04 de janeiro | 2015

Meu velho fraque xadrez

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“um trago de boas festas,

um trago de boas novas”

 

João Victor Moré Ramos

A dinastia de um homem só, sem tomar partido, tem seus limites e contradições, e mesmo que possua um grande legado amplamente distribuído entre fronteiras do passado e presente, – da colônia ao ocidente – incorre-se no risco de não possuir um sucessor a sua altura. Naturalmente, não é preciso nem ao menos tomar nota de seus correligionários, pois o desespero de um homem afirma-se por si só nos caminhos e descaminhos de sua náusea. Não à toa, e sabe muito bem o grande homem, que um dirigente dirigido jamais será um dirigente. E para que haja uma verdadeira direção é preciso uma grande equipe. Uma equipe que pense a cidade como ela realmente é. Uma equipe que seja cidade, que viva a cidade em seu maior direito, difuso, ou, com efeito, do “bem viver”.  Uma equipe, que tenha nome, número, endereço, identidade em apreço, aos que se chamam cidadãos. Sejam eles do mundo ou não, não vem ao caso aqui dissertar sobre tal questão. Mas para que isso ocorra, não basta só o leilão, e seu velho habito de solucionar as coisas de maneira simples e rápida, como cos­tu­mei­ramente os incautos ren­tistas afirmam de antemão. A ave de rapina ou está cega, ou está em extinção.  Das duas uma, me parece que o segundo termo seria mais adequado aos nossos fatos. Uma cidade que se quer estância democrática do lazer e entretenimento, sem uma diversificação econômica estratégica que atue tanto nos setores nevrálgicos do espaço urbano com infra­estruturas sofisticadas voltadas ao social, quanto na imple­men­tação do Orçamento Par­ti­ci­pativo (OP), permitindo os cidadãos influenciar ou decidir sobre os orçamentos públicos, po­de-se manter enviesada num desenvolvimento estagnado, estrangulando a possibilidade aberta de mudar cada vez mais. Nesse sentido, fica clara a gloriosa marcha forçada que se faz em direção as principais rodovias que dão acesso ao grande centro-regional do estado, – diga-se São José do Rio Preto – podendo comprometer a cidade a mais um apêndice territorial.  É preciso ter coragem para assumir os novos desafios que se abrem a uma economia bilionária como é o caso de Olímpia. Uma economia que, embora pereça de bons indicadores sociais, possui um nível de riqueza considerado baixo pelas agencias reguladoras e estatísticas. Outrossim, é preciso reconhecer que em plena crise mundial instalada em 2008, cujos países do centro se afundaram em uma grave recessão, o Brasil ainda se manteve integro justamente por ter adotado políticas desenvolvimentistas e anticíclicas em meio as turbulências do capital financeiro. Por certo, foram justamente essas políticas que influenciaram nitidamente a ampliação das receitas publicas do município pelo compromisso firmado entre governo federal e administração da cidade. Mas, por outro lado, considerando o PIB crescente em que dispõe a cidade nos anos a seguir, um PIB que somente destina 14% ao orçamento publico, não chega a 10% no setor primário – agrícola -, apresenta uma media pon­derável no departamento industrial – com cerca de 23% – e majoritariamente se encontra enraizado no setor terciário com 60%, não deveríamos nos perguntar sobre a complexidade deste ultimo setor, que apresenta mais de 30% do PIB em investimentos diretos numa cidade que recebe 3 mil pessoas por dia – em uma media anual – e mesmo assim se nota uma alta concentração de capitais em uma determinada localização? De todo modo, abdicar de um projeto de “Cidade Unitária” da menina-moça, em favor da construção de um muro de contenção entre as mulheres, é o mesmo que semear e não germinar o bendito fruto.

João Victor Moré Ramos é mestre em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina, poeta e escritor.

 

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