06 de abril | 2014

Uma fábula chamada “Meu Pedacinho de Chão”

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Bruna Linzmeyer será Juliana, primeira professora de Vila Santa Fé. Lecionar é a sua verdadeira e grande vocação / Renato Rocha Miranda-RG

 

 

Tomás Sampaio interpretará Serelepe, órfão e grande amigo de Pituquinha (Geytsa Garcia) / Renato Rocha Miranda-RG

 

 

Um universo lúdico, surreal com um cenário colorido de encher os olhos de qualquer telespectador, além de personagens e figurinos bem diferentes dos habituais, os quais estamos acostumados a ver nos folhetins. Assim é “Meu Pedacinho de Chão”, novela de Benedito Ruy Barbosa, que substitui, a partir desta segunda-feira, “Joia Rara”.

Vila Santa Fé é o mundo da infância de duas crianças. Serelepe (Tomás Sampaio) e Pituca/Pituquinha (Geytsa Garcia) são os protagonistas de “Meu Pedacinho de Chão”. A magia de um mundo de conto de fadas, repleto de referências a brinquedos, com árvores de várias cores e casas revestidas de latas enfeitadas, como os antigos brinquedos, é o caminho para o diretor Luiz Fernando Carvalho ressaltar a atmosfera da infância que traz o texto. Escrito em 1971, quando a novela foi ao ar pela primeira vez, a trama ganha agora ares atemporais, longe do realismo da primeira versão e com espaço para uma boa dose de humor.

A cidade cenográfica é um dos elementos principais da narrativa, ela própria uma representação do olhar da infância emoldurada pela memória. Para garantir este tratamento, o diretor orquestra um trabalho de equipe, desde a produção de arte artesanal do artista plástico Raimundo Rodriguez e da cenografia de Keller Veiga ao criativo figurino de Thanara Schonardie, passando pela caracterização de Rubens Liborio e por recursos de animação e computação gráfica.

O universo rural foi desenhado a partir do olhar da criança, mas com um tom de modernidade e de mãos dadas com a síntese do autor. Estarão lá os coronéis, os capangas, a professorinha, porém revitalizados pelos códigos da contemporaneidade que absorvem, com generosidade, todas essas influências.

Nesse sentido, o texto de Benedito Ruy Barbosa é um clássico que pode e deve ser lido de várias maneiras. Na primeira versão, de maneira realista; agora, lírica. O que denota a abrangência do texto. É através da lente lúdica de Serelepe e Pituca/Pituquinha que o Coronel Epa (Osmar Prado), latifundiário da região e pai da menina, avesso ao progresso em todas as suas formas, trava uma luta contra seu desafeto, Pedro Falcão (Rodrigo Lombardi). Ele é a favor da modernidade, doou parte de suas terras para a construção de comércios, de uma capela e, agora, da primeira escolinha da cidade.

Estão ainda no elenco de “Meu Pedacinho de Chão” os atores Antônio Fagundes, Juliana Paes, Cintia Dicker, Bruno Fagundes, Irandhir Santos, Johnny Massoro, Bruna Linzmeyer, Flávio Bauraqui, Emiliano Queiroz, Ricardo Blat, Inês Peixoto, Paula Barbosa, Dani Ornellas e Teuda Bara, entre outros talentos.

O vilarejo de “Meu Pedacinho Chão” começou a ganhar contornos de desenvolvimento nas mãos da família Napoleão. São terras adquiridas há muitos anos pelo avô de Epaminondas Napoleão (Osmar Prado), que cultivou a enorme fazenda, a deixou para o filho e hoje está nas mãos do neto, Epaminondas. Foi justamente Epaminondas (Osmar Prado), chamado por muitos de Coronel Epa, quem iniciou a venda de pequenos lotes daquelas terras para outros sitiantes das redondezas, dentre eles Pedro Falcão (Rodrigo Lombardi). Homem retrógrado que se defende do progresso, Epa acabou inimigo de Pedro Falcão. Motivo principal: Pedro doou um pedaço do seu chão, comprado de Epa, para que nele fossem construídas a venda de seu Giácomo (Antonio Fagundes) e uma capela, que ficou aos cuidados do padre de descendência alemã, querido por todos, e chamado de Padre Santo (Emiliano Queiroz). O Coronel Epa também nunca perdoou Pedro por tê-lo derrotado nas últimas eleições municipais, elegendo seu protegido e parceiro político, o Prefeito das Antas (Ricardo Blat).

Um dos caminhos escolhidos pelo diretor Luiz Fernando Carvalho para reforçar a universalidade e atemporalidade dos temas essenciais tratados por Benedito Ruy Barbosa em “Meu Pedacinho de Chão” foi ressaltar o lado arquetípico dos personagens. Mais forte que a representação das figuras do coronel, da professorinha, papel de Bruna Linzmeyer ou do mocinho, é a representação de valores como a Justiça, o Amor e, especialmente, a Amizade. Tanto que a história é narrada pelo ponto de vista mágico da infância dos inseparáveis Serelepe e Pituca

Luiz Fernando Carvalho orientou todas as equipes da novela a criarem uma unidade com elementos não orgânicos, ou seja, as casas seriam de lata, a vegetação seria de plástico, as roupas seriam costuradas com diversos materiais, como plástico e borracha, fugindo assim de panos e materiais mais naturalistas.

