04 de maio | 2008

Thermas sem atuação do município não consegue solidificar o turismo

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José Antônio Arantes

A Folha da Região coloca aos seus leitores, nesta edição, uma discussão que deve permear o pensamento de todos aqueles que se preocupam não só com o próprio bolso, mas com a solidificação da economia municipal, como forma de se conquistar a própria estabilidade econômica e social: qual a influência do parque aquático Thermas dos Laranjais no desenvolvimento da cidade?

Uma enquete foi colocada no site do jornal em www.ifolha.temmais.com, em 18 de janeiro último, inquirindo aos internautas sobre qual o percentual de influência do Thermas na economia local. Outra, em termos parecidos, foi realizada entre pessoas residentes no município e ambas seguem estampadas nesta edição.

No entanto, para entender melhor o complexo problema, será preciso voltar ao passado recente, coisa de 20 a 30 anos atrás. Um pouco mais, só para constar, se chega aos tempos em que o município de Olímpia chegava até as barrancas do Rio Grande e tinha o 6.º maior PIB – Produto Interno Bruto do Estado.

Existiam várias indústrias beneficiadoras de arroz e de café, de fabricação de macarrão, de produção de refrigerantes, de laticínios e, com menos de 30 mil habitantes, a pobreza praticamente não existia.

O forte, no entanto, era a agricultura, com a proeminência do café que, justamente nesta época teve a sua maior derrocada, interrompendo o chamado ciclo do café no Estado de São Paulo.

Olímpia começou, então, a era da laranja. Bastou alguns plantarem e começarem a ganhar dinheiro para ter início a correria. Em pouco tempo o município já tinha 60% de sua área plantada com esta fruta cítrica.

Pouco antes do findar do milênio, no entanto, o ciclo da laranja começou a ruir e a cana começou a chegar mansamente e a se instalar progressivamente. Hoje, já chega a dominar praticamente a mesma área que era utilizada pela citricultura.

LARANJA DISTRIBUÍA RENDA. CANA CONCENTRA.

A laranja, embora tivesse um fator de distribuição de renda inferior ao do café, com suas mais de 700 pequenas e médias propriedades rurais, conseguia manter uma distribuição de renda parecida e que fez Olímpia ser chamada de "A Flórida Brasileira".

No entanto, com o sucesso da laranja e a implantação de usinas de processamento aqui e na região, começaram a surgir os nossos migrantes, vindos de várias regiões do Brasil em busca de um lugar melhor para se viver.

A laranja gerava dividendos, não só para o produtor e trabalhador, mas, também para os outros envolvidos na cadeia produtiva. O dinheiro, em sua maior parte, acabava sendo gasto no município e movimentava um comércio embora menor do que o de hoje, muito mais pujante.

Com o declínio da citricultura e o domínio da cana, a agricultura teve a sua influência na economia bastante diminuída.

Quando a terra não é da usina, é arrendada e o produtor acaba sendo mero investidor que vive do arrendamento e esperando o final do contrato para poder renová-lo e continuar sem produzir.

O trabalho no campo não é de costume do trabalhador paulista e, com isso, a migração de regiões pobres do país foi acelerada. Viramos uma cidade com predominância de migrantes de Minas e estados da região norte do país.

MIGRAÇÃO COMEÇOU COM A LARANJA

Chegam aqui para cortar a cana e, ao constatarem que a situação local, por pior que seja, é melhor do que a de onde residiam, acabam trazendo toda a família e ficando por aqui.

Se a laranja gerava dividendos para um grande número de participantes, a cana, ao contrário, gera algumas centenas de empregos diretos para um operariado sem qualificação (a maioria dos que exigem especialização são arrebanhados em Rio Preto) e, para os migrantes que chegam todos os anos e os que aqui se fixaram.

De resto gera vários milhões de impostos, fazendo com que Olímpia tenha uma arrecadação de aproximadamente R$ 5 milhões ao mês, o que daria para construir uma cidade dos sonhos.

No entanto, na medida em que este dinheiro não é bem aplicado, extirpa-se o mais importante dos poucos benefícios que são gerados pela cana, cujo grosso dos dividendos são deslocados para outras plagas, não fica aqui, não é gasto no comércio.

THERMAS SURGIU COMO OPORTUNIDADE
ECONÔMICA DE OLÍMPIA SE FIRMAR COMO CIDADE TURÍSTICA

Nos últimos 10 anos, no entanto, Olímpia passou a ter a possibilidade de se inserir na seara do turismo. O Clube Dr. Antônio Augusto Reis Neves – Thermas dos Laranjais – passou a ser o Parque Aquático Thermas dos Laranjais e a atrair visitantes de todas as regiões do país.

Era preciso, neste tempo, além de manter a cidade limpa e transitável, ir preparando um grande projeto de turismo para ser levado a efeito, criando, além da estrutura hoteleira, outros atrativos que trouxessem o visitante para a cidade.

A única região propícia para a implantação de outros empreendimentos, aproveitando o sucesso de público em que se transformou o Thermas dos Laranjais, seria a que vai do próprio clube até a rodovia, onde ainda existem minas de água e até pequenas matas que poderiam ser aproveitadas para o chamado turismo ecológico.

