28 de julho | 2013

Prefeito promete e não ajuda grupo folclórico que já está na 3.ª geração

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O prefeito Eugênio José Zuliani prometeu ajuda durante a campanha eleitoral, mas não cumpriu a promessa feita e um grupo folclórico que está na terceira geração corre o risco de desaparecer. Por falta de apoio para a aquisição de roupas novas e até recuperação de instrumentos, o grupo que já se apresentou com 56 componentes, atualmente tem condições de levar apenas cerca de 20 pessoas, mas com a previsão de ser extinto no máximo em dois anos.

Pelo menos é isso que se pode entender da explicação do capitão do grupo Moçambique São Benedito, do Jardim Santa Ifigênia, comerciante Adelís Paula dos Santos, para a afirmação que fez no palco oficial do 49.º Festival Nacional do Folclore, que está sendo realizado no Recinto de Exposições e Praça das Atividades Folclóricas Professor José Sant’anna.

“Eu tinha pedido uma roupa para o prefeito e ele falou que ia me dar. Só que depois que ele ganhou a política não me procurou mais, não falou mais nada. Quer dizer, eu também não vou ficar enchendo o saco do cara lá, por causa de uma roupa. Se vê que num dá mais, paro, porque eu vou fazer o quê. Eu sinto largar mão porque 49 anos não foi fácil de lá até aqui”.

Trata-se de um grupo que já está na 3.ª geração e, contrariamente à finalidade do festival estabelecida por Sant’anna que era a preservação das manifestações autênticas, agora corre o risco de desaparecer.

NECESSIDADE DE REPOSIÇÃO

“Porque nós não temos roupa. Estamos com cinco anos usando a mesma roupa. As roupas vão extraviando, uma pessoa muda (até de cidade) e leva a roupa embora e depois desaparece. Outra perde a roupa. Vai diminuindo a cada ano que passa. Então, esse ano tenho 20 e poucas roupas. Não tenho mais para aumentar mais os integrantes do grupo. Não tem condição”, lamenta Adelis de Paula Santos.

Santos diz que mesmo que tivesse condições financeiras para resolver todos os problemas materiais do grupo, não seria uma situação vantajosa: “Se eu tivesse eu faria, mas não é vantagem para mim. Agora eles deram 2 mil e poucos reais no folclore, mas isso ai eu pago os meninos para desfilar. Dá 50 conto cada um para desfilar”.

No entanto, destacou que não usa a situação com a finalidade de chamar a atenção de ninguém: “só estou explicando que se no dia de amanhã o grupo não tiver condições de apresentar mais é por motivo de roupas. Não é falta de vontade minha porque eu, em 49 anos, sempre estive presente com o meu grupo”.

E acrescenta: “Agora, se chegar o dia de amanhã eu não tiver condições de ir mais, porque eu estou vendo que o ano que vem se eu não ganhar uma roupa de alguém eu não vou ter condições de ir. Esse é o motivo real da redução do grupo e a falta de instrumento que nós precisamos comprar”.

O capitão explica que nada, nem roupa e nem instrumentos, são duradouros: “as coisas vão acabando e precisa comprar pra substituir. Estou com um bumbo muito ruim, precisava comprar outro e não tenho condição. Nós precisávamos fazer uma roupa nova pelo menos para 40 ou 50 pessoas para voltar a pegar mais gente e não tem condição”.

“Queria que o prefeito ajudasse e desse uma roupa para nós. Se ele desse, nós já sossegaríamos a cabeça por mais uns três ou quatro anos. Nós teríamos condições de nos apresentar mais sossegados”, comentou.

Ainda de acordo com ele, um conjunto completo para atender as necessidades do grupo (calça, camisa, lenço, brincos, colares, bumbo, couros e jogo de cordas de viola) custa R$ 10 mil aproximadamente. “Eles deram R$ 25 mil para cada escola de carnaval e não tem condições de dar uma roupa para um grupo de Moçambique”, questionou ao final.

CONVIVÊNCIA COM COORDENAÇÃO

Adelís Paula dos Santos diz que o tratamento recebido da parte da coordenação cultural do festival até pode ser considerada aceitável, mas não o suficiente: “Aquilo que eles prometem eles dão, só que é uma minoria. Dois mil e poucos reais não tem condição de fazer roupas. Não tenho o que me queixar deles, pois o meu problema é roupa mesmo. Se o grupo terminar é por motivo de roupas e instrumentos”.

Porém, reforça o alerta para a extinção do grupo: “O nosso (grupo) ainda tem bastante crianças. Não tem mais por motivo de roupas. Tem muitos jovens querendo ir, mas eu não tenho roupas para dar para eles”.

Questionado sobre o festival cumprir ou não a missão iniciada por Sant’anna, ele declara: “Eu acho que não porque o Sant’anna era assim: ano sim ano não ele dava roupas novas para nós. Quer dizer, agora está tudo diferente. Agora a coordenadora do festival não se preocupa mais com roupas. Dá os 2 mil e poucos reais e não tem mais preocupação com a roupa”.

O capitão conta que participa do festival desde 1963: “Eu fui convidado em 63 para fundar a festa com ele (Sant’anna) em 64. A primeira foi feita na escola Capitão Narciso, debaixo da pai­nei­ra. Foi uma coisa muito bonita e gostoso sermos convidados para participar da primeira festa. Uma coisa que nós não esperávamos, não sabíamos”.

Conta também que no primeiro festival eram apenas cinco grupos: três folias de reis e dois grupos de catira. Era a folia de reis de Adelis, a dos Coelhos do Jardim São José e a do Chico Batist, com o grupo de Catira da Corredeira e o da Cachoeira, que era do Totó e Totózinho. “Era só grupo daqui”.

No primeiro festival Adelís apre­sentou somente com uma folia de reis e também dançava chu­la. Somente depois que passou para o Moçambique: “O Mo­çam­bi­que nós já tínhamos, mas era do meu avô. Meu avô morreu e ficou com o meu pai. Agora ficou comigo”.

O Sant’anna sabia da existência do grupo e fez retomar a atividade. “Aquele tempo era outra coisa O que nós precisávamos nós íamos no Sant’anna e ele dava. Se precisava de uma viola na hora ele arrumava; Se precisava de uma roupa na hora ele arrumava. O Sant’anna nunca encolheu de dar as coisas que nós precisávamos. O Sant’anna adora isso”.

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