03 de fevereiro | 2013

Santa Maria, oremos pelo país das tragédias

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Do Conselho Editorial

 A tragédia de Santa Maria, ao contrário do que muitos tentam passar a impressão, não está localizada apenas no solo de Santa Catarina, está esparramada pela extensão de todo território brasileiro.

Não vai se traçar aqui nenhum paralelo com nada ou com coisa alguma que não esteja relacionada ao que ocorreu naquela cidade ao contrário do que muitos estão a fazer na imprensa, nos órgãos públicos, na rede social e na seara política.

 A tragédia de Santa Catarina, acima de qualquer coisa, deveria trazer apenas lágrimas, dor e vergonha por algo tão lastimável estar ceifando vidas que poderiam produzir tanto em prol do seu país.

Jovens que, provavelmente, na sua grande maioria, nem se conheciam direito, provenientes de famílias de várias regiões do Brasil para aquela cidade se deslocaram para realizarem o sonho do curso superior, da formação.

E em uma noite como tantas, foram buscar lazer, distração, que nem só da labuta é feita a vida do homem.

A irresponsabilidade, a inconseqüência, a visão do lucro a qualquer custo havia construído, para infortúnio destes jovens, de suas famílias e das almas sensíveis brasileiras, uma câmara de gás acoplada a um forno crematório que enlutaria a nação.

Olhos marejados de milhões de cidadãos que naquele domingo sentiram como se fossem também suas as vidas que se despediam do contato humano, naquele momento, que estará para sempre gravado como um dos mais tristes ocorridos na pátria de chuteiras.

E chorou mais ainda quando viu corpos jovens que iniciavam sua trajetória histórica estendidos sem vida no asfalto, sendo transportados para estádios para, enfileirados, serem reconhecidos.

E soluçou todas as angústias e gritou todos os gritos de dores quando se soube que aqueles adolescentes plenos de vida e sonhos, que respiravam horas antes, eram depositados em caminhões com câmaras frigoríficas para esperarem identificação e autópsia.

E se desmanchou em prantos como se fora pai, mãe, tio, avô, primo, amigo daqueles esperançosos jovens que a tragédia humana levava para sempre e cujos caixões foram colocados em um estádio para um enterro coletivo.

Nada demais em função do tamanho e da extensão da tragédia traduzida em poucas palavras por um estudante que vivenciou o pavor do incêndio e comparou as cenas que viu como se fora as de uma guerra.

Tudo de menos, porém, se depois de derramadas todas as lágrimas não se voltasse os olhos deste país para a total falta de tudo em todas as áreas dominadas pela mentira e pela alienação.

É inacreditável que enquanto se discute o que possivelmente pode ter ocorrido em Santa Maria e os inescrupulosos governantes de lá tentam se eximir de possíveis culpas relacionadas ao ocorrido, os sem escrúpulos algum, montam verdadeiras brigadas para fecharem estabelecimentos irregulares como aquela boate, pelo país inteiro, provando indiretamente que a tragédia de Santa Maria poderia ter acontecido em qualquer cidade do país, até aqui, nesta cidade.

Não fosse corrupto e corruptível o sistema nada disto precisaria ser feito, e a própria tragédia poderia ser fruto de uma falha humana, de uma inconseqüência, nunca de uma irresponsabilidade muito comum a órgãos públicos que deveriam cumprir funções de fiscalização e vistoria, mas, geralmente, por conta de propinas, fazem vista grossa a muita coisa.

O resultado da ausência do Estado está na tragédia de Santa Maria, e poderia estar em Belém, ou no Rio de Janeiro, São Paulo, Olímpia, Rio Preto, senão que razão haveria para se fazer blitz em todas as empresas autorizadas, após a tragédia?

O povo chorou estas mortes e chorará muitas outras pela irresponsabilidade dos homens públicos que elegeram para governá-los, que no meio do transe emocional que a população se encontra, ainda arranja motivos para fazer demagogias, para demonstrar claras hipocrisias levando ações que deveriam ser levadas sempre, com responsabilidade social, no meio da comoção, pensando que as pessoas vão imaginar que eles cumprem com o que deveriam ser seu dever, quando na verdade apenas estão mostrando o país cruel que criaram para os cidadãos de bem viverem e morrerem, asfixiados pela corrupção e envenenados diretamente todos os dias pela insensibilidade das aves de rapina travestidas de homens públicos.

Choram os brasileiros, por estes jovens cujos sonhos foram queimados junto com suas alegrias e esperanças.

Choram os brasileiros por que crêem que este é um país de tragédias anunciadas.

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