20 de março | 2016

O temeroso momento em que os fins justificam os meios

Compartilhe:

GENTE, …

… o clima é de temor. Tudo pode acontecer e o que se pode vislumbrar não é muito bom.

OS ÚLTIMOS …

… acontecimentos, pelo menos em razão de tantas opiniões diferentes, mostram que, na verdade, o direito sempre pode ser interpretado para um dos dois lados. É o chamado silogismo. Se tem acusação, tem sempre quem defenda que os fins justifiquem os meios, a lei severa, os extremismos para se “fazer justiça”, sempre levando em conta o velho e temeroso adágio que diz que “os fins justificam os meios”.

NO ENTANTO …

… se faz preciso lembrar que quem se serve de meios ilegítimos ou injustos, acaba por destruir a retidão, a qualquer sinal de justiça que os fins poderiam conseguir.

PARA QUE NÃO SE …

…confunda os sentidos e mesmo para que não digam que este ser está isolado em sua tese, ao invés de me manifestar diretamente, peço licença para transcrever na íntegra um artigo do filósofo da USP, Vladimir Safatle.

PARA O FILÓSOFO, …

… o juiz Sergio Moro conseguiu o inacreditável: tornar-se tão indefensável quanto aqueles que ele procura julgar. Contrariamente ao que muito defenderam nos últimos dias, suas últimas ações são simplesmente uma afronta a qualquer ideia mínima de Estado democrático. Não se luta contra bandidos utilizando atos de banditismo.

SEGUNDO ELE, …

…  a divulgação das conversas de Lula com seu advogado constitui uma quebra de sigilo e um crime grave em qualquer parte do mundo. Não há absolutamente nada que justifique o desrespeito à inviolabilidade da comunicação entre cliente e advogado, independente de quem seja o cliente. Ainda mais absurdo é a divulgação de um grampo envolvendo a presidente da República por um juiz de primeira instância tendo em vista simplesmente o acirramento de uma crise política.

E VAI ALÉM: …

… “alguns acham que os fins justificam os meios. No entanto, há de se lembrar que quem se serve de meios espúrios destrói a correção dos fins. Pois deveríamos começar por nos perguntar que país será este no qual um juiz de primeira instância acredita ter o direito de divulgar à imprensa nacional a gravação de uma conversa da presidente da República na qual, é sempre bom lembrar, não há nada que possa ser considerado ilegal ou criminoso”.

COMPLEMENTA AINDA …

… Safatle: “Afinal, o argumento de obstrução de Justiça não para em pé. Dilma tem o direito de nomear quem quiser e Lula não é réu em processo algum. Se as provas contra ele se mostrarem substanciais, Lula será julgado pelo mesmo tribunal que colocou vários membros de seu partido, de maneira merecida, na cadeia, como foi no caso do mensalão”.

O FILÓSOFO CONCLAMA …

… também: “Lembremos que “obstrução de Justiça” é uma situação na qual o indivíduo, de má-fé e intencionalmente, coloca obstáculos à ação da Justiça para inibir o cumprimento de uma ordem judicial ou diligência policial. Nomear alguém ministro, levando-o a ser julgado pelo STF, só pode ser “obstrução” se entendermos que o Supremo Tribunal não faz parte da “Justiça”.

“A FRAGILIDADE …

… do argumento é patente, assim como é frágil a intenção de usar um grampo ilegal cuja interpretação fornecida pelo sr. Moro é, no mínimo, passível de questionamento. Na verdade, há muitas pessoas no país que temem que o sr. Moro tenha deixado sua função de juiz responsável pela condução de processo sobre as relações incestuosas entre a classe política e as mega construtoras para se tornar um mero incitador da derrubada de um governo”, explica.

PARA VLADIMIR …

… A Operação Lava Jato já tinha sido criticada não por aqueles que temiam sua extensão, mas por aqueles que queriam vê-la ir mais longe. Há tempos, ela mais parece uma operação mãos limpas maneta. Mesmo com denúncias se avolumando, uma parte da classe política até agora sempre passa ilesa. Não há “vazamentos” contra a oposição, embora todos soubessem de nomes e esquemas ligados ao governo FHC e a seu partido. Só agora eles começaram a aparecer, como Aécio Neves e Pedro Malan.

O FILÓSOFO …

… é enfático: “Reitero, (…) não devemos ter solidariedade alguma com um governo envolvido até o pescoço em casos de corrupção. Mas não se trata aqui de solidariedade a governos. Trata-se de recusar naturalizar práticas espúrias, que não seriam aceitas em nenhum Estado minimamente democrático. Não quero viver em um país que permite a um juiz se sentir autorizado a desrespeitar os direitos elementares de seus cidadãos por ter sido incitado por um circo midiático composto de revistas e jornais que apoiaram, até o fim, ditaduras e por canais de televisão que pagaram salários fictícios para ex-amantes de presidentes da República a fim de protegê-los de escândalos”.

O PROFESSOR …

… ressalta ainda: “o Ministério Público ganhou independência em relação ao poder executivo e legislativo, mas parece que ganhou também uma dependência viciosa em relação aos humores peculiares e à moralidade seletiva de setores hegemônicos da imprensa”.

E CONCLUI: …

… passam-se os dias e fica cada dia mais claro que a comoção criada pela Lava Jato tem como alvo único o governo federal. Por isso, é muito provável que, derrubado o governo e posto Lula na cadeia, a Lava Jato sumirá paulatinamente do noticiário, a imprensa será só sorrisos para os dias vindouros, o dólar cairá, a bolsa subirá e voltarão ao comando os mesmos corruptos de sempre, já que eles foram poupados de maneira sistemática durante toda a fase quente da operação. O que poderia ter sido a exposição de como a democracia brasileira só funcionou até agora sob corrupção, precisando ser radicalmente mudada, terá sido apenas uma farsa grotesca.

TENHAM …

… como minhas, em gênero, número e grau, as palavras do professor da USP.

José Salamargo … já preparando a casinha em cima de árvore frondosa no meio da selva Amazônica, caso se instale algum tipo de ditadura, seja militar, seja das elites, ou seja do judiciário. Melhor ter os animais silvestres do lado do que conviver com uma geração de alfabetizados funcionais que são programados para destilar ódio, intolerância e nenhum bom embate de ideias ou opiniões saudáveis, refletidas que levem realmente ao Estado de Bem Estar Social.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas