08 de agosto | 2021

A Educação Híbrida de Dois Gumes

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Com o tempo, os termos foram se apropriando e de maneira massiva,
por isso superficial, encontrou-se uma solução mágica: O Ensino Híbrido.

Rafael dos Santos Borges
A Pandemia iluminou a importância da educação escolar para as comunidades e as disputas que existem sobre o currículo escolar, em especial sobre a apropriação das tec­nologias pelas escolas. Desde o MEC, passando pelas Secretarias Estaduais e Municipais da Educação, pelos ges­tores escolares até chegar no professor que deve realizar a edu­cação escolar, evocou-se a tecnologia como uma solução viável. Com o tempo, os termos foram se apropriando e de maneira massiva, por isso superficial, encontrou-se uma solução mágica: O Ensino Híbrido.

O ensino híbrido no melhor conceito desata os nós sobre a necessidade da personificação do aprendizado com apoio das tecnologias informa­cio­nais e isso é feito com bastante sucesso nas escolas públicas de ensino fundamental, com o estabelecimento de sondagens e sequências didáticas que inclua os estudantes dentro da aquisição de conhecimento que já teve, até para o que deve adquirir.

Com as melhores tecnologias os professores engajam os alunos e envolvem as famílias, além disso, com a destreza no uso da tecnologia, os alunos escrevem e produzem mídias digitais.

Os professores organizados conseguem contemplar a tecnologia informacional, mas aqui é que vale uma grande ressalva, a melhor é a acessível.

As escolas municipais usaram até agora uma estratégia científica por excelência, partiram do reconhecimento dos recursos que tinham e utilizaram os melhores recursos, que são os melhores por serem disponíveis, WhatsApp, Facebook, Youtube (aplicativos que há familiaridade na comunidade atendida), disponibilizaram sequências didáticas impressas, além das apostilas, que são retiradas pelos familiares, as crianças realizam as atividades com assistência de um adulto e assistido remotamente pelos professores.

O ensino híbrido no pior do conceito engana para vender a tecnologia. As plataformas que se tornaram educacionais, Teams, Google For Edu­cation, Discord, Learn Wise são potências ainda por realizar, pois nem nós professores, tampouco as famílias e até mesmo as empresas que desenvolvem essas tecno­logias as dominam completamente, contudo, isso não é um problema.

O problema está no risco do improviso. Primeiro, nem todos tem in­fra­estrutura para suportar tais tecnologias (computadores, internet robustos nas casas e nas escolas) e segundo, o uso reacionário de algo revolucionário, como por exemplo, os professores darem aula para uma câmera da mesma forma que daria aula para os alunos presen­cial­men­te, ou ainda pior, gravar a aula que está sendo dada presencialmente, matando assim a definição do ensino híbrido, que é a personificação do aprendizado e a tecnologia como instrumento.

A gravação da aula deve ser feita, isso é ótimo, mas o foco do uso da tecnologia não é a transmissão, mas a construção, as tarefas, as pesquisas, a confecção de mídias tecno­ló­gicas e textos escritos pelos estudantes, coletivamente, ou, individualmente. É aquilo que o estudante faz com a tecnologia, não a tecnologia em si que torna o ensino híbrido revolucionário.

Um exemplo, para não nos alongarmos: Desde 2012 o projeto Lobo­Ga­mes de jogos matemáticos do curso de In­formática da Ufrgs, usa a tec­nologia apenas para difundir o conhecimento, os jogos em si são feitos com qualquer material disponível, desde pedra e madeira, giz e chão, até softwares de programação, se assim os quiserem.

Por fim, as aulas no ensino híbrido, através das ferramentas como o Teams, o Meet, o Discord, entre outras, são momentos de esclarecimento, reuniões de orientação, instruções e comandos, duram menos de uma aula relógio, até porque estar atento a tela por mais que 50 minutos de aula é maçante e pouco instrucional. A aula expositiva não é o clímax, ela está inserida em toda a rota­tividade do aprendizado. O uso da tecnologia da computação e informação na educação deve servir ao fazer do aluno e não no olhar de Big-brother sobre os professores.

Rafael dos Santos Borges. Doutor em Educação: Currículo, na linha de Pesquisa Novas Tecnologias em Educação da PUC-SP, professor da Fatec Rio Preto, Eduvale, Objetivo Olímpia.

 

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