28 de outubro | 2013

Atendimento na UPA pode estar levando paciente a pensar em se matar

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A falta de respeito e consideração ao ser humano que chega com muita dor e problemas sérios de saúde. O que podem ser consideradas zombarias que seriam praticadas até por alguns dos médicos que prestam serviço. Isso tudo juntado a falta de medicamentos na rede e até as dificuldades para a realização de exames mais específicos, são motivos que podem levar pacientes da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) a pensar em se matar, ou seja, a pensarem em prática de suicídio.

Pelo menos é esse o sentimento que transparece das declarações dadas à reportagem na quarta-feira, dia 23, pela atendente Elizabe­th Nunes Ferreira, que chorou o tempo todo, em alguns momentos copiosamente. Há tempos procura por atendimento médico adequado para solucionar seu problema de saúde e não consegue.

Há aproximadamente um ano e meio ela sofre com problemas sérios na coluna, mas não consegue fazer o tratamento adequado, no caso seria uma cirurgia de correção de hérnia de disco, porque não consegue autorização para fazer uma ressonância magnética, exame que, segundo ela, nem precisa deixar a cidade para realizar: tem disponível em Olímpia.

“Eu vou a UPA: sorinho. Fico sentada naquelas cadeiras tomando soro, injeções, medicação, e acabou ali o médico nem vai me ver pra saber se eu melhorei, se a dor passou ou se não passou, eu vou embora. Olha já está dispensada. Só que nem isso eu estou podendo fazer mais sozinha porque eu não suporto mais andar. Eu não consigo e eu não quero depender de ninguém. Eu quero fazer minhas coisas e quero voltar a trabalhar, cuidar da minha casa”, reclama.

Se sentindo mais fraca a cada dia que passa e perturbada pela dor, Elizabeth Nunes Ferreira relata o seu sofrimento: “Estou vendo que a cada dia meu corpo está mais fraco, mais gasto. Parece estranho, uma sensação de ou dormência ou é choque mesmo. É como se você estivesse cortada por dentro. Eu só queria que eles marcassem o meu exame. Só isso”.

O SER HUMANO NÃO TEM VALOR

Elizabeth acha essa situação bastante lamentável: “Eu acho que o ser humano deixou de ser importante. A gente é tratada co­mo um … Ninguém tem amor ao outro. Fica uma confusão. Te tratam com uma frieza, como se você não estivesse mesmo com essa dor”.

A situação de desprezo surge quando necessita de cuidados médicos no período noturno: “O que você veio fazer aqui? Tipo assim, eu sou obrigada a procurar os médicos nos postos para uma consulta e não posso sentir dor à noite. A noite é proibido sentir dor. E isso não tem hora, é o tempo todo”.

Falta de humanismo também é reclamada: “Eu já cheguei a imaginar que eu esteja com uma doença ruim mesmo porque meus ombros incham. Fazem bolas. O Dr. Gerson disse também para eu ir a Barretos porque isso aqui era um tumor. Então, eles veem tudo com os próprios olhos. Eles não precisam de exames. Eles te veem por dentro e por fora com uma perfeição tamanha que já vão indicando para onde você tem que ir, sem serem feitos exames. Isso me revolta”.

Por isso ela reclama a realização de exames completos de seu corpo para saber o que realmente tem: “Eu não posso viver a base de relaxantes musculares e calmantes. Eu quero ter uma vida normal. Eu não sou uma pessoa que passeia, ou uma pessoa que pode ir a cidade”.

De acordo com ela até agora os médicos trataram somente a dor que sente e que se intensifica mais a cada dia, mas não procuraram descobrir a causa. “Nem eles sabem o que é. Eles chutam”, enfa­ti­za.

Nunes Ferreira entende também que os médicos não se interessam pelos casos – no caso o dela, por exemplo – que surgem a frente e ainda tratam mal as pessoas: “Você chega lá e nem te olham. Parece que você tem uma doença contagiosa. Isso eu não aceito. Não aceito ser tratada assim”.