A utilização desses materiais inusitados e suas cores compõem essa fábula atemporal. A flor de plástico, por não ser orgânica, vai contracenar de uma forma mais verdadeira com o traje de borracha de Zelão, por exemplo. E assim por diante, até que todo o microcosmo da cidade pertença a esse vocabulário de inovação de um mundo onde os materiais de “mentira”, quando entram em contato com o talento dos intérpretes, são alçados à condição de verdade.

“Meu Pedacinho de Chão” inovará a teledramaturgia da Globo e tem tudo para ser um grande sucesso, principalmente entre a criançada. Com certeza vai valer à pena assistir.

 

Quem é Quem?!

 

Epaminondas Napoleão (Osmar Prado) – Casado com Maria Catarina (Juliana Paes), ele é pai de Pituquinha (Geytsa Garcia) e Ferdinando (Johnny Massaro). É o arquétipo do Mal, representa a Sombra, o Retrocesso, a Decadência, a Vaidade e a Prepotência.

 

Maria Catarina (Juliana Paes) – É casada com Epaminondas Napoleão (Osmar Prado). Com ele, teve Pituquinha (Geytsa Garcia), sua única filha, e é uma madrasta muito querida de Ferdinando (Johnny Massaro). É o arquétipo da Graça, da Sensualidade, da Maternidade e dos Instintos.

 

Juliana (Bruna Linzmeyer) – Primeira professora de Vila Santa Fé. Lecionar é a sua verdadeira e grande vocação. Juliana é o arquétipo do Amor.  Representa a Princesa, a Consciência e a Luz.

 

Pituquinha (Geytsa Garcia) – É filha de Maria Catarina (Juliana Paes) e Epaminondas (Osmar Prado). Grande amiga de Serelepe (Tomás Sampaio). Pituca representa a Infância, o Lirismo, a Amizade e a Liberdade.

 

Serelepe (Tomás Sampaio) – Órfão, ele é o grande amigo de Pituquinha (Geytsa Garcia). É o arquétipo da Natureza. Representa o Selvagem, a Liberdade, a Infância, a Justiça e o Sonho.

 

Zelão (Irandhir Santos) – Filho único de Mãe Benta (Teuda Bara), é uma espécie de capanga do Coronel Epa (Osmar Prado). É o arquétipo do Herói Trágico: o Bruto, o Valente, o que será vencido pelo amor.

 

Pedro Falcão (Rodrigo Lombardi) – Casado com Dona Tereza (Inês Peixoto) e pai de Gina (Paula Barbosa). Homem trabalhador e a favor do progresso. É o arquétipo do Justiceiro, representa a Justiça, o Trabalho e a Terra.

 

Giácomo (Antonio Fagundes) – Viúvo, ele é pai de Milita (Cintia Dicker). É muito amigo do atual prefeito (Ricardo Blat) e de Pedro Falcão (Rodrigo Lombardi). Giácomo é o arquétipo do Palhaço, o Cicerone, o Emotivo e o Zangão.

 

Ferdinando (Johnny Massaro) – Filho único do primeiro casamento de Epaminondas (Osmar Prado). Órfão de mãe, tem grande carinho pela madrasta Catarina. É o arquétipo do Príncipe, O Poeta, Filho Pródigo e o Alquimista.

 

Dona Tereza (Inês Peixoto) – Casada com Pedro Falcão (Rodrigo Lombardi) e mãe de Gina (Paula Barbosa). 

 

Gina (Paula Barbosa) – Filha de Dona Tereza (Inês Peixoto) e Pedro Falcão (Rodrigo Lombardi). Descuidada no jeito de se vestir, Gina é chamada na cidade de mulher-homem.

 

Mãe Benta (Teuda Bara) – Parteira e benzedeira respeitada por todo vilarejo. Ela é mãe de Zelão (Irandhir Santos), seu único filho. Trabalha na fazenda do Coronel Epa.

 

Doutor Renato (Bruno Fagundes) – Grande amigo de Ferdinando (Johnny Massaro),  ele se instala na vila de Santa Fé onde constrói um posto de saúde.

 

Milita (Cintia Dicker) – Filha única de Giácomo (Antônio Fagundes). É namorada de Viramundo (Gabriel Sater).

 

Viramundo (Gabriel Sater) – Violeiro de talento, vai se revelar também um grande compositor. Namora Milita (Cintia Dicker).

 

Padre Santo (Emiliano Queiroz) – De descendência alemã, é amigo influente do atual prefeito das Antas. Como bom

padre que é, é o maior pacificador das brigas que acontecem no vilarejo.

 

Prefeito das Antas (Ricardo Blat) – Vencedor das últimas eleições, é inimigo do Coronel Epaminondas (Osmar Pardo). Foi ele quem construiu a escola e quem trouxe Juliana (Bruna Linzmeyer) da capital para inaugurá-la.

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