29 de maio | 2022

Severínia pode ter que escolher entre prestar serviços a população e pagar funcionários

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PARALISAÇÃO DA USINA QUARANI!
População de Severínia está apreensiva pois a economia da cidade gira em torno da indústria.
Tereos paralisou Usina Guarani de Severínia por um ano na quarta-feira e já iniciou processo de demissão em massa.


Com a paralisação nesta safra da planta da Tereos de Severínia, conhecida como Usina Guarani, que deve ir até o começo do ano que vem e se os cálculos feitos por um jornalista de Severínia estiverem certos, dando conta de que a empresa seria responsável por 60% da arrecadação de impostos da cidade, aquele município poderá, no futuro, não ter dinheiro nem para pagar o funcionalismo público.

A premissa se dá levando-se em consideração que, por lei os municípios têm que comprometer menos de 50% de sua arrecadação com pagamento de funcionários.

Dentro desta expectativa, Severínia se arrecada, por exemplo, R$ 10 milhões por mês, passaria a arrecadar R$ 4 milhões e aí a prefeita teria que escolher entre paralisar todos os serviços ou pagar o funcionalismo.

A população da cidade está apreensiva, pois grande parte da economia do município (comércio e prestação de serviços) depende direta e indiretamente da indústria que é uma das pioneiras na produção de açúcar no Estado de São Paulo.

COMUNICADO DA EMPRESA
A Tereos emitiu comunicado explicando que a seca histórica que afetou a safra 21/22 de cana-de-açúcar trouxe desafios para todo o setor sucroenergético, impactando o volume de matéria-prima disponível para processamento. Com base nesse cenário, a fim de otimizar sua produção e sua logística, a Tereos Açúcar & Energia Brasil anuncia a paralisação temporária por um ano das operações da unidade Severínia, no noroeste do estado de São Paulo. 

Segundo o comunicado, a decisão, estratégica para os negócios da companhia, visa otimizar o aproveitamento de cana nas demais unidades e não terá impacto sobre o volume de moagem previsto para a atual safra. “A maior parte dos funcionários de Severínia já foi realocada em outras unidades industriais da Tereos e os demais, cuja recolocação não foi possível, estão recebendo todo o apoio e suporte necessários neste momento de transição”, explica.

A Tereos garantiu no comunicado também que durante o período de suspensão de atividades operacionais da unidade, a Tereos continuará atuando de forma responsável junto à comunidade do munícipio de Severínia, mantendo seu suporte ao desenvolvimento social e econômico da região. As perspectivas da companhia para o ano se mantêm inalteradas e a Tereos segue com seu compromisso de construir um futuro sustentável pautado pela transparência no relacionamento com seus colaboradores, parceiros, fornecedores, clientes e consumidores”.

PREFEITA FOI COMUNICADA
NA TERÇA-FEIRA

“Se parte da população tiver que migrar para outras cidades, bairros inteiros podem ficar com casas praticamente abandonadas e virar um bairro fantasma”, salientou um morador que não quis se identificar.

A prefeita de Severínia Gláucia Camacho, em seu perfil no Facebook, embora tentasse minimizar a situação, foi a primeira a informar o fato publicamente na terça-feira, 24. No outro dia, 24, começou a paralisação efetiva.

 “Acompanhada do vereador Ulysses Terceiro, recebemos no Paço municipal o gerente de Relações Institucionais da Tereos, Sr. Douglas Leonardo Souza, na manhã dessa terça-feira, 24 de maio. Na pauta, o comunicado de que a unidade da Tereos em Severínia, a primeira e mais antiga unidade do Grupo, não estará moendo nessa safra 2022. Recebemos a notícia com espanto e muita tristeza, pois o funcionamento da unidade é a principal mola propulsora para o desenvolvimento da cidade de Severínia”, disse a prefeita.

PREFEITA PEDE PARA
POPULAÇÃO FICAR CALMA

“Gostaria de pedir para nossa população que fique calma nesse momento, pois estamos em tratativas e comunicação com os responsáveis pela Tereos, para que a unidade de Severínia volte a moer em 2023, para que o município não sofra prejuízos inestimáveis no futuro”, garantiu Gláucia.

Apesar disso, a Tereos iniciou a safra 2022/23 com expectativa mais otimista que a temporada anterior, dadas as condições climáticas menos desafiadoras. A expectativa é de processar 17 milhões de toneladas. De acordo com a companhia, o mix de produção deve continuar mais açucareiro, sendo que 65% devem ser destinados para a produção de açúcar e 35% para etanol.

A companhia também começou a temporada com o que classifica como um “bom nível” de fixação de preços para o período, acima do que foi registrado na safra 2021/22, e que pode se manter para 2023/24.

SANTOUL ACREDITA
QUE EMPRESA VAI SE ADAPTAR

“Temos uma perspectiva mais otimista, dadas as condições climáticas menos desafiadoras e preços de commodities em alta no momento. Com flexibilidade para trabalharmos nosso mix de produção, podemos nos adaptar a diferentes cenários”, afirmou o diretor-presidente da Tereos no Brasil, Pierre Santoul, à imprensa regional.

Segundo comunicado da empresa, a previsão é de que a suspensão da operação dure ao menos um ano e os funcionários seriam remanejados para outras unidades. A justificativa é a falta de cana-de-açúcar para processamento.

A unidade de Severínia tem capacidade para moer até 2,5 milhões de toneladas de cana por safra, o que significa aproximadamente 10% da capacidade da Tereos no Estado de São Paulo, 24,8 milhões de toneladas. A unidade ainda poderia produzir diariamente até 300 mil litros de etanol anidro e 500 mil litros de hidratado, além de fabricar até 234 mil toneladas de açúcar por temporada.

EXPECTATIVA DE QUEDA
DE 03 MILHÕES DE TONELADA

As outras unidades do Grupo Tereos estão situadas em Colina, Guaíra, Guaraci, Olímpia, Pitangueiras e Tanabi. Para esta safra, a expectativa do grupo é de moer 17 milhões de toneladas de cana. Na safra anterior, era de cerca de 20 milhões de toneladas.

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação e do Açúcar de Olímpia e Região, 323 funcionários estavam registrados na planta de Severínia. Destes, 50 estão afastados por motivos de aposentadoria e doença. Até o final da tarde desta quarta-feira, 25, as rescisões contratuais, que precisam ser homologadas pelo sindicato, não haviam sido encaminhadas, apesar de a informação sobre a interrupção nas atividades ter sido feita na terça-feira, 24.

NA QUARTA, PELO MENOS 70
JÁ HAVIAM SIDO DESLIGADOS

Informalmente, a estimativa é de que pelo menos 70 funcionários tenham sido desligados nos últimos dias. “Esta é a primeira vez que a usina para. Tirou o chão do nosso pé”, afirmou o presidente do Sindicato, João Roberto Stringhini.

De acordo com a empresa, “a maior parte dos funcionários de Severínia já foi realocada em outras unidades industriais da Tereos e os demais, cuja recolocação não foi possível, estão recebendo todo o apoio e suporte necessários neste momento de transição”. Os funcionários foram destacados para as unidades Cruz Alta, Vertente e São José, nas cidades de Olímpia, Guaraci e Colina, respectivamente.

Segundo Stringhini, o grupo Tereos ofereceu como parte do acordo o fornecimento de cesta básica por seis meses aos colaboradores, manutenção do plano de saúde desde que o funcionário pague a contrapartida, e o pagamento de “gratificação” em forma de salários escalonados, conforme o tempo de serviço.

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