15 de agosto | 2021

Diretores do Frutos do Pará dão aula sobre folclore em entrevista para a Rádio Cidade

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Os diretores do grupo homenageado este ano estiveram em Olímpia para agradecer a escolha do Frutos do Pará. O grupo ficou no Estado assistindo as manifestações pela internet. Os professores Paulo e Nazaré contaram tudo sobre o folclore e as tradições do Pará.


Os diretores do Grupo Frutos do Pará, homenageado deste ano do 57º Festival do Folclore, os professores Nazaré Azevedo e Paulo Oliveira, deram uma aula sobre folclore e sobre as tradições do seu Estado, na quinta-feira, 12, no programa Cidade em Destaque, pela rádio Cidade (Youtube e Facebook).

Durante uma hora, Paulo e Nazaré discutiram com os âncoras do programa, sobre a importância do Festival de Olímpia e abordaram temas como o futuro dos folguedos e principalmente sobre o ritmo predominante de seu grupo, o Carimbó: O que é, de onde nasceu e o que é preciso para praticar esta dança.

Inicialmente, Paulo contou que herdou o amor pelo grupo que sempre foi comandado por sua mãe que tem uma história antiga com rádio, com cinema. Ele é diretor musical e tem um trabalho de 29 anos, não trabalhando especificamente com o folclore, pois trabalhar com isso na Amazônia é muito complicado. As comunidades ficam muito longínquas.

GRUPO ESTUDA AS TRADIÇÕES

Explicou que o grupo estuda essas tradições, embora também exista a influência das tradições folclóricas herdadas de sua mãe que é mestre em Cultura e ela traz a cultura dos Pássaros Juninos e Teatro Popular que são manifestações folclóricas da região. Sua missão é organizar a parte musical do grupo.

Já Nazaré disse que tem uma ligação muito grande com o Festival e é diretora e coreografa do Frutos do Pará que tem uns 42 integrantes. Sua missão é dar continuidade na tradição de sua terra.

Apesar de ser o grupo homenageado, os integrantes do Frutos do Pará não vieram este ano, mas os dois diretores fizeram questão de vir para agradecer a toda a organização do festival por se sentirem agraciados pela homenagem.

VÍDEOS DESTE ANO FORAM PRODUZIDOS ESPECIFICAMENTE PARA O 57º FEFOL

No ano passado eles fizeram uma coletânea de vídeos e enviaram para Olímpia. Mas, neste ano, o desafio foi fazer os vídeos com o grupo reduzido, por causa das precauções da Covid-19, especificamente para o Festival.

“Produzimos dois vídeos de 15 minutos cada. Em um deles mostramos uma música que fizemos especialmente para o festival, citando o Vadão Marques que faleceu recentemente e que era muito ligado a questões culturais da cidade e que contribuía ativamente na organização artística de muitos festivais. A música também faz menção ao professor José Sant´anna, historiador, folclorista e criador da Festa do Folclore, contou o diretor.

A respeito da falta de participação de forma presencial nesses dois anos de pandemia, Nazaré alega que não afeta o brilho que o Festival alcançou ao longo da história e, ter acontecido de forma on-line fez manter a chama acesa, com as pessoas acompanhando mesmo que em forma de vídeos pela internet.

REENCONTRO SERÁ

ALGO MUITO GRANDIOSO

Paulo, por sua vez, lamenta a falta o calor humano, mas destaca que a situação é generalizada. “Muitos grupos tiveram que se adaptar, se não ficariam para trás. Mas de fato, o calor humano é insubstituível, e ano que vem acredito que o reencontro será algo muito grandioso”, salientou.

Sobre a importância de se manter a tradição popular de seu estado, Paulo fala sobre a tradição do Pássaro Junino, que são atividades que são feitas na sede do grupo, e que esses dois anos foram muito complicados. “Não houve encontro das pessoas, e há a perda das pessoas que são detentoras dessa sabedoria popular que morrem e levam com elas todo esse conhecimento. Se não houver o contato das pessoas, isso pode acabar” afirmou.

Paulo alega que se não tiver um lugar para se encontrarem, essas manifestações vão embora. Os grupos precisam apenas de se sentir valorizados, não precisam de grandes multidões acompanhando. Acredita que só vai saber se alguns grupos se perderam com essa pandemia, quando as coisas voltarem ao normal.

OBJETIVO DO GRUPO É MANTER VIVA
A TRADIÇÃO DO CARIMBÓ

Quanto ao folguedo que o grupo retrata, Nazaré destaca que o objetivo é manter viva a tradição do Carimbó, do Lundum, do Siriá, do Dança do Vaqueiro. Mas o mais conhecido é o Carimbó que é conhecido internacionalmente. “Fazemos uma pesquisa para tentar manter o mais fiel possível as características originais de cada manifestação”, disse.

A região norte, segundo Nazaré tem influência do negro, índio e do europeu, principalmente a portuguesa por causa do bailado, giros, valsas, xote. Essas danças do norte têm muito a influência do europeu, contou.

Paulo diz que existe uma complexa influência e que pode inclusive ter diferença de região para região de como se dança e de como se canta, dentro do próprio estado do Pará.

Ele explica que o Frutos do Pará, especificamente, é um grupo de Carimbó. “A dança teve origem com os indígenas que batiam no tronco para fazer som. Com o passar dos tempos os negros escavaram esses troncos e acrescentaram couro de animais para mudar o som e depois veio a influência europeia que acrescentaram os ritmos que conhecemos hoje”.

MISTURA DE TRADIÇÕES

E continua: “Mesmo na dança, há o “arrastadinho” que vem dos índios, o ritmo mais frenético dos negros africanos e o bailado que é característica de danças europeias”.

Complementando, o diretor fala que uns dos instrumentos que o grupo usa se chama Maracas e é indígena. Usam também um outro instrumento que se chama Xequerê e outro que se chama Caxixi, que são todos instrumentos que se tiram som com pequenas esferas dentro.

“Aí soma-se a isso os instrumentos de percussão, o Curimbó (tronco escavado com couro de animal) que dá o nome do ritmo Carimbó, que é regra de todo grupo que dança esse ritmo, precisa ter esse instrumento, se não tem, ele está fugindo da tradição. Tem também os instrumentos de corda que compõem a musicabilidade do grupo, que vem da tradição europeia, mas tem grupos no Pará que não usam instrumentos de corda, usam reco-reco”, afirma.

APRENDEU A TOCAR BANJO

COM UM MESTRE DA REGIÃO

Paulo considera o ritmo Carimbó folclórico porque ele aprendeu a tocar banjo com um mestre da região, assim como Nazaré aprendeu com alguém que sabia sobre o folguedo e que hoje já passam esses conhecimentos para seus filhos.

O professor também destaca o Lundum, que é uma dança que tem dois tipos de manifestações diferentes. Uma é africana e depois em contato com os caboclos da Ilha de Marajó pegou uma particularidade, mas no estado em geral, dança-se o ritmo africano.

“O ritmo básico é suave, sensual. Segundo Nazaré, houve um tempo que foi proibido pelo Vaticano, porque os escravos dançavam em praças públicas. Mas a dança vem de dentro das Senzalas. O Lundum é uma dança muito sensual e que o casal simula um namoro, encontro, movimentos sensuais nos corpos”.

LUNDUM ERA DANÇA SENSUAL

DE DENTRO DA SENSALA

Paulo destaca que não existe mais grupos folclóricos que dançam mais esse estilo. Isso ficou para trás. os escravos tinham essa dança como forma de conquistar sua parceira. “Como artistas, propagadores da cultura, temos a obrigação de passar isso”, enfatiza.

Ainda sobre as danças, Nazaré explica que cada uma tem uma história e um significado, como o Siriá, que conta a história de um dia que alguém foi para a praia, depois de muito trabalho, tinha muitos siris, estavam num momento muito ruim, a comida estava escassa, aí fizeram uma grande festa.

“Cada uma tem sua história para contar, sua indumentária. É importante deixar para próximas gerações a história de cada povo, de cada canto do país”.

SE NÃO PASSAR ESSE CONHECIMENTO
VAI CAIR NO ESQUECIMENTO

Paulo Oliveira complementa que está preocupado porque existe uma geração de jovens que está muito alienada com essas questões de celulares e tecnologias e acabam perdendo a sensação de pertencimento. É preciso saber o que houve com seu povo. Se não passar esse conhecimento, cairá no esquecimento.

O outro vídeo do grupo trouxe as danças Massariquinho, Siriá, Banguê, performances para retratar a vida dos caboclos que fala da vida deles quando saem nas suas embarcações para vender o seu produto e comprar alguma coisa e às vezes eles correm riscos de vida.

Existem na economia do Pará, segundo Paulo, o comércio, agricultura, mineração, mas o extrativismo é muito forte. Na feira de Ver o Peso se acha de tudo o que se extrai na natureza. Existe o costume de se comer muitas coisas típicas, mas o que mais comem, até nas refeições, misturam em quase tudo é o Açaí.

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