24 de março | 2019

Mãe conta a história da filha de 18 anos que quase morreu por falta de remédio e um possível mau atendimento na UPA

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Uma mãe chocada, magoada, Daiana Aparecida Raimundo de Oliveira (foto à esquerda), contou na última quinta-feira, por telefone, para os ouvintes da rádio Cidade, todo o sofrimento e a amargura vividos nos últimos 10 dias quando sua filha, Maria Eduarda Raimundo de Oliveira (foto à direita), passou mal por falta de medicamentos, foi para a UPA, onde acredita que após muitas “barbeira­gens”, acabou sendo transferida para a UTI – Unidade de Terapia Intensiva da Santa Casa de Barretos, onde ficou oito dias em coma.

Daiana contou que a filha toma duas insulinas, cujo fornecimento teria sido obtido por via judicial, com obrigação de ser fornecida pelo Estado e pelo município. “Acontece é que eles não estão mandando. Então já fazia cinco dias que ela não tomava uma das duas insulinas, isto porque uma eu estava comprando. Foi aí que a diabetes descontrolou muito e começou a minha peregrinação”.

E continuou: “Ela toma as duas insulinas três vezes ao dia. A Lantus e a Citra. A citra eu comprei porque é a mais barata já a Lantus é cara, então não deu para comprar. Ela começou a passar mal no dia 11 por volta do meio dia, quando nós fomos para a UPA. Lá deram a insulina e ela estabilizou. Ficou bem até as duas horas da manhã, consciente, conversando, comeu, estava tudo normal. Ai o médico veio e falou pra mim que pelo resultado dos exames ou ele internava ela na Santa Casa ou mandava embora pra casa.”

Mas isso era só o começo, pois por volta das três e meia da manhã veio outro médico e disse para ela que o quadro havia se agravado, que ela precisava de uma UTI urgente e que, embora o estado dela fosse grave não conseguiam vaga. “Aí disse que iriam ter que entubar ela. Mas o médico disse pra mim que estava de mãos atadas, que era o primeiro dia de serviço dele na UPA e que tudo que ele pedia, todos os exames que precisava nada era feito e que não sabia mais o que fazer”, complementou.

E continuou: “Aí o médico perguntou pra mim se tinha como eu tomar alguma providência. Foi quando chamei a polícia por volta de 03h30. Aí, quando a polícia chegou, falaram que a vaga dela havia surgido e que iria ser trans­ferida para Barretos. Porém disseram que tentaram entubar a minha filha três vezes e não conseguiram, ai fizeram a traqueostomia nela. Mas foi por volta de 05h30 que a ambulância chegou e viemos pra Barretos com minha filha já em coma, com a pressão quase zerada, pois já tinha tido uma parada cardíaca em Olímpia. Quando a gente chegou aqui eles colocaram ela pra fazer os procedimentos, ai minha filha ficou oito dias em coma, entubada, porque quando chegou aqui eles conseguiram entubar ela e tiraram a traqueostomia. Disseram que não poderiam ter feito a tra­queos­tomia na UPA.”

Ela só acordou no dia 19, terça-feira, mas continuou na UTI, já sem risco de morte, mas em estado grave. “A pressão dela está muito alta e tendo muita febre. Eles acham que por eles terem tentado entubar ela por três vezes e depois ter ficado 40 minutos com a traqueia aberta, possa ter pego alguma bactéria. Ela está consciente, mas conversa com muita dificuldade. Em Olímpia eles judiaram muito das cordas vocais dela”, disse.
Sobre o que os médicos de Barretos comentam sobre o caso, Daiana Aparecida Raimundo de Oliveira afirmou que nem eles conseguem entender o que aconteceu em Olímpia. “Quando chegamos não tinha nem guia e a UPA não tinha passado nenhuma informação para o hospital em Barretos. A UPA fez uma “cagada” com ela, foi assim que eles falaram pra mim. A UPA simplesmente correu e jogou ela pra cá porque viu que era sério. Olímpia simplesmente tentou tirar o deles da reta, disseram. Só que em todos os momentos eles falavam pra mim que qualquer coisa que acontecesse com a minha filha a culpa era da UPA. Não sabem, por exemplo, porque não conseguiram entubar ela e nem o que pode ter ocorrido para chegar num ponto deste”, questionou.

