01 de novembro | 2006

Revolta faz gerente do Bradesco de Guaraci ficar por sete horas refém de empresário

Compartilhe:

COBRANÇA BRUTA!
Fazendeiro seria credor do banco em ações judiciais. Jovino afirmou que chegou de São Paulo e encontrou a mulher hospitalizada e a filha desempregada.

Fotos: Priscila Forest (Planeta News). 

    A revolta gerada por não conseguir receber valores referentes a três ações judiciais que moveu contra o banco Bradesco S/A, fez com que o advogado e empresário Jovino Vieira Pontes (55) mantivesse o gerente da agência de Guaraci, Edimo Antônio Apolinário (32), como refém durante sete horas. O caso que começou por volta das 7h15 acabou apenas por volta das 14h15.

     Consta que o fazendeiro Jovino Vieira Pontes (55), na foto ao lado, saindo da agência bancária, após resolver se render, tinha pendência financeira com o Bradesco, no total de três ações que, inclusive, já teriam transitado em julgado, também já havia tentado um acordo em São Paulo.

    A situação psicológica de Jovino, segundo ele mesmo contou, teria sido agravada quando chegou da capital por volta da meia-noite da terça (31) e encontrou a esposa hospitalizada e filha Mariliza (23), que trabalhava na mesma agência bancária, desempregada.

    Ainda segundo ele contou à imprensa logo após sua rendição, quando a filha recebeu a informação da demissão do emprego teria sido informada que ela sabia porque a situação estaria ocorrendo.

    Jovino neste caso fez menção que a demissão teria acontecido justamente por causa das ações de cobrança na justiça. Ele justificou que adotou a atitude para chamar a atenção sobre a maneira como os bancos têm tratado os seus clientes.

    Jovino reclamou que os problemas com o Bradesco acabam gerando a extinção de uma empresa que possuía que inclusive, virou motivo de investigação pela Polícia Federal (PF), o que fez espantar todos os seus clientes.

    Os valores informados variam entre R$ 50 e R$ 150 milhões e, que até já haveria um acordo para receber cerca de R$ 60 milhões, inclusive que teria sido formalizado em juízo com o próprio advogado do Bradesco.

    O comandante da 2.ª Companhia da Polícia Militar de Olímpia, tenente Duran, contou que o caso acabou tendo um final feliz e que o gerente apenas teve lesões leves.

    Depois de várias negociações por telefone, Jovino acabou entendendo que estava querendo resolver um problema pessoal através de ameaças ao gerente. Apenas a esposa do gerente acabou passando mal no local.
   
    Depósito vultuoso

    Embora o policial não tenha especificado, confirmou que há um problema de uma pendência judicial relacionada a altos valores e que Jovino queria um depósito vultuoso em conta corrente para saldar essa dívida que o banco teria com ele.

    Por volta das 16h30 Jovino estava sendo autuado em flagrante por crime de extorsão mediante seqüestro e porte ilegal das duas armas, um revólver calibre 38 e outro de calibre 22 que pertenceriam ao seu pai e estavam em situação ilegal.

     Ainda não era sabido onde Jovino permaneceria preso. Se fosse em uma cadeia comum seria em Altair, mas por ter diploma de curso superior – é formado em direito – o comandante da 2.ª Cia acreditava na tarde da última quarta-feira que ele deveria ser levado para a cadeia de Barretos onde há cela especial.

    O gerente foi rendido por Jovino por volta da 7h30 quando chegava para abrir a porta da agência.

    Foi neste momento que o fazendeiro chegou portando as duas armas.

    As negociações foram feitas por telefone com a intermediação do ex-prefeito de Guaraci, Valtercides Monteiro que acabou sendo afastado do caso. A partir daí a situação foi assumida pelo delegado seccional João Ozinski Júnior (foto acima).

     A rendição de Jovino aconteceu por volta das 14h15, cerca de 15 minutos antes de vencer o prazo para que o Grupo de Operações Especiais (GOE) que veio de Barretos, entrasse em ação. Os policiais, inclusive, já haviam iniciado a ação, entrando numa repartição da agência por uma janela (foto ao lado).

    De acordo com o tenente Duran, primeiro o fazendeiro permitiu que o gerente saísse e em seguida deixou a agência bancária, largando as armas no interior da mesma. Jovino pode ser condenado a até 30 anos de prisão.

