16 de setembro | 2012

Até Pinóquio perde

Compartilhe:

Willian Zanolli.

"Jamais diga uma mentira que não possa provar."
Millor Fernandes.

 

O cara ser ladrão, salafrário, desajustado, promíscuo, todas as ausências de qualificação possíveis e imagináveis, não tem como a gente discordar, ou concordar, é a alma do indivíduo, nasceu pra safadeza e ponto. É o famoso um sete um, o embromation, o levador de vantagens, tipinho muito comum nesta nação ainda em processo civilizatório.

Isto tudo, por ter, enquanto nação, na alma dos fundadores, muitos deles degredados, que significa expulso, réprobo, a índole bandoleira, saqueadora, salteadora, bandida, está no gene.

Sim, os navios foram lotados de bandidos das prisões portuguesas, que a título de castigo foram soltos na imensidão das selvas de um país que depois se chamou Brasil.

A eles vieram se juntar a outros saqueadores que foram historicamente brindados com o belo nome de bandeirantes.

Por isto é compreensível que os pilantras sejam louvados até hoje neste país, é incompreensível que grande parte de nossas riquezas públicas se afunde nas atitudes corruptas. Porém, está incorporada ao consciente coletivo a idéia de que estas más ações são coisas comuns.

Aprendemos a conviver com o erro, e por isto, por mais que um quixotesco, um romântico se indigne diante da ausência pública por conta dos desvios, não tem como este sonhador desconhecer esta realidade tão presente no país das malandragens, infelizmente não há.

Esta a razão por que passa a ser compreensível para todos estas atitudes que deveriam ser combatidas e foram incorporadas, virou hábito, rotina e faz parte da acomodação do brasileiro.

Explicado isto vai a parte dois, ser levador de vantagem, bandido, corrupto e outras mumunhas, pode até dar status, te colocar nas colunas sociais, e frequentemente no poder, já… mentir.

Não há nada que justifique, nada que faça o juízo perfeito deste idiotinha crer na possibilidade da necessidade da mentira.

Só em caso extremo, roubo, assassinato, sim, outra coisa que foi incorporada ao cotidiano desta nação à negação do crime cometido enquanto forma de defesa.

Acho que cai em contradição, se no caso de roubo pode mentir, o personagem que eu ia chamar de Pinóquio, está enquadrado no conceito, e possivelmente nos dois, no roubo e no assassinato.

Se bem que neste quesito, da mentira, até Pinóquio perde para o caboclo.

Só não vou explicitar a tese de forma mais aprofundada, de maneira mais conceitual, para não chegar no individuo, senão aquela moça da balança com vendas nos olhos me belisca.

A Dona Justa faz justiça com quem não deve e esquece os que devem ser justiçados, até protege através de inúmeros subterfúgios que vão arrastando decisões até que elas sejam esquecidas e arquivadas.

Já, nós outros, relou triscou, é cadeia, indenização, para não trombar, vou estacionar na síntese.

Sai do texto, então… tenho ouvido umas mentiras tão cabulosas e cabeludas que se eu pudesse daria o Prêmio Pinóquio para um descarado que está exagerando na dose.

Vá mentir assim lá em casa, uma mentirinha que não compromete ninguém a gente ainda finge que não houve, um montão, uma atrás da outra, é muita cara de aço do cabulosão.

Decidi que este cara não vai nunca pescar comigo, nele a mentira é muitas vezes tão involuntária como a respiração, é tão mentiroso que o peixe que ele pensa que pega não vai caber nunca nem na foto, nem no freezer.

Menos, moço, senão daqui a pouco você vai acabar acreditando que é verdade, e que a mentira é sempre um poço profundo onde o mentiroso por descuido se afoga.

Depois desta tirada filosófica que eu entendo que tenha enriquecido o texto, se eu continuar, posso não ser mais tão feliz e entediar meus dois ou três leitores.

Por isto paro por aqui, não sem repetir uma frase de efeito para dar o fecho final… Não suporto falsidade e mentira, a verdade pode machucar, mas é sempre mais digna.

 

Willian Zanolli é artista plástico e jornalista, não mente, principalmente quando está dormindo.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas