23 de março | 2014

“Mudaram as Estações… Nada mudou…”

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Ivo de Souza
A natureza – que sempre se regulou por si mesma – devastada pelo bicho homem desregrou-se, ou melhor, conseguiu o ser humano botá-la desregrada, nervosa, brava e triste.

Estamos vivendo o verão mais quente de muitos anos; há meses, no vocabulário do brasileiro, uma palavra veio à tona e não saiu mais: calor. É quente tanto durante o dia quanto à noite. Dormir bem? Anda difícil. E março ainda não terminou… Rios e reservatórios de água, represas e águas das hidrelétricas estão à míngua. Tudo abaixo de seu nível ideal. Riachos e reservatórios morrem de sede…

Por outro lado, uma cheia sem precedentes inunda regiões do norte do Brasil. O belo rio Madeira anda bufando, raivoso e forte como um touro. Tudo (ou quase tudo) está sob a força, a fúria das águas, revoltadas com a insanidade do homo sapiens, o único ser na face do planeta que destrói a sua própria casa… o seu próprio hábitat.

Dizem os estudiosos do assunto que esse verão de “fritar ovo no asfalto” vai continuar. Precisamos, urgentemente, repensar certos hábitos, principalmente em relação às coisas da natureza: ao uso, sem desperdício, da água, ao des­ma­tamento, às queimadas (aqui em nossa cidade há pessoas que têm o irresponsável costume de atear fogo no mato que cresce e seca em terrenos baldios e no seu próprio lixo) – nas tardes de calor quase insuportável, é um inferno ter que respirar a fumaça tóxica dessas irresponsáveis queimadas; fechar a casa é impossível. Morre-se sufocado. Em certos casos é preciso chamar os bombeiros para debelar o fogo e acabar com a fumaça e com o perigo de o fogo atingir outras áreas.

Aprender a respeitar a Mãe Natureza é o nosso grande desafio (de todos nós), individual e coletivamente; precisamos aprender as leis da sustentabilidade, do desenvolvimento sustentável e da chamada economia verde. Que esses temas não sejam apenas uma onda de modernidade e de modismo. Mesmo porque não há nada mais primitivo que o respeito e o manejo adequado (sustentável) da agricultura, da pecuária, enfim, do cuidado com a terra (e com a Terra).

Outra tarefa imprescindível e urgente é o zelo que todos devemos ter pelas nossas áreas urbanas. As cidades são a nossa macrocasa. Nada de descartar lixo em qualquer lugar. Cidades sujas são sinal de atraso; mas não devem ser limpas só porque recebem visitantes (turistas), mas devem ser limpas porque é onde vivemos. Os turistas vêm  e vão embora. A cidade e nós ficamos aqui. É aqui que moramos, é daqui o ar que respiramos, a água que bebemos.

Ouvindo a profética Cássia Eller, fico a pensar tantas coisas. Coisas que têm a ver com o que ela canta; outras, talvez, nem tanto. Mudam as estações… Os homens continuam on line (o tempo todo), conectados na internet, cidadãos pós-modernos, “ligados no computador”,ligados no virtual e desligados do mundo real. Discute-se mais a ficção dos folhetins globais do que a vida em família, o crescimento (ou não) ético, intelectual e cultural dos filhos (que amam um celular, um “I não sei o quê!” e detestam um bom livro) não é discutido.       Sem falar do con­sumismo desenfreado, da valorização do descartável (as próprias pessoas são descartáveis) e da idolatria dos shoppings (os jovens do “rolezinho” não querem ficar à margem: querem marcar encontro nos shoppings centers da vida (nos mais chiques, é claro, pois “também” são filhos de Deus). Sem falar da banalização da violência e da vida humana, do desamor, da concorrência desleal, da falsa amizade, da intolerância (em todos os sentidos), do preconceito, da discriminação e do poder econômico (do vil metal) “que ergue (‘espi­gões’) e destrói coisas belas”… Só uma perguntinha final: “Você é on ou  é off? Bom-dia. E estamos conversados.

 

P.S.: A pergunta final foi retirada de um belíssimo vídeo que vi outro dia.

Ivo de Souza é professor universitário, poeta, co­lu­nista, pintor e membro da Real Academia de Letras de Porto Alegre.

 

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