31 de maio | 2015
Uma mulher de coragem PT or not PT…(that is the question)
Ivo de Souza
Em entrevista nas páginas amarelas (famosas!) d. Marta Suplicy desabafou: O PT traiu os brasileiros. Diz (em outras palavras) que deixa o partido porque não o reconhece mais.
Concordo com Marta. O PT ideológico já saiu da cena política faz muito tempo. Sobrou um PT remendado que fez alianças (início do declínio) com quem quer que lhe desse alguns votos. Só uma perguntinha: É possível vencer eleições no Brasil sem as ditas cujas? Pelo menos para o Partido do Trabalhadores não era. E tome alianças, não importava com quem. A cúpula petista, segundo Marta (ex-ministra e ex-prefeita de São Paulo) só tem um projeto: manter-se no poder, longe de seus “princípios éticos, de suas bases e de seus ideais”. Tornou-se um partido como outro qualquer, abandonou aquilo que o diferenciava dos demais. E caiu na mesmice. Em todos os sentidos. Petistas de ocasião (ou de fachada) tem aos montes.
É claro que, sem aliançar-se com uns e outros, o PT não teria chegado ao poder. Só que pagou (e paga) um preço muito caro. As coisas estão aí. É só abrir os olhos e ver. O partido perdeu seu poder de fogo (está desacreditado) e a frenética militância (que elegia muitos candidatos) desapareceu. Sumiu. Deve ter tomado um desses comprimidos anunciados nas telas de tevê. Tomou e ninguém a viu mais.
Marta critica Dilma, diz que o temperamento da presidenta sobropõe-se à questão do gênero, que d. Dilma “não consegue ouvir”. Para Marta, isso acarreta muitos problemas (saber ouvir, senhoras e senhores é uma arte!). Mas…
É verdade que Marta contribuiu para desmistificar (quebrar o tabu) a cara do PT (aquele que comia criancinhas na calada da noite). Sem medo de ser feliz, corajosa, Marta mostrou que até os bem-nascidos poderiam fazer parte do partido. “Emprestou” sua figura de moça fina, da fina aristocracia paulistana (paulistanos de 400 anos) para chamar outras pessoas como ela para o Partido dos Trabalhadores. Só que quando começou a incomodar foi tachada por petistas de não ser uma genuína petista (que nunca fora petista), pois era uma quatrocentona. É sempre assim. Chupa-se o suco, e o bagaço joga-se no lixo: Marta deixou o partido (outra atitude corajosa) com categoria e dignidade. Não foi apelativa nem vulgar. Poderia ter dito cobras e lagartos do PT, não, elegantemente, o fez. Sai vencedora dessa batalha, no aspecto moral, no político, só o tempo dirá. Não lhe faltarão chamados para engrossar a frente de outros partidos (o PSDB, provavelmente), onde pode brilhar politicamente.
A pedra no caminho de Marta foi o sr. Fernando Haddad. Marta tinha 30% de intenção de voto, Haddad vinha do nada. E o PT preteriu a ex-prefeita e apostou no novato. Deu certo, mas poderia ter dado um tiro no próprio pé ou o tiro poderia ter saído pela culatra.
Daí para diante foram só desavenças. E Marta não deixava de criticar o partido ao qual dera a cara, o prestígio social e o nome (Smith de Vasconcelos) para bater. Uma mulher de fibra e coragem. Outros ares lhe farão bem. Outros amigos, outros companheiros. E o prestigiado PSB, do sr. Eduardo Campos.
Ivo de Souza é professor universitário, poeta, colunista, pintor e membro da Real Academia de Letras de Porto Alegre.
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