10 de outubro | 2011

Dependentes químicos têm que buscar ajuda fora de Olímpia

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Mas se o crack, que é considerada a droga da morte, está presente na quase totalidade dos municípios paulistas, se transformando em uma das mais cruéis epidemias a ser enfrentada pelo poder público, em Olímpia o tratamento ainda é muito difícil. Isto porque os dependentes químicos ainda têm que buscar ajuda fora da cidade e, pior, longe dos familiares.


A droga perde para usuários que buscam tratamento apenas para o álcool, uma droga lícita, segundo o relatório da Frente de Enfrentamento ao Crack na Assembleia Legislativa, elaborado a partir de dados obtidos com prefeituras e órgãos de saúde do Estado de São Paulo.


Mas para ter ideia do tamanho do problema, das 101 cidades da região noroeste, por exemplo, somente duas – São José do Rio Preto e Neves Paulista – disseram oferecer tratamento e leitos públicos para os viciados em crack.


Mas a situação é também complicada na região norte do Estado, que abrange a região administrativa de Barretos, a qual Olímpia está vinculada oficialmente. Nesse caso, embora o total de municípios seja relativamente menor, há apenas uma cidade – Viradouro – que informou oferecer o serviço.


Na região de Barretos, na escala de usuários que buscam ajuda para tratar o vício de alguma droga, o crack aparece em primeiro lugar com 33,3, depois o álcool e a cocaína, com 25% cada uma. Já a maconha, aparentemente a droga menos ofensiva à saúde, mas que também prejudica a saúde, está na última posição com apenas 16,7%.


Em relação às faixas etários de consumo, o levantamento indica que a totalidade das pessoas viciadas tem idades entre 16 e 30 anos, sendo a maior parte, ou seja, metade delas, entre 21 e 25 anos. Em seguida aparece a faixa entre 26 e 30 anos com 30% e, entre 16 e 20 anos com 20%.


Outro dado preocupante está relacionado à reincidência, mesmo após o tratamento que, na região de Barretos é superior a 50%. Porém, essa situação é pior em 14% dos municípios que registram até 90%. Quer dizer, o tratamento, além de difícil, muitas vezes não apresenta o resultado definitivo desejado.


“O maior desafio é integrar as ações entre os governos federal, estadual e municipal no enfrentamento do problema”, diz o deputado Orlando Bolçone, que também alerta para a necessidade de mais recursos para o combate e tratamento da epidemia. “Foram destinados R$ 200 milhões para tratamento de dependentes para os próximos quatro anos. Estamos tentando no PPA (Plano Plurianual) dobrar para R$ 400 milhões. R$ 100 milhões por ano”, disse o deputado, que já propôs projeto de lei para que crianças e adolescentes – uma das principais vítimas do entorpecente -, em caso de ameaça à vida, sejam recolhidas das ruas e internadas compulsoriamente em clínicas ou hospitais de tratamento.


“O projeto está em análise na Comissão de Constituição e Justiça. Existe um questionamento se não seria a volta dos manicômios. Acho que a frente vai apresentar um substitutivo dando garantias de que não haverá retrocesso no processo antimanicomial”, afirmou o deputado. Além de Bolçone, integram o grupo que analisa a problemática do crack os deputados Donisete Braga (PT), Fernando Capez (PSDB) e Olímpio Gomes (PDT).


No topo


O dado que mais chocou parlamentares e que alerta para o risco do crescimento do crack é o que coloca a droga como a segundo mais consumida por quem busca tratamento na rede pública. Atrás apenas do álcool, droga lícita. De acordo com as 55 prefeituras que responderam ao questionamento de 10 perguntas elaborado pela Assembleia, das pessoas que procuram ajuda para enfrentar algum tipo de vício, 28% são relacionados ao crack. A maioria, 58%, têm problemas com álcool. Viciados em cocaína (8%) e maconha (6%) são minoria.


A frente parlamentar considera mais preocupante a situação das cidades com população entre 50 mil e 100 mil habitantes, muitas ainda sem uma política de enfrentamento para o problema. Segundo os dados divulgados ontem, 76% dos usuários ou dependentes de crack estão na faixa etária entre 16 e 35 anos. Os deputados dizem que há notícias de casos de crianças de até 9 anos que já registram dependência da droga. Um dos casos, segundo a frente, foi registrado em Bauru. Na cracolândia, em São Paulo, Bolçone diz que encontrou crianças convivendo entre os andarilhos e dependentes químicos.


Bolçone:
droga cria gueto

Diferentemente de outras drogas, o crack é considerado uma epidemia por seu alto poder viciante. “Ele é mais letal e vicia mais rapidamente do que qualquer outra droga. E é muito acessível. Há situações de que uma pedra pode custar até R$ 2”, diz o deputado Orlando Bolçone (PSB), que no final de junho integrou comitiva de autoridades que foi in loco conhecer a realidade dos viciados na cracolândia de São Paulo.


“É horrível. Lembra aquelas imagens de Bagdá bombardeada. As pessoas ficam no chão, abandonadas. Não têm ânimo nem de responder as perguntas. Das que responderam, temos depoimentos de gente que tinha casa, carro zero, comércio e perdeu tudo. Corrói os dentes, tem um efeito devastador”, disse Bolçone.


Canavieiros


Uma das constatações feitas pela Frente de Enfrentamento ao Crack é a crescente demanda pela droga em áreas rurais, principalmente entre trabalhadores rurais do setor canavieiro. “Temos esse problema”, diz Bolçone, que fala em convocar audiência pública com as usinas de cana-de-açúcar para debater soluções. “Vamos chamar as usinas para conversar. Quem fiscaliza a condição de trabalho dos rurais é o Ministério do Trabalho, órgão federal. Vamos também chamá-los.”

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