16 de novembro | 2020

Três Mil Anos de Política

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Três Mil Anos de Política
Erros do passado apenas podem ser evitados ao se refletir sobre a história. Com este propósito construtivo em relação ao futuro, o escritor José Luiz Alquéres aborda a evolução da prática política ao traçar um panorama dos eventos mais importantes no curso da humanidade. São, mais precisamente, “Três Mil Anos de Política”. Assim como o título, o livro publicado pela Edições de Janeiro é tão fascinante quanto objetivo. Em 232 páginas, o autor apresenta a história do pensamento político desde a origem, na China e Grécia, passando pelos romanos, a Idade Média, a Idade Moderna e os acontecimentos mais contemporâneos, como o fenômeno do nacionalismo, os modelos totalitários e o neoliberalismo. Renomado empresário, editor e filantropo, José Luiz Alquéres traduz a essência de cada período por meio de personagens que marcaram a evolução do pensamento político. Santo Agostinho, Spinoza, Montaigne, Hobbes e Marx, entre tantos personagens, mostram que a história da política é, também, a história da própria humanidade. Depois de sumarizar as principais ideologias que prevaleceram nos regimes políticos, “Três Mil Anos de História” conduz o leitor pelos temas que dominam a atual discussão, como a crise da democracia e os efeitos da globalização. Para concluir, Alquéres não poderia ser mais eloquente ao apresentar três “razões para esperança” e os desafios, como a necessidade de garantir maior inclusão e representatividade. Uma manifestação candente de apreço aos valores democráticos.

 

A Rainha Perdida
Qual preço você pagaria para viver em uma sociedade sem fome e violência? Em Aghaia, os moradores foram privados da liberdade. Eles trabalham 14 horas por dia e não podem ultrapassar os muros dos distritos. A realidade, que se passa no pós-guerra, em um período marcado por tragédias ambientais e escassez de recursos naturais, forma a trama de “A Rainha Perdida”, primeiro volume da trilogia da escritora Ana Cristina Melo. A obra marca a estreia da Editora Opala no mercado. Um dos países criados pela nova divisão mundial, Aghaia é governado por Petrus, um rei que mantém um controle cruel sobre todos a ele subordinados. Nesse cerco encontra-se Ellena, jovem nascida no distrito 7 que descobre o improvável: a palavra “liberdade” foi abolida do dicionário. Envolto em discussões políticas e sociais, a história também se prende em um triângulo amoroso entre Ellena, Lukhas e Reed, os príncipes herdeiros dessa sociedade distópica. Esta é, aliás, uma das principais marcas da autora, que cria metáforas a partir de vivências cotidianas para fazer o leitor repensar “verdades” enraizadas e há muito reproduzidas. “A Rainha Perdida” toca em diferentes temas essenciais, como a perspectiva de crescimento pessoal dentro das favelas, as diferenças entre áreas nobres e subúrbios, passando pela sustentabilidade e as novas tecnologias para utilização dos recursos naturais. Uma ficção distante dos enredos fantasiosos, segundo a autora, “com personagens tão humanos quanto eu e você”. O livro tem 368 páginas.

 

O Coração do Rei
Muito já se escreveu sobre o primeiro imperador do Brasil, mas nada que se compare aos comentários apresentados em “O Coração do Rei – A Vida de Dom Pedro I: O Grande Herói Luso-Brasileiro”. Publicada pela Edições de Janeiro, a obra externa facetas pouco conhecidas do jovem impetuoso em seus 36 anos. Com curiosidade jornalística, apurada pesquisa em documentos e periódicos de época e um prazeroso estilo literário, a jornalista e escritora Iza Salles vai além. Retrata um estadista astuto, negociador, gestor, respeitoso filho, pai apaixonado e um defensor das liberdades democráticas, ainda que nascido em berço autoritário. O fio condutor da emocionante narrativa é Frei Antônio de Arrábida, religioso que acompanhou Dom Pedro em praticamente toda a sua vida. A escolha de um narrador para contar a história nasceu das muitas referências feitas por Otávio Tarquínio de Sousa ao frei nos três volumes de sua obra, “A Vida de Pedro I”. A importância do religioso na trajetória do rei tinha sido, até então, ignorada. Em “O Coração do Rei”, outros três religiosos ajudam a narrar os acontecimentos nos dois lados do Atlântico, e que fazem emergir o perfil de Dom Pedro de forma precisa. Ao fim da obra, o leitor pode constatar – com ajuda da autora – que, na verdade, trata-se dos três maiores historiadores brasileiros do Século XX, hoje quase esquecidos, a quem Iza Salles presta homenagem. Mais uma bela surpresa trazida pela escritora, jornalista formada em 1965 pela então Universidade do Brasil, presa política pela ditadura em 1970, e repórter em jornais de resistência como “Opinião” e “Pasquim”. Às vésperas de completar o bicentenário da nossa independência – em 2022 –, o livro prenuncia os eventos comemorativos que terão como marco a reinauguração do Museu do Ipiranga. O livro tem 360 páginas.

 

Gastura
O Parque Ibirapuera ainda não existia. No Cine Leblon, as sessões aos domingos de manhã exibiam “Tom e Jerry”. O bonde era um veículo de locomoção usual na Avenida Conselheiro Rodrigues Alves. Os circos estavam na moda. A televisão virou uma novidade entre os vizinhos, que se reuniam na casa de quem tinha o privilégio de comprar o aparelho. A São Paulo dos anos 1950 é o ponto de partida do escritor Fernando Machado em “Gastura – Rastreando as Profundezas da Mente”. De memórias cotidianas a fatos históricos marcantes, a obra parte da ótica de quem viveu seus primeiros anos na Vila Mariana e acompanhou, no calor dos acontecimentos, os principais episódios sociais, políticos, culturais e esportivos daquela e das seis décadas seguintes. Assim como a final da Copa de 1958, o livro mescla passagens da vida do autor a acontecimentos no Brasil e no mundo. Da morte de Getúlio Vargas ao assassinato de John Kennedy; do golpe militar à Guerra do Vietnã; da condecoração de Che Guevara à viagem do primeiro homem pelo espaço sideral, com Yuri Gagarin. O ineditismo e fascínio da obra residem justamente aí: o autor usa sua própria biografia como “linha do tempo” para relatar fatos notoriamente conhecidos. Hoje, no alto dos seus 75 anos, Fernando Machado apresenta mais que uma autobiografia. O escritor e engenheiro civil aposentado compartilha com o leitor cenários e visões que só quem viveu aqueles tempos poderia tão bem descrever. E, principalmente, revela sentimentos genuínos e as experiências que fazem de um menino, um homem. Neste processo de amadurecimento, o alcoolismo e a recuperação em Alcoólicos Anônimos foram partes significativas. Lançada pela Editora Viseu, “Gastura – Rastreando as Profundezas da Mente” trata de alegrias, perdas, encantamentos, dificuldades. Da simplicidade da vida e o que dá sentido a ela. A gastura que intitula a obra como forma de expressão de tudo o que incomoda e machuca não apagou as lindas memórias de uma época em que o tempo passava em outra velocidade, bem distante da pressa exacerbada trazida pelo aparato tecnológico. O livro tem 262 páginas.

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