26 de maio | 2013

Fugindo dos padrões

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O padrão de beleza é ser magra. Esta parece ser a primeira “obrigação” para ser aceita no grupo das “descoladas”. Se as medidas estiverem um pouco fora do “normal”, terá problemas para comprar a roupa da moda a qual é feita para os corpos das modelos / GB Imagem

 

 

 

Nesta busca pelo padrão de beleza estipulado pelas passarelas, algumas pessoas não medem esforços e nem consequências, esquecendo-se da própria saúde. Um grande perigo são as dietas e os “medicamentos milagrosos” indicados para emagrecer e que jamais deveriam ser ingeridos sem prescrição médica / GB Imagem

 

 


Não resta dúvida nenhuma que o padrão de beleza apregoado é ser magra ou magro. Quem sai fora disso, é tido como “fora do padrão” e tem dificuldade para encontrar roupas que vistam bem o seu corpo, principalmente se buscar algo fashion (ou aquilo que “está na moda”), pois tudo parece ter sido costurado para os manequins 38 a 42. Uma mulher que veste 46 pode passar pelo constrangimento de ouvir “ah, não temos o seu tamanho”, da boca da vendedora que se comporta como se o número da roupa pedida é coisa de outro mundo, sem contar, que muitas vezes os tamanhos GG na verdade vestem corpos de tamanho M.

Uma mulher vestir manequim 46 é algo perfeitamente normal e compatível, mas eis que os “padrões de beleza” não aceitam isso.

O resultado é que temos uma multidão de mulheres insatisfeitas consigo mesmas. Podem fazer o teste, falando do assunto com o seu grupo social: dois terços das mulheres entre 15 e 60 anos de idade evitam atividades básicas da vida porque se sentem mal com sua aparência; mais de 92% das garotas declaram querer mudar pelo menos um aspecto físico; nove entre dez mulheres querem melhorar alguma coisa no corpo. A realidade dos números é cruel. São raras as mulheres satisfeitas com a sua beleza. A maioria corre atrás do padrão estético das beldades que posam para revistas e desfilam na TV. Quem não se encaixa nele – quase 90% – sente-se excluída e humilhada e tende a aceitar qualquer sacrifício em nome da "beleza ideal". Diante desse quadro, cabe perguntar: como as mulheres chegaram a esse ponto, depois de tantas conquistas importantes no último século? Quais são as consequências dessa obsessão para as adolescentes? Onde entram as "diferentes" (gordinhas, velhas e de raças diferentes) nesse sistema? Por que é tão difícil aceitar a diversidade da beleza?

É preciso dizer que os homens entraram neste esquema também. As camisas “da moda” se apresentam com uma espécie de ajustamento nas costas e parecem vestir bem apenas aos modelos, porque pobre daquele que tiver uma barriguinha! Terá que optar por um modelo mais clássico, que nem sempre combina com o seu gosto e nem com a moda para sua idade. O resultado, ele vai cair como um doido na ginástica e na musculação e fazer tudo para ter as costas do tamanho da camisa. Será que não deveria ser o contrário?

Especialistas neste assunto alertam que existe uma possibilidade real de o excesso de vaidade se tornar um problema de saúde pública, dada a interferência da mídia, da publicidade e dos interesses do mercado na formação das crianças e adolescentes. O ideal de beleza cria um desejo de perfeição, introjetado e imperativo. Ansiedade, inadequação e baixa autoestima são os primeiros efeitos colaterais desse mecanismo. Os mais complexos podem ser a bulimia e a anorexia, nem mesmo as mulheres adultas escapam desta armadinha e podem ter sua estabilidade emocional afetada.

Existe ainda outro tipo de distúrbio alimentar, pouco conhecido, chamado de vigorexia. Esta é determinada pela busca de um corpo perfeito e é conhecida por Doença da Vaidade. Na verdade, é o excesso de preocupação em ter um corpo forte. Os portadores desse transtorno, normalmente, ficam horas em academias realizando uma diversidade de exercícios físicos, pesam-se várias vezes e procuram comparar sua musculatura com a de seus colegas. Como alternativa, na maioria dos casos o uso de anabolizantes é frequente entre os vigoréxicos.

É preciso que este assunto seja debatido entre mulheres, pais e educadores. É preciso aprender a reconhecer os malefícios dessa imposição social e ensinar adolescentes e jovens a reconhecerem os limites da ditadura da beleza, apontando caminhos para quem deseja se defender dessa influência insidiosa.

Consta que as mulheres brasileiras estão entre as que têm a autoestima mais baixa, muito provavelmente em consequência do modelo de beleza eurocêntrico e inalcançável para a realidade nacional. O Brasil também apresenta o maior índice de mulheres que declaram ter feito cirurgia plástica. Outros estudos revelam ainda que a população feminina no Brasil, comparativamente, é a que mais se submete a sacrifícios pela "beleza". Isso inclui dietas, malhação, remédios, cosméticos e toda a parafernália oferecida para alcançar o inalcançável.

A mulher brasileira busca se aproximar da silhueta típica das europeias (mais longilíneas) ou das americanas (de seios mais fartos). As mulheres estão bastante desconfortáveis consigo mesmas. Desconfortáveis e provavelmente com sentimento de culpa.

É preciso investir numa mudança de consciência que beneficiará enormemente as futuras gerações, com mulheres mais autoconfiantes e jovens menos vulneráveis.

Atentas às armadilhas consumistas, as mulheres serão cada vez menos escravizadas pela cobrança estética e mais dedicadas às questões realmente relevantes à sociedade.

E esta “luta” precisa contar com o apoio da indústria da moda brasileira. Os estilistas devem se lembrar de que o biotipo brasileiro é diferente e adequar as suas criações, lembrando que a etiqueta P, M, G e GG em suas roupas devem mesmo ser compatíveis com o tamanho da roupa e realmente vestir mulheres e homens que usam este número.

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