26 de janeiro | 2020

Morre padre que dedicou quase 60 anos de sua vida a evangelização em Olímpia

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OLIMPIENSES DE LUTO!       Ele foi velado e enterrado na Igreja Matriz de São João Batista, igreja que construiu.


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O Monsenhor Antônio Santcliments Torras concedeu sua última entrevista a esta Folha, no início de março de 2019, quando estava comemorando 90 anos de vida.

Faleceu no último domingo, 19, o Monsenhor Antônio Sant’Climents Torras, de 90 anos, dos quais quase 60 dedicados ao trabalho de evangeliza­ção em Olímpia. Ele foi velado e enterrado na igreja matriz de São João Batista, igreja que construiu.

Na segunda-feira, 20, houve a missa dirigida pelo bispo da diocese de Barretos, Dom Milton Kenan Jr., com a presença de vários padres, freis, seminaristas e religiosos da cidade e da região.

A celebração contou ainda com as presenças de centenas de pessoas que lotaram a igreja de Olímpia.

Seu corpo foi sepultado do lado esquerdo do altar. Como sabemos essa mesma igreja matriz foi idealizada por ele, já que a antiga igreja que havia apresentava problemas na sua estrutura e precisou ser demolida.

Monsenhor Antônio, nasceu no dia 06 de março de 1929 em Serrateix, na Espanha e veio para o Brasil onde tomou posse na Paróquia de Colina em 1958.

O Monsenhor Antônio Santcliments Torras concedeu sua última entrevista a esta Folha, no início de março de 2019, quando estava comemorando 90 anos de vida, sendo 57 destes atuando na evangelização da população.

Responsável direto pela construção da atual Matriz de São João Batista; da Cidade Mirim, no Jardim São José, na zona sul da cidade; e do Abrigo São José, além disso, representou grande parte da história religiosa da Estância Turística de Olímpia.

O Monsenhor contou em março do ano passado, que chegou na cidade em dezembro de 1962; “Eu estava trabalhando em Colina, quando Dom Giovani foi lá e começou a conversar e percebi que ele queria falar alguma coisa diferente. Eu tinha impressão que naquela época ele estava com medo de falar para eu vir para Olímpia. Até que chegou um momento na conversa em que disse que havia estado aqui e que o pessoal gostava de mim. Quando ele falou isso eu falei: você quer que eu vá para Olímpia, se você quiser e se essa é a sua vontade eu vou para Olímpia tranquilo, alegre e feliz, e não precisa ficar preocupado, conheço o outro padre que está lá”.

De acordo com ele, Olímpia naquela época era a segunda cidade da região depois de Barre­tos, maior que Bebedouro e maior que São José do Rio Preto. Em 1964, Olímpia tinha 32 mil habitantes. “Então arrumei a mala e vim para cá e desde o dia seis de dezembro de 1962 eu estou aqui”.

“A primeira coisa que fizemos no ano de 1963 foi programar o trabalho dos dois padres e naquela época tinha aula de religião em todos os colégios. Então falei para o meu colega se eu podia organizar estas aulas de religião em todas as escolas e durante uns cinco anos eu trabalhei com essas coisas”.

“O primeiro presente foi que o grêmio queria ter um jornal e fundaram um jornal e depois eu os convenci de visitar lá no fundo da Vila São José que tinha uma verdadeira favela onde tinha muitas famílias com muitas crianças vivendo com dificuldade, apesar que no tempo do café tinha muito serviço, mas a gente tinha que cuidar das crianças e naquela época não existia creche.

REUNIÕES COM GRUPOS DE JOVENS

Então nós, do grêmio, todos os domingos reuníamos um grupo de jovens e juntos íamos visitar aquelas famílias barraco por barraco, conversando com os pais, brincando com as crianças”.

“O juiz de direito daquela época era o Doutor Braga, junto com o promotor nos procurou porque eles estavam preocupados com o mesmo problema que nós, então começamos a trabalhar juntos; eles participavam das reuniões com os jovens, foi com eles que fundamos a Cidade Mirim. Ai precisei assumir a construção e então a minha vida mudou um pouco, mas continuei trabalhando com eles até que dei o azar que proibiram as aulas de religião nos colégios”

Depois disso começamos a construção da igreja: “eu estava viajando quando a igreja praticamente caiu, uma das professoras que ainda é viva de vez em quando ela me conta a história, ela estava lá, diz que foi um barulhão, mas a partir daquele momento mais ninguém quis entrar para a igreja. Eu tenho as fotografias dos buracos de como estava e foi com arquitetos de São Paulo que decidimos fazer um salão embaixo e depois a igreja seria construída em cima”.

A igreja foi mudada um pouco porque precisava ter algumas rampas para subir e antes não, mas era a única solução porque aterrar este buraco ficaria mais caro do que construir e teria problemas para a vida inteira.

Conta o Monsenhor que depois de inaugurada a cripta, a diretoria queria dar uma parada para ver como estava as contas, mas estava tudo pago. “Eu descobri um escultor de catalão da minha terra então eu fui lá com o desenho pronto para ele, se ele fazia a imagem e ele aceitou e no dia 25, dia de São João, de 1975 inauguramos a igreja, totalmente terminada”.

Logo depois da igreja, Dom Giovani que era o bispo da igreja de Jaboticabal, onde pertencia Olímpia, “queria que eu também construísse a casa paroquial, porque a casa paroquial tinha cada trinco que dava para ver o outro lado de fora”.

“A casa paroquial eu fiz a planta, o projeto e um amigo meu passou a limpo e construí, depois fomos para o Abrigo São José que havia sido fundado, mas precisávamos demolir tudo e fazer tudo novo. Imagina quando eu inaugurei a casa paroquial, eu falei que queria construir um ambiente para os velhinhos pelo menos igual, mas se possível melhor do que eu quero para mim, e construímos o abrigo, logo depois construímos a igreja da Vila São José, Santa Rita, mas o interessante foi o trabalho, a colaboração de toda a comunidade”.

PREOCUPAÇÃO COM A CIDADE

“Olha na realidade eu descrevo com um pouco de preocupação, eu vi e vivi Olímpia no tempo do café, o tempo da fartura, o tempo que todos estavam todos ótimos, depois veio a ambição pelo dinheiro por causa da laranja. Esta foi a origem da desgraça de Olímpia. Os fazendeiros que tinham fazendas de café nenhum hoje tem a fazenda, perderam tudo e até muitas famílias andam sumidas por causa da ambição do dinheiro e por causa disso então entrou a mania de agrotóxicos para não pagar gente para carpir, sabe qual é o resultado disto? De fato o agrotó­xico matou a grama, mas matou a raiz das plantas e matou as semen­tinhas da terra e hoje a terra de Olímpia pode chover a vontade que não enxuga a água, a água apenas lava a terra”.

Mas mesmo com os problemas que enxerga na cidade, o Monsenhor não fala de ir embora. “Pretendo ficar um bom tempo trabalhando por aqui, e muito contente pelo menos porque eu amei fazer a minha parte e isto eu acho importante para cada um, tanto para mim como para todos”.

 
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