10 de junho | 2012

Obstáculos nas calçadas impedem passeios tranquilos de deficientes

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Os obstáculos colocados estrategicamente nas calçadas das lojas se transformam em verdadeiros transtornos impedindo os passeios das pessoas portadoras de deficiência visual. Essa foi a reclamação da dona de casa Lucimar Bom Ber­­tasi, mãe do garoto Luan Perpétuo Bertasi. Ela diz que há dificuldades para o lazer, como um simples passeio pela cidade.

“Não há calçadas em Olímpia. As calçadas são cheias de bagunças (obstáculos relacionados inclusive à exposição de mercadorias das lojas). Você vai passear na cida­de e não tem onde a criança caminhar. É difícil. Um dia desses ele esbarrou em um desses obstáculos em frente a uma loja de 1,99 e fiquei preocupada que a mulher o xingasse”, contou.

“Do contrário, dependendo do local, as pessoas não abrem caminho. Aqui em Olímpia não posso deixar que ele saia sozinho. Ainda quero ver alguém respeitar um pedestre aqui na avenida (Mário Vi­e­ira Marcondes). Ninguém respeita. Essa faixa (de pedestres) é só para dizer que é faixa. O sinal de Pare? Ninguém respeita nada e ninguém não. Não tenho como deixar esse menino andar sozinho”, acrescentou.

Há dificuldades até mesmo pa­ra que o menino vá sozinho à escola, um trajeto de pouco mais de 150 metros. “Não há sinalização específica para ele atravessar a rua para concluir o trajeto”.

Para andar na rua Luan necessita sempre de companhia. “Ele tem a bengala, só que tenho medo de deixar ele solto e acontecer alguma coisa porque, infelizmente, nin­guém respeita um deficiente não”, justifica.

A vida dentro de casa é sempre organizada. “Em casa deixo tudo organizado. Os talheres, por e­xem­plo, ficam sempre no mesmo lugar, tudo do mesmo jeito. Não mudo nada. Ele já cresceu vivendo dessa forma”, relatou.

Da mesma forma age com as roupas. Cada tipo de peça numa gaveta específica, camisetas em u­ma, bermudas em outra, etc. “Ele já sabe onde ficam suas roupas e não mudo esse sistema”, diz.

Por outro lado, ela conta que tem dificuldades financeiras, mas sempre conseguiu superá-las: “O Luan começou a receber benefícios (INSS) recentemente. Nunca tinha recebido nenhum. Mas Deus é maravilhoso e me ajuda demais. Eu já tive ajuda demais da população de Olímpia, principalmente quando ele ficou doente, que fizeram uma campanha para mim”.

Ela não tem como trabalhar por­que além de estudar na Escola Estadual Dr. Wilquem Manoel Ne­ves, desde os cinco anos de idade Luan estuda braile na Escola Estadual Cardeal Leme, em São José do Rio Preto, em uma sala especializada. “Tenho que dedicar meu tempo mais a ele. Agora tenho que pensar no futuro para ele”. Mas recebe ajuda em tudo do ex-marido.

COMPETIÇÕES

Sobre as competições do filho ela comentou: “Ele está fazendo atletismo. Foi para Jales e ganhou duas medalhas. Agora diz que vai saltar também, mas ainda não sei a data da competição. Mas estou orgulhosa dele sim”.

“Ele nunca reclamou de nada, mas depois do projeto melhorou a desenvoltura. Até na escola que ele era mais tímido, a professora de Artes falou que ele começou a se soltar e interagir mais com as outras crianças”, reforça.

Mesmo assim há dificuldades na escola: “Eu vejo o esforço que ele faz na escola porque é difícil para ele. Acho mais difícil o braile para as crianças do que o nosso normal. Mas ele supera. Ele é muito bom em matemática. O negócio dele são os cálculos”.

A família, além da mãe e Luan, tem uma menina de oito anos, vive com uma renda de aproximadamente R$ 800. Agora Luan está trabalhando na sala de informá­tica da escola, no programa Aces­sa Escola, das 13 às 17 horas. “Ele autoriza o acesso ao computador para os outros alunos usarem”, diz. Luan também já trabalha no Pro­Jovem.

LUAN PENSA EM SEGUIR VIDA
ESPORTIVA E SER ENGENHEIRO

Quando fala de seu futuro, o garoto Luan Perpétuo Bertasi (foto), de 16 anos de idade, que cursa a 2.ª série do ensino médio na Escola Estadual Dr. Wilquem Manoel Neves, diz que pretende seguir na vida esportiva e também estudar engenharia civil. Ele é deficiente visual total desde a idade de um ano e dois meses. Atualmente, utiliza próteses de silicone.

Luan ficou totalmente cego quando sofreu uma retinoplas­toma, um tumor maligno da retina que ocorre geralmente em crianças com menos de cinco anos. Ele entrou no projeto através da DOA (Deficientes Olimpienses Associados), a convite do professor de educação física José Paulo Feliciano Olmedo.

“Minha vida é normal. Tenho colegas, não muitos porque não tem jeito de eu sair de casa. Na escola faço as matérias. Faço tudo certinho e acompanho os demais. Consigo acompanhar o ritmo dos demais. Tem algumas matérias que tenho dificuldades, mas consigo superá-las. Eu sou melhor em matemática. O meu negócio é cálculo”, conta.

Já leu muitos livros, mas não se recorda a quantidade. Geralmente são edições enviadas pelo Governo do Estado de São Paulo. “Tem os livros que o governo manda”, diz. Mas não se atém a um assunto apenas. “Gosto de qualquer um”, reforça.

Sobre a competição, Luan contou: “Faço salto em extensão e corrida de 100 metros rasos. No ano passado participei de corrida de 1,5 mil metros. Mas nesse ano, por causa do salto, estou treinando apenas a de 10 metros rasos e salto”.

No ano passado ele venceu uma prova de 100 metros rasos em Jales. Foi o primeiro colocado na faixa de idade dele. “Uma coisa que gosto é o esporte e me ajuda muito”, comentou sua participação em competições participando do projeto.

Mas é quando fala do que pretende para o futuro que se percebe a influência do trabalho realizado pelo professor Paulo Olmedo e da escola. “Quero ver se consigo seguir no esporte, mas precisarei de patrocínios para me ajudar e trabalhar em alguma coisa que envolva a matemática. Quero trabalhar com alguma coisa que utilize cálculos. Gosto muito de engenharia civil”, finaliza.

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