23 de fevereiro | 2020

Não nos leve a mal hoje é carnaval

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Este editorial poderia discutir tantas outras coisas sérias ou não, mas, como diz a letra da música: “Não nos leve a mal, hoje é carnaval”.

Do Conselho Editorial

Onde quer que esteja perdido ou encontrado, sozinho ou separado, angustiado ou feliz, nos braços da pessoa amada, jogado na sarjeta ou se lambuzando na doce aventura de viver, nos imensos deste território, ouvirá soar o repique de um tamborim ou o som de uma marchinha.

Este país que perde, ganha e se encanta com o colorido das ruas, com a beleza das moças, o sorriso dos moços, a alegria das crianças e o saudosismo dos idosos, quando emerge do rádio, televisão ou das ruas, a música carnavalesca interrompe sua marcha e canta a plenos pulmões.

E assim segue o bloco até quarta-feira de cinzas, quando enfim ressurge da ressaca e se despede dos festejos de final e início de ano, essa maravilhosa pátria dos chocalhos, surdos, caixas, pandeiros, agogôs e tamborins.

Neste período haverá, como em todos os outros os entristecidos, os cuja alma navega pela escuridão, pelos desconsolos, mas o que impera de maneira mais abundante é a energia que contagia e domina sobre angústia de se estar a viver na corda bamba neste grande circo de ilusões.

Não há que se falar das coisas ruins que rodeiam o dia, dia a dia, é tempo do samba e do sambar sem compromisso, flanando nas avenidas e nos salões passo leve, deixando que a vida embale e carregue melodiosamente a ternura deste momento de espanar o pó das canelas e balançar o esqueleto.

Tempo do bem bom, do se amar sem pedir troca, de espalhar confetes e jogar serpentinas nos remorsos, nos medos, nas desesperanças e fingir que os dias são todos compostos por luz e sol e que a tristeza não tem morada no coração de ninguém.

É samba do pé ao espírito por quatro noites e quatro dias, depois é o depois e no depois as pessoas podem muito bem pensar sobre ele depois, o importante é pensar no agora antes que passe e se transforme em saudade daquilo que não se viveu por pensar demais.

Cada um que viveu sua máscara de cidadão decente e do bem ou o contrário disto também se fantasie de Batman ou Coringa e destruam a Gotham City particular de cada um ou a salvem mais uma vez pra ser destroçada pra ser salva depois.

Que não se fale de dores, que não se gritem as angústias, nem se chore de amores que todas estas coisas, como o país, voltarão a ser discutidas na quinta-feira ainda sob o efeito dos lança-perfumes, da cachaça e outros tantos paraísos artificiais que, como o carnaval, podem ser uma fuga a tantas necessidades humanas não satisfeitas.

E sendo ou não sendo pouco importa, pois o que importa mais é que agora é período de ser tudo que se pode, deve ou gostaria de ser e assim de Pierot, Arlequim, Palhaço, Bailarina, cada um e cada uma viva suas experiências da forma mais saudável e pacífica possível e deixe para o depois o forma­lismo e a dureza que a existência obriga.

Este editorial poderia discutir tantas outras coisas sérias ou não, mas, como diz a letra da música: “Não nos leve a mal, hoje é carnaval”.

Tanto riso, oh quanta alegria. Mais de mil palhaços no salão…


 

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