09 de janeiro | 2022

Delegado encerra inquérito do incêndio na Folha em outubro sem concluir investigação sobre outros envolvidos

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JUSTIÇA PRA QUEM?
Relatório final mostra cabalmente que não se quer encontrar os verdadeiros culpados. “Pelas ligações dos possíveis envolvidos, não descarto até que políticos importantes tenham ajudado a abafar o caso para que ficasse apenas concentrado no criminoso confesso”, diz a vítima.

 

Como era esperado pelas vítimas e por seus advogados, o delegado de polícia titular da delegacia de Polícia de Olímpia, Marcelo Pupo de Paula, encerrou o inquérito antes de receber todos os dados da quebra de sigilo das redes sociais e mesmo telefônicos dos dois números de celulares que o criminoso confesso disse ter jogado num rio e que nunca foram achados.

O delegado elaborou seu relatório final no dia 25 de outubro de 2021, sete meses após o incêndio criminoso de que foram vítimas este jornal, a rádio Cidade, o seu editor, sua esposa e netinha de 9 anos que moram com ele no andar superior do prédio dos veículos que dirige. No entanto, a peça só foi anexada no processo que corre na justiça local em 16 de dezembro último, quase dois meses depois.

Em seu relatório final, segundo o advogado, jornalista e professor de filosofia e sociologia, José Antônio Arantes, o delegado tergiversa apenas sobre os fatos apurados e que levaram à descoberta do ex-bombeiro civil Cláudio José de Azevedo Assis, demonstrando não ter investigado praticamente nada além disso. Ou seja, parece não ter havido interesse em descobrir os prováveis outros envolvidos.

NÃO OUVIU E NEM INVESTIGOU

O delegado, sem esmiuçar detalhes, aponta inclusive que pediu as medidas (quebras de sigilo) que foram deferidas pela justiça, mas que foram apenas parcialmente cumpridas.

Embora na peça de Pupo de Paula aponte que o bombeiro foi visto junto com “negacionistas” em protesto defronte a prefeitura local e ter a informação de que estava ao lado de pessoa que atacava o jornalista incessantemente pela internet e que o ex-bombeiro tinha sido visto saindo do escritório deste no dia anterior, não solicitou nenhuma imagem do local e nem o depoimento de pessoas.

Os possíveis suspeitos também não foram ouvidos, segundo o relatório do delegado.

ACONTECEU O QUE ERA ESPERADO

Em razão disso, o jornalista conclui que aconteceu o que era esperado e o que sempre ocorre em casos como este. Deixa-se o tempo passar para que o fato fique esquecido e, ao depois, o criminoso, quando é protegido por pessoas que tem influência, acaba recebendo a pena menor possível.

“Eu não tenho dúvidas de que outras pessoas participaram deste verdadeiro atentado terrorista. E nós fomos atrás, alertamos o delegado. Passamos todas as informações e suspeitas que tínhamos. Inclusive, o delegado quando foi a primeira vez na casa do Cláudio, conversou comigo e com minha filha e disse que não poderia ser o Cláudio, pois sua moto tinha a lanterna quadrada e a do sujeito que aparecia nos vídeos era redonda”, contou o jornalista.

NÃO DESCARTO A INFLUÊNCIA DE POLÍTICOS IMPORTANTES

E complementou: “Pelas ligações dos possíveis envolvidos, não descarto até que políticos importantes tenham ajudado a abafar o caso para que ficasse apenas concentrado no criminoso confesso. Não descarto também que tenha sido feito um acordo para que o ex-bombeiro se entregasse espontaneamente e não fosse preso”.

Outra aberração jurídica no decorrer do processo, segundo Arantes, é que o criminoso descumpriu medidas protetivas que o juiz desconsiderou, mas nem que tivesse entendido ao contrário poderiam ter sido cumpridas, já que a vara criminal local não havia intimado o dito cujo sobre as medidas. “É inacreditável”, exclama o advogado e jornalista.

NÃO VAI FICAR UM DIA SEQUER NA CADEIA

Que complementa: “É estarrecedor, desanimador e revoltante entender que, os poderosos têm o poder de proteger um grupo de pessoas que tentou tirar a vida de dois anciões e de uma criança de 9 anos e que, ao final, ninguém vai pagar por isso, pois o ex-bombeiro, com certeza, não ficará um dia sequer na cadeia. E, pensar que se tivesse sido preso nos primeiros dias teria confessado quem foram os envolvidos. Mas, está claro, o Estado não tem interesse de punir os protegidos, apenas os ladrões de galinha”.

E conclui: “A única esperança agora está voltada para o promotor público local que poderá até pedir novas investigações. Mas quase 10 meses depois, com o “embromation” até agora da polícia, vai ficar muito mais difícil”.

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