02 de setembro | 2012

Morte justificada, morte banalizada

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VOCÊ …

… aceitaria que pagassem sua conta de água e luz, o muro que você precisa construir, a porta que precisa ser trocada, ou seja lá o que for, ou mesmo que fizessem um churrasco para seus amigos, em sua casa, tudo pago por algum candidato, com o compromisso de votarem nele?

ISSO DEVE …

… estar ocorrendo dezenas de vezes em várias regiões da cidade. Tornou-se uma coisa corriqueira. É público e notório. Ninguém mais esconde. Tem gente que espera a chegada da época das eleições, simplesmente para ganhar material de construção, fazer o puxadinho, ou mesmo obter uma promessa de emprego público, ou seja, para negociar esta coisa boba que é o voto.

É A FALTA DE …

… conhecimento gerada por uma educação que teima em fazer com que alunos visitem a escola, sem compromisso algum com o aprendizado, simplesmente para não figurarem nas estatísticas negativas deste ou daquele governo.

AS PESSOAS …

… não percebem que, ao venderem o voto, estão vendendo a própria alma, pois estão assinando um cheque em branco que pode ser preenchido com incompetência, corrupção e que certamente terá que ser pago em forma de falta de emprego, remédios, médicos e o que é pior, pode culminar em morte dos seus.

FORA

OS VÁRIOS …

… casos divulgados por este mesmo jornal em que existiram suspeitas de falha em diagnóstico, ou mesmo falha do sistema, o que mais chama a atenção é o caso do bebê, cuja mãe peregrinou pelos postos de saúde local sem obter o atendimento necessário para aquele pequeno ser que morreu à míngua.

SE A POLÍCIA …

… em seu inquérito, chegou à conclusão que não houve negligência, mesmo com a recusa de atendimento nos postinhos, é questão técnica. No entanto, ficou escancarado que o sistema de saúde local é capenga. Não funcionou, matou e deve estar matando muita gente por deficiência, por diagnóstico errado de profissionais que trabalham na urgência e emergência sem terem formação para tanto, por falta de remédio, e por outros motivos que a verdade oficial não deixa transparecer.

ALIÁS, …

… já se está verificando, inclusive, além das dezenas de casos de diarréia pelo grande afluxo de pessoas na cidade, também casos de morte por infecção generalizada, ou seja, por infecção hospitalar. São elementos estranhos ao corpo que o sistema imunológico não consegue rechaçar e que acabam ficando resistentes aos vários tipos de antibióticos mais usuais.

TUDO ISSO, …

… unido à sensação de impunidade e a de que quem tem posses e poder tudo pode, leva a um outro ponto do inconsciente coletivo que começa a assustar: a banalização da morte.

FORAM VÁRIOS …

… os mortos injustiçados que sequer tiveram suas verdadeiras causa-mortis conhecidas pela própria família, que quase sempre prefere se calar mesmo diante de suspeitas, em razão dos efeitos rebote que pode sofrer ao se manifestar. Mesmo porque, veem atordoados que nem os que estão manifestando, estão tendo direito à justiça verdadeira, já que, ao final, acabam é sendo culpados, como foi o caso dos pais do bebê que morreu após ficar andando nos braços de uma mãe aflita, no sol quente, por dezenas de quarteirões, mendigando atendimento.

MAS, TALVEZ, …

… pior ainda, é que a população não percebe que, quando escolhe as pessoas erradas para gerir seus destinos, acaba pagando muito mais caro ainda por tudo isso.

A MÁ APLICAÇÃO …

… do dinheiro público gera o aumento da miserabilidade, o analfabetismo generalizado (apenas aproximadamente 15% da população sabem ler e interpretar um texto); os exemplos de impunidade, por sua vez, unido a tudo isso, geram o aumento da criminalidade. Se o bandido de colarinho branco pode enriquecer, porque não se vai roubar ou mesmo traficar? É um circulo vicioso.

EM QUEM …

… nossa juventude vai se espelhar para formar seus conceitos morais quando chegarem à idade adulta? Nos bandidos de colarinho branco?, ou nos do mundo paralelo que também criam impérios através das drogas? Eis a questão!

MAS TAMBÉM …

… temos entre jovens, diante desta realidade obtusa, acéfala, a falta de perspectiva de vida, ou mesmo conhecimento do que seria viver, que leva cada vez mais verdadeiras crianças a fugirem da própria realidade através das drogas.

E NESTES …

… mundos irreais, o criado pelos bandidos de colarinho branco e o das drogas, a morte é muito natural. É banal. Pode acontecer por simples falta de socorro, por desavença momentânea entre companheiros de droga e o que é pior e que começou a ocorrer em Olímpia: para roubar, ou seja, através do latrocínio.

ANTIGAMENTE …

… a gente verificava alguns homicídios por ano, em razão de disputas familiares, por ciúmes, ou por desavenças mil. Chocava. Hoje, com o crescente número de assaltos a mão armada e com a proliferação do uso de drogas, quem pensa está estupefato, assistindo sem poder fazer nada todo tipo de morte e agora até as em que se mata para roubar. Quem não pensa e já está acostumado em ver vários morrerem por causas banais, já não choca tanto nem a morte para roubar.

NO CASO …

… recente da morte do publicitário que se hospedou em Olímpia para trabalhar em Barretos durante a Festa do Peão, o choque foi inevitável pelos requintes de crueldade.

O VISITANTE …

… pelo que se entende, apanhou muito antes de morrer. E mesmo se estivesse drogado (o que ainda parece não ter sido provado) deve ter sofrido muito. Pior ainda é, após ter sofrido todo tipo de agressão, ter morrido afogado, como a polícia suspeita.

POR MAIS …

… que as circunstâncias possam vir a pintar um quadro diferente, nada justificará, nenhuma explicação será suficiente para aceitar que um ser humano seja agredido da maneira que foi e ainda seja jogado dentro de um rio, todo amarrado, e com pedras a manterem seu corpo no fundo, para evitar qualquer sopro de ar que pudesse mantê-lo entre os vivos.

NÃO TEM …

… como qualquer inquérito policial, qualquer investigação que seja, qualquer resultado que aponte a perícia, justificar uma morte com tantos requintes de crueldade.

MESMO …

… que os possíveis envolvidos pertencessem à classe dos inatingíveis, dos detentores do poder, não teria como, a exemplo da mãe do bebê, colocar a culpa da morte cruel, no próprio morto.

NO ENTANTO, …

… muitos estão tristes com a também cruel constatação de que são vários os adolescentes envolvidos. Embora a polícia tenha indiciado apenas quatro, entre seus amigos e colegas de escola é fato corrente que o número é maior.

CIRCULA …

… a versão de que seriam oito os menores que estariam no rancho à beira da rio Cachoeirinha no dia dos fatos.

José Salamargo … incrédulo, principalmente por entender que o fundo do poço ainda está longe e que, segundo a história, é preciso atingir todos os limites para que se reconstrua algo melhor.

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