Outra situação que a incomoda é a vida pessoal. O fato de estar casada há apenas um ano lhe faz sentir muito mal e é outra situação que piora ainda mais com a dor que sente e que impede que seja uma pessoa normal.

“É o tipo daquela dor que você tem vontade de fazer uma besteira. Juro. Eu tenho vontade. Eu quero pedir por favor, pelo amor de Deus marquem meu exame. Só assim eu vou ter condições de fazer um tratamento. Por favor”.

Paciente aguarda há dois meses ressonância

Além das dificuldades que enfrentou para descobrir o que pode ser a solução para seu problema de saúde, surgiu outro empecilho pa­ra atendente Elizabeth Nunes Fer­reira pelo menos iniciar um tratamento que acredita ser o adequado. Há dois meses aproximadamente está aguardando autorização da Secretaria Municipal de Saúde para realizar uma ressonância magnética.

Depois de longa romaria surgiu o que parece ser uma luz no fim do túnel: “Até que encontrei o Dr. Mateus na UPA”. Mas só parece: “Ele pediu para que eu o visitasse no consultório na manhã seguinte. Eu fui e ele me pediu uns exames e uma ressonância magnética. Isso tem dois meses. Ele tem feito tudo para me ajudar”.

De acordo com Elizabeth, o mé­di­co escreve que o exame é urgente, mas mesmo assim não é autorizado: “Segundo ele eu tenho uma hérnia de disco e estou com inflamação na coluna. Ele diz que minha coluna realmente está torta. Mas ele não pode tomar nenhuma providência se não tiver o resultado da ressonância para me encaminhar para um cirurgião. Eu acho isso um absurdo. Isso fez com que eu piorasse ainda mais, porque eu não piso”

O desespero dela já levou o marido a pensar em gastar metade do que ganha por mês, praticamente, para pagar o exame: “Agora meu marido falou que vai fazer um sacrifício e pagar, mas como uma pessoa que ganha R$ 1,2 mil vai pagar uma ressonância de R$ 600, se a gente paga aluguel, paga tudo. Isso é impossível. Eu não quero nem que ele faça esse sacrifício por mim. Só lamento ter sido tão mal atendida”.

TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO

Mas há situações em que o paciente sofre tanto com um problema de saúde que o leva a sofrer outras consequências: “O que tem me ajudado é o Dr. Vitor, que é psiquiatra, que está me ajudando no meu tratamento para eu me acalmar, para não entrar em depressão. Eu lamento essa situação porque gente já morreu lá (na UPA)”.

Mesmo assim, ainda chega a pensar no pior para sua vida: “Agora eu fico preocupada sem saber o que tenho. Porque você começa a pensar se não é uma doença que não é boa, que é mu­ito ruim. Porque nenhuma doença é boa, mas pode ser uma coisa ruim demais”.

A sensação que ela tem, segundo contou a reportagem, é que a coluna está separada ao meio, ou seja, a parte de cima separada da parte de baixo: “O médico explicou que por causa da hérnia de disco, encosta e dá choque mesmo. Eu agradeço a esse médico o tratamento que ele tem me dado, mas de nada adianta se não for marcado esse exame”.

Sobre as dores que sente Eliza­beth ainda reforça: “Eu já fiz de tudo e não estou suportando. Eu tenho medo de acontecer alguma coisa assim, do tipo, uma paralisa das pernas, porque não estou conseguindo andar mais. Eu não an­do daqui até a esquina”.

O grau de dificuldade é tão intenso quanto a dor que sente. Mas ela ainda chega a brincar com a situação: “Eu já passei por todos os médicos da UPA. Um dia passei pelo Dr. Antônio ele pediu que fosse aplicado um decadron em mim. Eu estava de short e a enfermeira nem perguntou nada e simplesmente me deu a injeção na coxa. E foi o que ocasionou talvez o rompimento de alguma coisa que meu joelho ficou desse jeito e nunca mais melhorou”.

Mesmo assim ainda se sente impotente para trabalhar e viver com dignidade: “Isso só tem piorado a cada dia. Eu já não limpo mais mi­nha casa. Eu não faço mais as coisas que eu fazia. Eu não consigo lavar o meu cabelo. Tudo eu tenho que pedir para o meu marido. Somos só nós dois e os horários que ele trabalha nem sempre permitem que ele esteja aqui a tarde para me ajudar. Então, muitas vezes eu deixo de fazer e fico sentada na cadeira, com um travesseiro nas costas, chorando. Eu tomo muitos remédios e nada melhora e nem ameniza a dor”.

As dores são constantes e intensas: “É 24 horas. A noite a dor é tanta que chega a dar câimbra na panturrilha (barriga da perna). Estou com caroços enormes. Tudo que é pedido (pelos médicos) eu tenho feito”.

Atendente enfrenta romaria e não vê solução para problema

Há aproximadamente um ano e meio que a atendente Elizabeth Nunes Ferreira (foto) enfrenta uma verdadeira romaria entre as idas e vindas da Unidade de Pronto A­ten­dimento (UPA), além de outros postinhos e até ao Ambulatório de Referência e Especialidades, Pos­tão, antigo Centro de Saúde, mas não tem uma solução para o seu problema.

“Eu comecei a sentir uma dor nas costas num dia que estava fazendo limpeza na casa de minha mãe há um ano e meio aproximadamente, e isso foi se agravando a cada dia”, conta. Ela diz que chegou a ser levada pelo seu marido até a UPA, mas o problema não foi resolvido e nem identificado: “Me deram injeções, fizeram um exame e naquele dia passou a dor. Mas depois a dor começou a ser frequente”.

Daí por diante ela começou uma verdadeira romaria, passando por UPA, postos de saúde, mas sempre sem conseguir a solução para seu caso: “Cada um fala uma coisa. Enquanto um diz que “tenho reumatismo”, outro que “te­nho fibromialgia”, o­u­tro fala que “minha coluna está torta, só que ninguém soluciona o problema”.

Em seguida ela mudou de caminho: “Procurei atendimento no postinho, Dr. Giovani, ele pediu exame de sangue e me disse que eu tinha fibromialgia. Passou uma fórmula e falou para eu procurar um reumatologista. As dores se intensificaram e aqui em Olímpia não tem reumatologista”.

Mas a revolta com o desprezo pelo seu caso sempre aparece em suas palavras: “Tem médico que eu vou na UPA e não olha nem para a minha cara. Ele pergunta o você está fazendo aqui? Você tem que procurar o posto de saúde. Mas eu procuro o posto de saúde, só que a noite o posto de saúde não se encontra aberto e eu preciso de tratamento”.

A intensidade da dor já causa outros problemas de saúde: “Eu sinto dores e choques terríveis pelo corpo e já estou sentindo ânsia de tanto minha pressão (arterial) aumentar. Está 20×12 e estou tomando remédio para controlar. Eu tenho tido picos devido a dor que vem se intensificando”.

Ainda sem saber qual a causa de seu problema a atendente chegou a pagar uma consulta particular e ficar internada na Santa Casa: “Segundo o médico eu tive um derrame no meu joelho e fiquei internada três dias no soro. Não foi feito um raio x, não foi feito nada de mais específico para poder sanar isso aqui”.

Mas em seguida, a romaria foi retomada: “Eu voltei no posto, no Dr. Giovani, ele fez o exame e eu não tenho reumatismo, artrite reumatoide. Paguei o medico, fiquei internada a toa. Procurei outro, que era para fazer um raio x. Mas ao entrar na sala ele me disse que estava ridícula, que estava gorda e mandou que fosse feito um raio x. Nada. Bom, nele eu não volto nunca mais”.

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