06 de abril | 2025
Aeroporto internacional: um voo ao futuro de Olímpia
Perspectivas promissoras e o papel essencial de todos para evitar que a obra se transforme em um fardo para a cidade.
José Antônio Arantes – A notícia da implantação de um aeroporto internacional em Olímpia – oficialmente chamado de Aeroporto Internacional do Norte Paulista – marca um divisor de águas na história da cidade. O projeto, orçado inicialmente em mais de R$ 100 milhões com recursos do Governo Federal, representa uma das maiores obras públicas no interior paulista na atualidade. E não se trata apenas de uma pista de pouso e decolagem ou de um novo terminal de passageiros: trata-se da abertura de uma nova era para Olímpia, com a possibilidade de alçar voos mais altos não só no turismo, mas em todos os setores da economia e da sociedade.
Não há dúvidas de que o aeroporto pode ser um marco positivo para a cidade. Com uma localização estratégica, entre grandes centros como São José do Rio Preto, Barretos e Catanduva, e com uma vocação turística já consolidada – atraindo entre 3 e 4 milhões de visitantes por ano –, Olímpia parece reunir as condições ideais para se beneficiar desse tipo de investimento em infraestrutura.
POTENCIAL PARA TRANSFORMAÇÃO ECONÔMICA
O turismo será, sem dúvida, o primeiro e mais direto beneficiado. A existência de um aeroporto com capacidade para receber voos nacionais e internacionais tende a multiplicar o número de visitantes, atrair turistas de regiões antes pouco alcançadas pela distância ou dificuldade de transporte, e consolidar Olímpia no mapa do turismo internacional. Os parques temáticos, hotéis, resorts e demais atrativos devem experimentar um boom sem precedentes, com aumento significativo na ocupação e na receita.
Além do turismo, o aeroporto abrirá portas para a diversificação da economia. Empreendimentos logísticos, centros de distribuição, novos polos comerciais e até mesmo industriais podem surgir na esteira dessa conectividade ampliada. Olímpia deixará de ser vista apenas como uma estância turística e passará a ocupar espaço como um centro regional estratégico, aumentando sua importância política, econômica e administrativa.
PLANEJAMENTO E GESTÃO PÚBLICA SÃO FUNDAMENTAIS
Mas é preciso reconhecer: o futuro não está dado. Ele será construído pelas escolhas feitas a partir de agora – e, sobretudo, pelas responsabilidades que os principais atores da cidade assumirem diante da oportunidade. Se há muitas promessas no horizonte, há também riscos concretos que precisam ser enfrentados com coragem, planejamento e visão de longo prazo.
A implantação de um aeroporto desse porte exige muito mais do que obras de engenharia. Exige, acima de tudo, capacidade de gestão pública. Caberá às autoridades municipais, estaduais e federais planejarem de forma integrada a expansão urbana, o ordenamento do uso do solo, a melhoria da infraestrutura básica (como água, esgoto, coleta de lixo, energia, mobilidade urbana) e a promoção de políticas habitacionais que evitem o surgimento de favelas ou loteamentos clandestinos.
LIÇÕES DE OUTRAS CIDADES DEVEM SER CONSIDERADAS
O exemplo de Guarulhos, onde o crescimento desordenado no entorno do aeroporto internacional resultou em ocupações irregulares, poluição e sérios problemas urbanos, deve servir de alerta. Olímpia precisa evitar esse caminho. A cidade, que hoje tem cerca de 55 mil habitantes, poderá ver sua população crescer de forma acelerada nas próximas décadas. É preciso se preparar para isso desde já, garantindo que o crescimento não venha às custas da qualidade de vida.
Outro ponto sensível é a questão ambiental. A construção de um aeroporto e o aumento da circulação de pessoas e veículos podem afetar negativamente o meio ambiente, com poluição sonora, atmosférica e a supressão de áreas verdes. Esses impactos precisam ser cuidadosamente monitorados e mitigados. A cidade tem a chance de fazer diferente: implantar um aeroporto sustentável, com práticas modernas de gestão ambiental, energia limpa e reuso de recursos. Para isso, é preciso fiscalização e vontade política.
EMPRESÁRIOS TAMBÉM TÊM PAPEL DECISIVO
O empresariado também terá um papel determinante. Investidores, empreendedores do setor hoteleiro, imobiliário e comercial devem assumir uma postura responsável. O lucro não pode estar acima do bem coletivo. Será necessário respeitar as normas urbanísticas, evitar a especulação desenfreada e contribuir com projetos que promovam a inclusão e o desenvolvimento social, não apenas o crescimento econômico.
A população, por sua vez, precisa se ver como parte ativa desse processo. A comunidade deve acompanhar as decisões, fiscalizar os gestores, cobrar transparência e participar dos debates públicos. É a cidade que está em jogo. O crescimento econômico só será positivo se vier acompanhado de inclusão, igualdade de oportunidades, respeito ao meio ambiente e fortalecimento da identidade local. Olímpia não pode se tornar uma cidade turística de fachada, onde os benefícios ficam restritos a poucos e os problemas recaem sobre muitos.
A HORA DE AGIR É AGORA
O aeroporto será, sim, uma alavanca. Mas o sentido e a direção dessa alavancagem dependerão das escolhas que fizermos. A história mostra que grandes obras de infraestrutura podem tanto enriquecer quanto empobrecer uma cidade – tudo depende da forma como são conduzidas. É por isso que, mais do que celebrar o investimento, é hora de planejar com responsabilidade.
A oportunidade está dada. Que os governantes tenham sabedoria. Que os empresários tenham consciência. E que a população exerça sua cidadania. Se cada um cumprir seu papel, Olímpia poderá escrever um dos mais belos capítulos de sua história: o capítulo em que soube crescer com equilíbrio, justiça e dignidade. Porque progresso verdadeiro não é só o que se vê nas pistas de pouso, mas o que se constrói no dia a dia de quem vive a cidade.
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