09 de setembro | 2018

Bolsonaro e o Brasil em tempos da cólera

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Do Conselho Editorial

O incidente que atingiu o candidato a presidente da república, Jair Bolso­naro, quando em campanha em Minas Gerais, poderia ser configurado, nestes tempos de minimiza­ções de grandes tragédias, como apenas mais um episódio dos muitos que hão de vir após o início da grande onda de violência que se abate sobre o país.

É grave, muito grave, o ocorrido e merece investigação profunda tanto quanto tantos outros incidentes levados a efeito desde o início das discussões acerca de quem se aventuraria nas próximas eleições.

Há um clima de polarização gigantesco no país que se inicia lá atrás quando da derrota do candidato do PSDB, que inconfor­mado tornou o país em algo sem condição alguma de ser administrado por quem quer que seja.

O congresso praticamente inviabilizou qualquer possibilidade de votar o que quer que seja no sentido de que a governante de então pudesse ter condições mínimas de gover­nabilidade.

Por fim, a título de pedaladas fiscais, que praticadas por inúmeros gover­nantes nunca foram punidas, impediram a gover­nante de dar continuidade no seu mandato e tão logo o vice assumiu tratou de tornar legal as tais pedaladas havidas até então como crime grave punível com impeachment.

O Supremo, na figura de seu presidente, comandou este espetáculo e endossou tudo que ocorreu e até hoje está sentado em cima do processo que deverá, algum dia, discutir se foi legitimo ou não o impeachment.

Logo após, como se pode, hoje perfeitamente perceber, o objetivo era tirar do poder o Partido dos Trabalhadores e não permitir que voltasse ao poder e a estratégia que se seguiu foi a prisão do ex-presidente com uma rapidez que nunca se viu antes em processo algum.

No entanto, para aborrecimento dos que orquestraram o golpe, a liderança do ex-presidente tornou-o peça chave com chances de definir da prisão o resultado das próximas eleições.

Em razão de todas estas questões aqui elencadas, e outras que não serão mencionadas por falta de espaço, a medida que as intenções de voto no ex-presidente e no seu partido foram se ampliando, também houve acréscimo no discurso de ódio contra as hostes petistas.

Não tem como negar que as candidaturas do PT foram, ao longo dos anos, alvo de muitas armações escandalosas desde a vestimenta de camisetas do PT em sequestradores de empresário, pelo que se suspeita, por membros da própria polícia, até a cena surreal da bolinha de papel que atingiu um adversário opositor que foi veiculada na mídia como ato terrorista com direito até a exame de corpo de delito e laudo criminalístico.

De outro lado, o acampamento em Curitiba já foi alvo de vários ataques, o ônibus que conduzia Lula foi alvo de tiros e no Rio de Janeiro foi assassinada uma vereadora de oposição entre outros incidentes trágicos.

Se desejar saber a opinião de Jair Bolsonaro ou desejar saber sobre sua opinião sobre a violência cometida contra os que pensam diferente de si, basta uma busca na inter­net que será suficiente para corar os que gostariam de uma nação civilizada.

Da mesma maneira, se for a internet, concluirá o cidadão de bem, que nenhuma critica dirigida a Bolsonaro, por mais suave que possa parecer, será recepcionada por seus seguidores com compreensão de que os atores políticos e sociais estão sujeitos a elas.

Esta semana, o humorista Marcelo Adnet, que fez uma série de imitações com todos os candidatos a presidente, revelou em reportagem: “Nunca vi reações tão violentas na minha vida”, disse Marcelo Adnet sobre repercussão da imitação de Bolsonaro”

Milhares de exemplos poderiam ser pinçados para exemplificar o discurso colérico de Bolsonaro e de maioria de seus seguidores, isto, porém, embora seja um recorte de desrespeito a linha que separa a civilização da barbárie, não justifica de forma alguma um atentado contra a sua figura.

No entanto, é mais do que necessário avaliar que as circunstâncias e o momento de polarização pedem mais suavidade e menos agressividade e não é exatamente esta a proposta que o candidato estimula.

Atribuir precipitadamente o que ocorreu aos seus opositores é tão irresponsável quanto imaginar que a violência foi gestada pelas provocações e declarações públicas do candidato que parecem muito mais provocação a um estado de guerra civil que um pleito de paz e de harmonia no seio da nação brasileira.

Pode ter sido a reação isolada de alguém que po­de ter se sentido ofendido com os exageros do candidato, alguém que desejava holofote, alguém com problemas de ordem psiquiátrica, algum fanático religioso, ou mesmo uma repetição da bolinha de papel.

Seja lá o que for, o que é necessário e imprescindível nesta hora é não minimizar, como mini­mizou Bolsonaro em várias ocasiões, tragédias ocorridas com aqueles que ele diverge.

A hora não é de postar como o candidato que desejou a morte de Dilma e de FHC ironizou sobre a tortura e afirmou que teriam que ter matado muito mais no pior período que este país viveu.

A hora é de mostrar valores muitas vezes mais altos do que aquele que ele apregoa, sentimentos de humanidade e de preservação da nossa espécie com todas as diferenças que ele possa ter e tem.

A hora é de pedir investigação profunda e séria sobre os fatos além da presença das nossas instituições para que se contenha o discurso de preconceito e ódio que vem tomando conta das campanhas eleitorais e que deu a primeira mostra exatamente sobre o candidato que mais estimula a violência.

A hora é de se impor o reinado das leis civilizatórias e não da imposição dos discursos de intolerância e de eliminação dos adversários.

 

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