23 de junho | 2013

Será a primavera árabe? Apenas uma primavera tropical? Ou uma campanha de Canudos?

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O QUE SERÁ …

… que será, que andam suspirando pelas alcovas? Que andam sussurrando em versos e trovas? Que andam combinando no breu das tocas? Que anda nas cabeças, anda nas bocas? Que andam acendendo velas nos becos? Estão falando alto pelos botecos. E gritam nos mercados que com certeza, está na natureza, será, que será? O que não tem certeza nem nunca terá! O que não tem conserto nem nunca terá! O que não tem tamanho…

O QUE SERÁ? …

… que será? Que vive nas ideias desses amantes. Que cantam os poetas mais delirantes. Que juram os profetas embriagados. Está na romaria dos mutilados. Está nas fantasias dos infelizes. Está no dia a dia das meretrizes. No plano dos bandidos, dos desvalidos. Em todos os sentidos será, que será? O que não tem decência nem nunca terá! O que não tem censura nem nunca terá! O que não faz sentido…

O QUE SERÁ? …

… Que será? Que todos os avisos não vão evitar. Porque todos os risos vão desafiar. Porque todos os sinos irão repicar. Porque todos os hinos irão consagrar. E todos os meninos vão desembestar. E todos os destinos irão se encontrar. E mesmo padre eterno que nunca foi lá. Olhando aquele inferno vai abençoar! O que não tem governo nem nunca terá! O que não tem vergonha nem nunca terá! O que não tem juízo…

EMBORA …

… Chico Buarque já tenha declarado no passado, ao Jornal do Brasil: “acho que eu mesmo não sei o que existe por trás dessa letra e, se soubesse, não teria cabimento explicar…”, não há como não entender como manifestação poética do autor refletindo o contexto, o clima, o tom de medo que imperava na época em que foi feita, em pleno auge da ditadura militar que assolava este país (começou a ser divulgada em 1976).

OS JOVENS …

… manifestantes, que quiserem “perder” um tempinho e ouvi-la, tentando sorvê-la com um imaginar de hoje, certamente sentirão que tem muita coisa que pode ser encaixada nas emoções, nos sentires que devem estar vivendo em meio ao movimento que foi deflagrado na última quinta-feira, quando saíram em passeata pelas ruas da cidade manifestando o seu descontentamento com a situação atual de total desrespeito ao cidadão por parte dos detentores do poder em todas as esferas que, ou desviam, simplesmente colocam no bolso, ou aplicam mal o dinheiro público.

EMBORA RELEMBRE …

… uma época de triste lembrança, que quem viveu ou estudou e entendeu o que aconteceu, não quer que volte nunca mais, muitas coisas ocorrem hoje que, mesmo que de forma diferente ou com outra roupagem, ocorreram naqueles tempos.

E A COISA …

… estava caminhando para um estado de calamidade, de total degradação e deterioração da coisa pública, já que de todo o imposto arrecadado e que deveria retornar em forma de serviços à população, muito mais da metade, acreditam alguns, já estaria sendo enterrado em bolsos de verdadeiros bandidos que corroem esta nação.

O MOVIMENTO …

… que já se alastrou por todo o Brasil, apenas reflete esta situação de caos público provocado por esta maldita corrupção que já estaria chegando a percentuais insustentáveis e insuportáveis.

NO ENTANTO, …

… se morrer na praia, ou seja, se for esmorecendo e todo mundo for se acomodando novamente, voltando ao estágio de letargia que predominou nos últimos anos, continuaremos a ver triunfar a bandidagem se locupletando com o dinheiro público enquanto milhares de crianças, idosos e descamisados continuarão com suas vidas à mercê de uma saúde capenga que mata por incompetência, de uma educação que se recusa a formar cidadãos críticos, pois estes podem ser os manifestantes do amanhã, e de uma economia que privilegia os amigos dos reinos e não cria postos de trabalho suficientes para incluir os sem perspectiva de vida.

O ATUAL MOVIMENTO…

… por tentar ser apartidário e por ser amplo em suas reivindicações, ao contrário do que possam pensar os pelegos e puxa-sacos que vivem das migalhas do poder, não pode ser considerado dispersivo, pois, é isso, que realmente está tirando o sono de todos os gover­nantes em todos os cantos deste país.

A INSATISFAÇÃO …

… é generalizada. É contra tudo e contra todos os que estão provocando este Estado de Injustiça e de Mal Estar Social; um regime aristocrático que domina por mecanismos considerados legais, mas totalmente injustos e até imorais, que tornam os partidos verdadeiros feudos de bandidos que decidem quem pode e quem não pode se candidatar e afugentam qualquer cidadão com resquício de moralidade. Só bandido pode se candidatar (claro que com raras exceções).

O MOVIMENTO …

… embora sem uma bandeira única, sem um apelo unânime, na verdade é um grito de desespero que simplesmente passa o recado de que a situação de caos chegou a um ponto que não pode continuar. É preciso ser resgatada a moral, a ética e principalmente que o povo seja respeitado como o verdadeiro detentor do poder e não este fingimento que aí está, em que a verdade é escamoteada e vive-se numa situação de disparidade gritante entre o oficial e o real.

CHEGAMOS AO  …

… fundo do poço? Talvez tenhamos chegado além. Pode ser que tiraram o fundo deste poço e estejamos sem chão para apoiar. Estamos navegando sobre águas da impunidade, da bandidagem travestida de governante, de deputado, de juiz, de promotor, de empresário e o escambau, sem um pingo de pudor, de respeito ao próximo, de ética, de moral.

A SITUAÇÃO …

… fica preocupante na medida em que nunca existiu e nunca existirá nenhum movimento que não crie antagonismo entre opressores e oprimidos.

POR MAIS …

… pacífica que sejam as manifestações, sempre existirá quem se aproveitará da situação, do clima de nervos à flor da pele, da possibilidade de confronto com os soldados dos opressores (até mesmo gente de partidos, da própria polícia, ou mesmo arapongas infil­tra­dos); sempre existirá a possibilidade do uso da violência para aplacar a ira daqueles que estão suportando as piores violências pro­vocadas pelo desgoverno que não consegue mais fazer nada dentro dos princípios morais, da ética e da verdadeira justiça social.

SE OS NOVOS …

… jovens e velhos caras pintadas continuarem nas ruas mostrando o seu descontentamento, os bandidos terão que se reeducar e construir um novos sistema eleitoral que viabilize, que promova a verdadeira abertura para que os honestos consigam o direito de se candidatarem sem ter que vender a alma para o diabo e se converterem ao banditismo ao serem eleitos. Pois, ditadura nunca mais.

SERÁ PRECISO …

… criar mecanismos que coíbam a corrupção e coloquem realmente na cadeia os piores bandidos que são os assassinos que matam por desviarem dinheiro que serviria para curar crianças e adultos.

SERÁ PRECISO …

… principalmente investir maciçamente na educação, pois historicamente não existe outra maneira de fazer uma nação se desenvolver, a não ser criando cidadãos críticos, mas com conhecimento suficiente para liberar o super-homem que existe dentro de todos, segundo Nietzsche, que desperta através da criatividade, da arte.

SE O POVO …

… for para as ruas, ou se os caras-pintadas continuarem seus protestos, mesmo que pacificamente, ou quase, tudo isso poderá ocorrer. Mas, também poderá ser despertado o estado de confronto entre manifestantes e repressão do Estado e a situação chegar ao ponto de descontrole tal que possa culminar com a mesma situação que acabou se concretizando nos países árabes, na chamada primavera árabe.

LÁ A JUVENTUDE …

… e os descamisados, muito mais descontentes, eis que sobre o jugo de ditadores “quase perpétuos” acabaram trocando seis por meia dúzia, avançando muito pouco em termos principalmente de liberdade e bem estar social. Na maioria houve avanços, mas muito pouco pelo que se faz necessário.

NOSSO POVO …

… tem características diferentes, principalmente em termos de religião. Aqui não impera o fanatismo religioso que sempre cria uma realidade mais mística do que verdadeira que leva a situações imprevisíveis.

É PRECISO …

… acreditar que muito se pode conseguir através da não violência, mas também é preciso ter noção de quem mesmo na Índia, onde Mahatma Gandhi pregava a não violência, muitos dos seus foram mortos pelos regimes de opressão e muito sangue foi derramado até chegar ao que se tem hoje e que está muito longe do ideal.

MAS TAMBÉM …

… é preciso acreditar que aqui possamos ter uma reviravolta rápida da situação que aí está e que os bandidos tenham lampejos de arrependimento e realmente cumpram tudo o que é de sua obrigação e tenhamos condições de fazer este país tomar os rumos do verdadeiro desenvolvimento de seu povo e não somente desta casta que tomou o poder através do engodo e da enganação.

José Salamargo … esperando que o melhor aconteça, antes que anoiteça e que não possamos mais olhar nos olhos, enxergar a bondade, observar a amizade e nem sonhar com o ser.

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