o espera paciente. Chega, afaga o rosto de João, delicadamente, com seu bico manchado de vermelho na base. É uma espécie de cumprimento. Seu João acaricia sua cabeça preta adornada de penas brancas. Suavemente. E conversa com Dindim, dando-lhes beijos carinhosos no alto da cabeça. São gestos de boas vindas e amor profundo, matando a saudade que apertava o peito de seu João.

E esses dengues, Dindim só os tem para com seu José. A mulher, d. Creuza, e estranhos não recebem esse afeto inconfundível, especial, com ares de coisa divina. Recebem pequenas e inofensivas bicadelas.

No ano passado, seu João perguntou a Dindim se ele podia antecipar em alguns dias sua viagem de volta: Queria que o pinguim passasse comigo o dia de meu aniversário.

E Dindim chegou poucos dias antes da data marcada. Incrivelmente  e magicamente ele chegou…

Ninguém sabe que mistério (ou mistérios) há nessa relação fraternal entre João e Dindim (seu João chora emocionado ao falar do amigo). Nem seu João consegue explicar tanto amor. Talvez nunca saberá. Só sabe que a felicidade é completa quando avista lá longe no mar seu amigo voltando pra casa… Acredita que Dindim sempre volta por pura gratidão e incomparável amor. Acredito, piamente, nisso, seu João, acredito.

Às vezes, o olhar vago (como se quisesse entender o que se passa entre ele e o pingüim), seu João se pega, sem compreender, dizendo, feliz, a si mesmo que não sabe por que aquele bicho se apegou a ele dessa maneira. Nós sabemos, seu João, Nós sabemos!

Ivo de Souza é professor universitário, poeta, colunista, pintor e membro da Real Academia de Letras de Porto Alegre.

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