Necessário, portanto, que já estivesse sido realizado o prolongamento da avenida Aurora Forti Neves até a rodovia e que se tivesse tentado atrair outros empreendimentos parecidos com o Thermas e até do tipo Beto Carreiro World, ou seja lá o que for, para que outras atrações começassem a ser formadas, para não ficar o turismo local totalmente dependente do próprio Thermas.

Acontece que nada disso aconteceu. A cidade não se adequou ao turismo, não deu bola para o sucesso do Thermas. Nenhum projeto foi elaborado, muito menos levado a efeito, para garantir a tão sonhada solidificação do turismo. Ao contrário, o que se viu, foram vários anos de abandono, com as ruas da cidade esburacadas e sujas, que, ao invés de fixar o turista, acabavam espantando-os para Rio Preto.

Neste ínterim, o problema social foi se agravando com a fixação aqui dos migrantes e a constante evasão dos descendentes dos antigos moradores que saíam para estudar e acabavam se fixando em outras regiões, por absoluta falta de oportunidade local.

A Saúde se transformou num caos. Além de todo o abandono, doenças como, a dengue, chegaram a ser fortes concorrentes do parque aquático na atração de visitantes.

THERMAS SE ADEQUOU AOS SEUS VISITANTES
E É UMA CIDADE DENTRO DE OUTRA QUE ESTÁ DORMINDO

O Thermas, por sua vez, foi se adequando à situação de abandono do município onde não poderia intervir e criando equipamentos para fornecer ao visitante, embora a preço de ouro, toda a estrutura que a cidade não poderia oferecer. Transformou-se numa cidade, dentro da própria cidade. Hoje tem de tudo. De roupas de banho a restaurante de qualidade.

Concomitantemente, a rede hoteleira foi crescendo, casas foram sendo preparadas para serem alugadas para os visitantes do Thermas e levando o setor de construção a alcançar algum sucesso. Mas só.

Tirando o setor hoteleiro e de aluguel de imóveis, que, de uma forma ou de outra, acaba ficando atrelado à diretoria do Thermas, nada mais acontece que possa gerar o desenvolvimento do município.

O comércio não foi preparado para receber turistas e não consegue participar das benesses do turismo (com pequenas exceções). Quem vem no Thermas, fica dentro do próprio Thermas durante todo o dia e à noite, geralmente, vai para Rio Preto passear.

Nada foi feito, estruturalmente, para abrigar, atrair, ou mesmo fixar este turista na cidade nos dias que passa por aqui.

SE NÃO SE ESTRUTURAR VAI CONTINUAR SENDO UMA CIDADE
POBRE E INCOMPATÍVEL COM O PARQUE AQUÁTICO QUE POSSUI

Enfim, Olímpia não existe. O que existe é o Thermas dos Laranjais. E, se nada for feito em termos de administração pública, visando adequar a cidade ao turismo e criar novas atrações para dar ao turista outras opções que não o próprio Thermas, o município vai continuar totalmente dependente de uma agricultura que hoje não gera nem a metade dos dividendos distribuídos diretamente à cidade como acontecia com o café e a laranja.

O Thermas também pode deixar de ser o atrativo que é, se não continuar sua proposta de desenvolvimento, renovação e de implantação constante de novas atrações. E o pior é que tudo foi criado e levado a efeito de forma individualista por seu criador e eterno presidente, o empresário Benito Benatti, que, como o criador do Festival do Folclore, professor José Sant’anna, é personalista e pode não deixar sucessores que consigam levar seu sonho adiante.

Que o Thermas é um sucesso de público, ninguém duvida. Agora, o que tem que ser avaliado é o quanto o Thermas distribui seus dividendos para a sociedade local e por quanto tempo continuará gerando benefícios se a administração municipal não entender que a solidificação do turismo não ocorrerá somente com o parque aquático local. É preciso muito mais.

BOSTÓDROMO SAI

E o pior é que o único local que poderia ser transformado em um "Vale do Turismo", justamente por ser a região da cidade que ainda não foi fechada por conjuntos habitacionais e por ter os poços de água quente, que poderiam atrair novos investimentos na área, está para ser tomado por três lagoas quilométricas de tratamento de esgoto, por birra, teimosia ou, ao que parece, consciência do grupo que está no poder de que o desenvolvimento não interessa a quem se elege através de currais eleitorais assistencialistas.

Esta semana, o secretário de Obras foi para o rádio e anunciou que até o final do ano uma das lagoas estará pronta, pasmem os senhores, dentro do sonhado "Vale do Turismo" e a pouco mais de 500 metros do Thermas dos Laranjais.

Pode estar sendo decretado ai o fim do sonho do turismo, em razão da destruição da única área que poderia ser aproveitada para tal e, também, pela depreciação do próprio Thermas dos Laranjais, que estará próximo de três lagoas com mais de um quilômetro de diâmetro, concentrando todos os dejetos gerados por quase 50 mil habitantes e mais os milhares de turistas que freqüentam o parque aquático.

Será que, realmente, cada povo tem o governo que merece?

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