Para exemplificar o caso que está enfrentando para a obtenção dos remédios para a filha, ela explicou que dia 20 veio a Olímpia porque a Santa Casa de Barretos pediu pra vir buscar as insulinas para eles irem aplicando para tentar estabilizar o quadro dela. Eu fui à farmácia de Olímpia, onde eu pego as insulinas e eles me mandaram somente uma Citra. Não mandaram a Lantus de novo. Aí a Maria Amélia ligou aqui em Barretos e falou com uma tal de Gabriela, que me deu um frasco da Lantus, assim mesmo porque está sabendo que minha filha está na UTI, e assim mesmo não foi a caneta, porque estas insulinas que minha filha toma são as de caneta, não me deu a caneta porque disse que não tinha, me deu um frasco e mandou eu aplicar com uma seringa na minha filha. Mas só me deu também por conta de tudo que está acontecendo senão não teria dado porque ela disse que está em falta, mesmo com mandado judicial”, destacou.
E con­­tinua: “O pior é que já me disseram aqui que ela não pode ficar sem as insulinas e que eles não vão dar alta para ela enquanto eu não conseguir estas insulinas, porque o que aconteceu com ela foi muito grave, eu não perdi ela por pouco, porque durante oito dias minha filha estava morta. “Tudo isso porque já faz dois meses que não consigo insulina pelo SUS”.
Daiana explicou que a filha tem 18 anos e que desde os sete toma insulina. “E que sempre embora tivesse que conseguir um mandado judicial sempre tinha pego o remédico do governo. Agora, já faz muito tempo que eles estão com palhaçada. Uma hora manda, outra hora não manda. Eu já tenho boletins de ocorrência e agora já faz dois meses que eles não me mandam nada e ai eu estava comprando”.
Sobre o medicamento, continuou: “A Citra custa R$ 23,00 agora a Lantus é cara e tem farmácia que vende por R$ 80,00 outras por mais de R$ 100,00 e eu não consigo comprar porque eu tenho quatro filhos além da  Maria Eduarda e tenho mais três, uma delas é especial e é só eu. Uma caneta ela toma em duas semanas”.
Ela classifica toda esta situação como uma falta de respeito, porque é um direito dela. “Então eu fico indignada. O mandado judicial dela é contra o Estado e o Município, então o Município é obrigado a arcar com isso. Então eu penso que todo o dinheiro gasto com o carnaval dava pra comprar muita insulina. É muita falta de respeito. Olha a situação que minha filha chegou por falta de uma insulina? E tem mais pacientes que estão sem, minha filha não é a única que está sem”.

Quanto ao que deverá fazer, a mãe de Maria Eduarda destaca que vai fazer boletim de ocorrência assim que tiver tempo, pois está ao lado da filha em Barretos. Eu acho que eles deveriam ter um pouco mais de cuidado. Pois veja só, mesmo depois de ter acontecido tudo o que aconteceu a minha filha continua sem a insulina do mesmo jeito. Me deram um refil agora pra eu dar nela agora com a seringa, sabendo que é um medicamento de tomar com uma caneta. Eu acho que eles deveriam tomar uma providência, porque quando eu for embora com ela, eu ainda não sei quando vai ser, eu vou precisar de todas as insulinas pra eu poder levar ela pra casa”, lamenta.

OUTRO LADO

A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Estância Turística de Olímpia esclarece que a paciente M.E.R.O, de 18 anos, deu entrada na unidade em 11 de março, apresentando sintomas de mal estar e taquicardia. No local, foram realizados exames laboratoriais e de ele­trocardiograma. Após os exames, foi constatado que a paciente apresentava descontrole da glice­mia, sendo medicada e recebendo suporte clínico e monitorização. A jovem permaneceu sob cuidados médicos constantes. Durante o período de observação e monitorização, enquanto passava por terapia, a paciente evoluiu com rebaixamento da consciência e uma piora no quadro clínico, sendo necessário procedimento para realizar a respiração mecânica, permanecendo esta em um respirador. A UPA ressalta que solicitou transferência da paciente para a Santa Casa de Barretos e enquanto aguardava disponibilidade de vaga, prestou todos os cuidados médicos necessários à jovem, que permaneceu estável até ser transferida.

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