    Bradesco teria plagiado projeto da empresa de Jovino

    Durante entrevista coletiva que concedeu à imprensa regional já da Delegacia de Polícia de Guaraci, o fazendeiro Jovino Vieira Pontes (55), declarou que o Banco Bradesco teria prejudicado o trabalho de sua empresa e plagiado seus projetos. Ele contou que atuava no mercado de comodities, com propostas de recuperação de matas ciliares.

    De acordo com Jovino, das cinco empresas do setor que existiam no Brasil, teria sobrado apenas a dele e agora seria o Bradesco que estaria atuando sozinho neste mercado através da Bradespar.

    Depois de explicar os motivos da sua atitude, Jovino contou que tem um projeto junto ao banco para recuperação de meio ambiente, de empresa de mercado futuro e que eram cinco no Brasil e sobrou somente a dele.

    “O Bradesco plagiou a minha empresa, através da Bradespar e está arrecadando bilhões. A última arrecadação dele foi de R$ 57 bilhões. E eu tenho um projeto pra recuperação das matas ciliares e das reservas florestais, para equilibrar o eco-sistema que está em degradação violenta e estou sem condições de fazer nada, porque eles não obedecem (a justiça), o meu nome continua no Serasa, não consigo financiamento nenhum, não consigo nada. Vou com eles, eles ficam rindo na minha cara. Vem minha filha, eles … (demitem), para aí, estou defendendo minha filha e minha honra”.

    Antes disso declarou: “Eu tenho três sentenças judiciais para retirar meu nome do Serasa, o banco nunca deu a mínima para isso. Tenho protocolado várias tentativas de acordos administrativos junto a presidente do banco. Até junto ao Banco Central pedindo uma luz para a situação. Ninguém toma providência nenhuma. O pessoa da agência de Araguaína fica zombando e gozando na gente. Venho aqui eles não cumprem nenhuma sentença judicial. Ontem receberam uma determinação para despedir minha filha e não deixaram ela nem sentar na cadeira. Quer dizer, esse País virou brincadeira. Sentença de juiz não vale nada, determinação de banco vale tudo pra prejudicar as pessoas”, afirmou.

     Ele disse que quando chegou a Guaraci, na terça-feira e sua esposa (foto ao lado, ao centro) estava no hospital: “em estado de choque, minha filha chorando. Eu não tenho mais nada. Acabaram com minha vida. Acabaram com todos os meus bens. Tive que desfazer de todos os meus bens para pagar os investidores. Eu tinha mais de mil investidores. Dilapidaram (banco) os meus bens. Acabaram com tudo”.

    Segundo ele, houve falsificação de assinatura: “foi falsificada. O perito da juíza reconheceu 100% a falsidade da assinatura. O advogado do banco em dezembro me chamou e falou: Jovino repita tua proposta que vou mandar o banco fechar com você o acordo”.

    O valor das ações, segundo contou, por ser uma empresa rotativa de capital, que faz giro, seria de R$ 280 milhões. As armas que usou pertenciam aos avós. Demonstrando arrependimento pela atitude que tomou, chegou a comentar que os funcionários de banco são obrigados a cumprir todas as ordens.

    Questionado se teria coragem de matar o gerente do Bradesco respondeu: “pela minha filha, eu vivo pelas minhas filhas. Mas no momento…, agora já passou”. Depois acrescentou: “Eu fui resgatar minha filha”.

    Ele afirmou ainda que sua filha foi vítima de tentativa de seqüestro na cidade de Araguaína onde residiam antes de voltarem a residir em Guaraci.

    PENA

    Alguns advogados consultados na tarde de quarta-feira acreditam que o acusado de extorsão mediante seqüestro, pelas circunstancias do crime poderá ser condenado não a uma pena de 30 anos como anunciado pela polícia, mas, no máximo, a metade, ou seja, 15 anos, pois não teria infringido nenhuma das agravantes previstas no tipo penal.

    Outro lado

    Um representante regional do Bradesco, que esteve durante praticamente o tempo todo em Guaraci, informou à imprensa que não podia conceder entrevista, que isso ficaria a cargo da diretoria em São Paulo.

    Em São Paulo, a assessora de imprensa de nome Leila, consultada no final da tarde de quarta-feira, disse que sobre as acusações de Jovino, o banco não iria se manifestar pois o caso estava sub júdice. E sobre os fatos o banco também não iria se manifestar. A assessora apenas fez questão de frisar que a demissão da filha de Jovino não tido nada a ver com a relação do banco com o pai dela.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas