01 de dezembro | 2013

Um cão, apenas um cão!

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Eram três numa gaiola dessas para cães. Todos com as mesmas características externas. Um deles se distinguia dos outros apenas pelo tamanho. Os olhos ainda azulados (nebulosos como cobertos por uma cortina de névoa). Não é, definitivamente, uma escolha fácil de se fazer. Peguei o maior deles, e algo dentro do meu coração dizia que era aquele. Aquele é que eu deveria escolher. Depois de trinta dias, fui buscá-lo na loja. Estava crescidinho, lindo: um bassê negro (“como as asas da graúna”) com manchas perfeitas e estrategicamente distribuídas pelo corpo: uma belezura. O preto e as manchas cor-de-mel.

Deu um trabalhão para todos da casa. Tapetes rasgados, chinelos devorados, almofadas destruí­das. E outros tantos estragos do mesmo quilate.

O tempo se encarrega de tudo. E encarregou-se de fazer com que Dick se tornasse um bassê lindo, forte, amoroso e brincalhão (e um pouquinho malcriado). Não respeita as minhas visitas e quem mais se aproximar dos meus portões. É um festival de pulos, latidos (tem o latido de um pittbull); lambidas. Seja lá em quem for… Mas ele tem melhorado muito – tem apenas três anos o meu amigo querido.
 

Dick é o pequeno reizinho da casa, mas tudo sem frescuras. Eu é que lhe dou banho (com sabonete da melhor qualidade, água bem morninha e direito à toalha felpuda para secar o pelo negro e brilhante do rapazinho. As refeições são fartas: ração (um mix de carnes), arroz com carne moída bem soltinho, pão molhado no leite com café (bem de manhãzinha). Tudo controlado. Mas, certas guloseimas nenhum veterinário em sã consciência aprovaria: Dick adora bolos (aqueles bem caseiros pra se comer acompanhados de um café preto bem quentinho, dá boas lambidas num bom sorvete (só um pouquinho) e gosta de bolachas de leite, maisena e amanteigadas. Adora bolacha cream-cracker molhada no leite com café.

Temos um carinho e um amor desmedidos pelo Dick. Mas ninguém diz: “olha o papai” ou “olha a mamãe” para o bichinho. No inverno (raro em Olímpia) tem seu cobertor de lã. E nada de roupinhas, gorrinhos, cache­coi­zinhos e outros inhos (bestei­rinhas) do gênero, pura afetação.

Às vezes, Dick leva umas broncas mais severas (tudo verbalmente), mas é impossível resistir ao seu olhar cheio de amor (ou malícia), um olhar terno que pede compreensão, amor e amizade: um cão,apenas um cão. Mas um cão muito especial, dono de uma vitalidade impressionante, sinal forte de vida e companherismo. Não ando só. Tenho um amigo, e ele sabe que nos tem. E isso basta.

Ivo é prof. universitário.

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